Sete anos de injustiça – A luta pelos direitos humanos e tolerância religiosa no mundo – Por Myrella Brasil
O que você acharia de não ter
direito a educação, não ter direito a escolher sua religião, não ter direito a
manifestar sua opinião livremente, e se você for mulher não ter direito sequer
a ter os mesmos direitos de um homem!
Parece incrível que isso ocorra ainda no
sec. XXI, não é mesmo?! Mas isso acontece ainda, no Irã. Em 2008, sete pessoas
foram presas por um único crime: ser Baha’i, mas será que ser Baha’i é crime?
A Fé Bahá’í é uma religião
mundial independente, que surgiu na antiga Pérsia (atual Irã) em 1844. Foi
fundada por Bahá’u’lláh, título de Mirzá Husayn Ali (1817-1892), e não possui
dogmas, rituais, clero ou sacerdócio. Com aproximadamente 6 milhões de adeptos,
é a segunda religião mais difundida no mundo. No Brasil são cerca de 70 mil
bahá’ís espalhados em todas as regiões.
Como o Estado tem o direito de
privar uma pessoa de sua liberdade, de sua família, de seus filhos, de sua
educação simplesmente por ter uma religião que não é a oficial daquele país? O
governo iraniano decretou que os baha’is são uma ameaça ao Regime Islâmico, o
qual tem autoridade teológica sobre seu povo e achando-se no direito de
puni-lo. Centenas de adeptos já foram perseguidos, presos, torturados e mortos.
Desde a Revolução Islâmica no Irã, 1979, os bahá’ís têm sido sistematicamente perseguidos como uma questão de
política do estado. Durante a primeira década desta perseguição, mais de 200
bahá’ís foram mortos ou executados, centenas de outros foram torturados ou
presos, e dezenas de milhares perderam o emprego, acesso à educação e outros
direitos, tudo apenas por causa de sua crença religiosa. Ataques liderados pelo
estado sobre a maior minoria religiosa não-muçulmana do país se intensificaram
na última década.
Desde 2005, mais de 700 bahá’ís foram presos. A constante
ameaça de ataques com bombas, incêndios as residências e prisões está entre as
principais características da perseguição aos bahá’ís do Irã hoje. A opressão
aos iranianos baha’is estende do berço ao túmulo.
Segundo Gabriel Marques,
Secretário Nacional da Comunidade Bahá’í do Brasil, a perseguição contra os
bahá’ís no Irã não é uma simples política de governo.
“Essa perseguição não é
uma ação do governo atual ou do anterior, nem depende da posição do governante,
ou seja, é uma política de estado que vem sendo implementada desde o início da
Fé Bahá’í, em 1844. Documentos revelados pela ONU comprovam que o objetivo
dessa política, que foi intensificada com a Revolução Islâmica em 1979, é
eliminar a viabilidade da comunidade bahá’í do Irã por meio da supressão
econômica, do impedimento do acesso à educação e da instabilidade gerada pelas
prisões e detenções arbitrárias, que podem ocorrer a qualquer momento, com
qualquer bahá’í naquele país.”
Atualmente 117 bahá’ís estão na
prisão, tudo sob falsas acusações exclusivamente relacionados com a sua crença
religiosa. A lista inclui todos os sete líderes bahá’ís, que permanecem
atualmente na prisão, cumprindo sentença de 20 anos de prisão injustamente.
Perfil dos presos:
Mahvash Sabet, de 62 anos, era
professora e diretora de uma escola. Foi afastada da Função Pública por
“heresia”. Durante 15 anos foi responsável pelo Instituto Bahá’í do Ensino
Superior, onde lecionava Psicologia e Gestão. O Bihe (sigla inglesa) oferecia
uma alternativa acadêmica aos jovens bahá’ís proibidos de frequentar
universidades nacionais. Foi presa em março de 2008.
Os outros seis foram
detidos nas suas casas, em maio desse mesmo ano. São eles a psicóloga Fariba
Kamalabadi, 52 anos, mãe de três filhos; o empresário Jamaloddin Khanjani, 81
anos (a sua mulher morreu em 2011, mas ele não foi autorizado a assistir ao
enterro), pai de quatro filhos; o industrial a quem foi negado o sonho de ser
médico Afif Naeimi, 53 anos, pai de dois filhos; o engenheiro agrônomo Saeid Rezaie,
57 anos, pai de três filhos; o assistente social forçado a ser carpinteiro
Behrouz Tavakkoli, 63 anos, pai de dois filhos; e o optometrista Vahid Tizfahm,
42 anos, pai de um filho.
Além destas sete lideranças, mais
de uma centena de outros bahá’ís também encontram-se presos atualmente no Irã,
incluindo professores universitários do Instituto Bahá’í de Ensino Superior
(Bihe).
