Richard Dawkins abre Fronteiras do Pensamento 2015
A urgência de aprender a conviver
com o diferente, a sociedade inserida em uma moldura que reflete a aceitação do
que não é espelho.
Sob o tema Como viver juntos, o biólogo evolucionista
Richard Dawkins abriu nesta segunda-feira, em Porto Alegre, a edição 2015 do
Fronteiras do Pensamento.
Autor de livros como: O Fenótipo
Estendido e Deus, Um Delírio, o britânico subiu ao palco do Auditório Araújo
Viana por volta das 20h com o desafio de explicar, do ponto de vista
científico, que a diversidade podem e deve, ser aceita.
O assunto é uma seara confortável
para o professor da Universidade de Oxford (Inglaterra). Em um dos seus mais
aclamados livros, O Gene Egoísta, Dawkins explica a evolução por meio de uma
visão centrada no gene.
“A seleção natural sempre escolherá o ser mais
competitivo”, explicou. Isso, porém, não se aplica, nem deveria, ao ser humano
dotado de racionalidade. Este, de acordo com o etólogo, é um predador
controlado, um animal que conseguiu domar a seleção natural no intuito de
aprimorar a convivência em sociedade.
“Mas, se o gene é egoísta, como
fugir dos nossos?”, perguntou alguém da plateia lotada do Araújo Viana. Não é
essa a questão, conforme explanou Dawkins.
“O gene é que é egoísta, e não o
indivíduo”. Esse gene pode, inclusive, levar ao altruísmo, segundo ele. O ser
humano se emancipou de sua genética egoísta, que, dada como fato científico,
não confere nenhuma espécie de maldade àquele que a carrega, conforme o
professor.
Religião
Ainda que em todo o seu discurso
em palestra Dawkins não tenha se referido à religião, tema pelo qual é bastante
conhecido devido ao seu esforço em travar uma “guerra” contra os criacionistas,
no momento das perguntas do público, como era esperado, a questão veio à tona.
Mesmo já tendo dito que gostaria
de falar mais a respeito de ciência, e menos sobre o ateísmo, em seu trabalho,
o evolucionista respondeu às perguntas deixando claro acreditar que religião e
ciência são fundamentalmente inimigas. “A religião há muito tempo tenta dar
respostas sobre a origem e o significado da vida”, respostas essas que, segundo
ele, cabem à ciência.
Para ele, a crença em um ser
sobrenatural criador do universo é danosa à humanidade. “Qualquer ideologia que
não se baseie na razão é perigosa”, afirmou.
Quanto ao ensino religioso nas
escolas, o britânico explica que é necessário que a educação fale sobre
ciência. “Não há como entendermos história sem a bíblia, por exemplo”.
Porém,
alerta que crianças devem ser formadas em instituições que forneçam
conhecimento a respeito da religião, e não com propósito doutrinário. É
preciso, de acordo com Dawkins, explicar que há uma diversidade de religiões, e
falar sobre elas, mas não impor, na educação, que existe uma determinada
crença, que ela é de tal forma e que o indivíduo deve pertencer a ela.
Os cientistas têm como missão,
conforme analisa o acadêmico, simplificar a ciência. No entanto, o fato de ela
ser de mais difícil compreensão do que a religião não significa que devemos
abandoná-la e adotar a fé cega.
Um Richard Dawkins que
trincou a imagem polêmica pela qual é conhecido. Para os mais fãs de seu
trabalho em “militar” contra a crença, ou para os não entusiastas da genética,
o Dawkins que Porto Alegre conheceu pode ter sido um tanto contido demais, e
até entediado a plateia com seu discurso científico. Conseguiu, porém, deixar
claro o seu entendimento a respeito do tema central do evento, Como viver
juntos, pela ótica que domina: “Ainda que o gene seja egoísta, nós, seres
humanos, podemos planejar um futuro altruísta”.
O Fronteiras do Pensamento segue,
com outras oito conferências, até o dia 23 de novembro. A programação completa
e outros detalhes podem ser conferidas no site do evento.
Fonte: http://www.guiadigital.info
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