ONGs denunciam que Boko Haram comete 'crimes contra a humanidade' na Nigéria
Os islamitas do Boko Haram
cometeram durante sua ofensiva mais sangrenta em 6 anos de insurreição no
nordeste da Nigéria crimes de guerra e crimes contra a humanidade, denunciou
nesta quinta-feira a Anistia Internacional (AI).
A AI e a Human Rights Watch (HRW)
publicaram diferentes imagens de satélite para mostrar a destruição em massa
das duas principais localidades atacadas, Baga e Doron Baga, situadas na costa
do lago Chade, no norte do estado de Borno (nordeste da Nigéria).
"Os assassinatos deliberados
de civis e a destruição de seus bens constituem crimes contra a humanidade e
exigem uma investigação", declarou a AI.
"O recente massacre é um
crime contra a Humanidade. É um massacre enorme e horrendo de pessoas
inocentes", concordou o secretário de Estado americano, John Kerry, em
declarações em Sofia.
Segundo a AI, centenas de pessoas
teriam morrido em um ataque de vários dias iniciado em 3 de janeiro, que
teme-se que tenha sido o pior massacre realizado pelo grupo desde que ele pegou
em armas, em 2009, para instaurar um regime fundamentalista islâmico no
nordeste da Nigéria.
O exército nigeriano, que costuma
minimizar os balanços de mortos, disse nesta semana que 150 pessoas morreram, e
considerou sensacionalista a afirmação de algumas fontes de que até 2.000
pessoas foram assassinadas.
No entanto, um homem que fugiu de
Baga depois de permanecer três dias escondido disse que ficou caminhando em
meio a cadáveres durante cinco quilômetros em sua fuga.
Já a HRW considera que não é
possível fornecer um balanço preciso no momento, já que "ninguém ficou
para contar os mortos", acrescentou, citando um dos habitantes que escapou
do massacre.
As fotografias aéreas da Anistia,
tiradas com cinco dias de diferença entre as primeiras e as últimas, mostram
muitas casas e lojas destruídas.
Mais de 3.700 estruturas ficaram
destruídas, 620 em Baga e 3.100 em Doron Baga, a outra localidade, segundo seus
cálculos, embora afirme que a realidade pode ser mais mais grave.
Para a HRW, a região mais
castigada foi a segunda localidade, onde se encontrava a força armada regional,
a Multinational Joint Task Force (MJTF).
Acredita-se que os alvos do
ataque eram os civis que ajudam o exército em sua luta contra os islamitas. Segundo
as autoridades locais, ao menos 16 aldeias próximas a Baga foram incendiadas, e
20.000 pessoas fugiram.
O Alto Comissariado para os
refugiados da ONU estima que mais de 11.300 pessoas se protegeram no vizinho
Chade por vários dias.
Por sua vez, a ONG Médicos sem
Fronteiras (MSF) afirmou que irá ajudar 5.000 sobreviventes do ataque
refugiados em Maiduguri, capital de Borno, a 200 quilômetros.
Com os relatos dos sobreviventes,
surgem novos detalhes sobre as atrocidades cometidas. Segundo uma testemunha
citada pela Anistia, uma mulher grávida foi baleada em pleno parto, junto a
várias crianças pequenas.
"A metade do bebê havia
saído, e a mulher morreu assim", segundo esta pessoa, que não quis se
identificar.
"Mataram muita gente. Vi
talvez 100 mortos naquele momento em Baga. Me escondi entre as árvores, e
enquanto fugíamos seguiam disparando e matando", disse uma testemunha, um
homem de 50 anos.
Outra mulher disse que
"havia cadáveres onde quer que olhasse".
Estes testemunhos coincidem com
as afirmações de funcionários locais e testemunhas consultadas pela AFP, que
dizem ter visto nas ruas de Baga cadáveres em decomposição.
Outras testemunhas afirmaram à
Anistia que 300 mulheres foram sequestradas e detidas em uma escola. As mais
idosas, as mães e as crianças foram libertadas pouco depois, enquanto as demais
permaneciam detidas, segundo estas pessoas.
O ataque ocorreu a pouco mais de
um mês das eleições presidenciais e legislativas na Nigéria, que devem ser
realizadas em 14 de fevereiro. Acredita-se que a explosão de violência tem por
objetivo influenciar e perturbar o processo eleitoral.
Num momento em que o Boko Haram
toma o controle de grandes territórios e prossegue com seus sangrentos ataques
no nordeste do país, a insegurança se converteu no tema central da campanha
eleitoral nigeriana.
Fonte: http://noticias.terra.com.br
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