Acusações formais: “Espionagem,
propaganda contra a República Islâmica e corrupção na Terra”. A lei prevê a
pena de morte para espionagem e “corrupção na Terra”. Estes são alguns dos mártires no
Irã, que lutam pelo direito de expressarem sua fé religiosa. Alguns deles
ministravam aulas de virtudes para crianças. Que virtudes estamos deixando para
as gerações futuras de nosso planeta?
No dia 21 de maio, o gramado em
frente ao Congresso Nacional, em Brasília, foi palco do ato “7 anos de
Injustiça”, campanha que iniciou no dia 14 de maio e reuniu a sociedade civil,
membros de diversas religiões e representantes do Estado, integrando o país na
luta pelos Direitos Humanos e Tolerância Religiosa no mundo.
O evento fez parte da campanha
mundial pela libertação das sete lideranças bahá’is mantidas presas no Irã
desde 2008. Centenas de mensagens foram enviadas via redes sociais para os
prisioneiros e foram expostas em um banner gigante em frente ao Congresso
Nacional. O evento começou às 10h e contou com músicas e orações em sua
programação.
A mobilização aconteceu em todo o
mundo e reuniram milhares de pessoas. No Brasil, o tema chegou à Câmara e ao
Senado, onde parlamentares e servidores demonstraram seu apoio aos prisioneiros
por meio de declarações em vídeo. Confira alguns trechos:
“Farei um pronunciamento no
plenário do Senado, fazendo um clamor para que as autoridades iranianas escutem
o senado brasileiro e escutem o apelo que o mundo inteiro está fazendo”,
senadora Gleisi Hoffmann (PR).
“Todo ser humano tem o direito de
exercer a sua religiosidade. Por isso, todo apoio a comunidade bahá’í, todo
apoio a liberdade de crédo”, deputada federal Erika Kokay (DF).
“Espero que a comunidade
internacional, a ONU, todas as pessoas de boa vontade, os crentes e os não
crentes… continuem nessa campanha pela liberdade religiosa, pela diversidade,
pelo Estado laico… e que o governo do Irã afinal se sensibilize e pare com essa
perseguição, porque essa é uma perseguição a todos nós”, deputado federal Chico
Alencar (RJ).
“A Declaração Universal dos
Direitos Humanos tem como um dos seus pontos mais altos a defesa da liberdade
religiosa. A comunidade bahá’í, pelo o seu trabalho, pela sua luta, [que] está
legitimada aos olhos do mundo como detentora de direitos, sujeita a liberdade”,
deputada federal Margarida Salomão (MG)
“Eu me incorporo àqueles que
defendem a religião Bahá’í. Não podemos tolerar em hipótese alguma que no Irã
pessoas que professem essa religião estejam sendo presas”, senador Otto Alencar
(BA)
“Todo apoio a luta da comunidade
bahá’i no Irã e no mundo inteiro pela liberdade de expressão das suas crenças
religiosas, pela liberdade de expressão da sua cultura. Dou todo apoio à luta
do povo bahá’í”, Rogério Thomaz Junior, jornalista (Comissão de Direitos
Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados).
“Nós, militantes dos Direitos
Humanos no Brasil e em todo o mundo, acreditamos que a democracia é um caminho
importante juntamente com a liberdade da prática da fé de cada pessoa.
Acreditamos também que todos os cidadãos do Irã possam respeitar a fé alheia e
libertar essas pessoas”, Vinícius Borba, militante dos direitos humanos
(Comissão de Direitos Humanos do Senado Federal).
“A pergunta que todos no Plenário
devem estar se fazendo é: qual o crime cometido pelos bahá’ís? Foi professar
uma religião que acredita que Deus é um só, que a humanidade é uma só. Eu quero
dizer que eu também acredito. Assim me associo nesta data a todas as pessoas de
boa vontade na luta pela imediata cessação de toda forma de intolerância
religiosa e pela merecida liberdade [às lideranças bahá’ís no Irã]”, senador
Paulo Paim (RS)
A campanha “7 anos de Injustiça”,
é uma mobilização para pressionar o governo iraniano pela libertação das sete
lideranças bahá’ís presas no país e pelo cumprimento dos acordos de Direitos
Humanos.
A mobilização está acontecendo via internet e é feita em todo o mundo,
possibilitando a participação de qualquer pessoa. A divulgação tem sido feita
pelo Facebook e sites da Comunidade Bahá’í.
(Myrella Brasil, mestre em
Biologia Molecular, terapeuta transpessoal, pesquisadora, escritora,
palestrante e colaboradora do DM.myrellabrasil@gmail.com / www.saude-bemestar.net.br).
Fonte: http://www.dm.com.br
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