Unir os generosos e generosas para a construção do reino
Este texto integra um conjunto de
seis eixos trabalhados em coletivo como base para o Grito dos Excluídos/as deste
ano de 2015. Até o dia 7 de Setembro outros eixos serão amplamente divulgados.
O Grito dos Excluídos/as, que
acontece anualmente no dia 7 de Setembro em todo o Brasil, chega a sua 21ª
edição. Em 2015, o lema chama a atenção para a situação de violência que
vitimiza, sobretudo as juventudes das periferias, bem como alerta para o poder
que os meios de comunicação exercem na manipulação da sociedade. E questiona:
“Que
país é este que mata gente, que a mídia mente e nos consome?”. E mais uma vez o
tema do Grito aponta para a perspectiva da “Vida em primeiro lugar”, uma
exigência do Reino de Deus.
A proposta do Grito surgiu da
esperança e do espírito profético dos cristãos que, aliados aos movimentos
sociais, buscaram continuar pautando a reflexão proposta pela Campanha da
Fraternidade de 1995, cujo tema era “Fraternidade e Exclusão”. Assim, nestes 21
anos de história, o Grito vem se desenvolvendo como um processo e compromisso
coletivos.
Contudo, a missão profética
sempre se renova porque, infelizmente, ainda temos situações que clamam o
pronunciar-se das forças sociais sustentadas pelo compromisso com a dignidade
da vida e da construção de um projeto popular para o Brasil. O apelo profético
tem o viés da denúncia, pois não é possível calar-se diante da vida maltratada,
do drama dos outros, como se não fosse nossa responsabilidade, segundo o alerta
do Papa Francisco (Cf. EG 54).
Tem também o viés propositivo, ou
seja, a convicção de que é possível seguir outro caminho. Os debates da 5ª
Semana Social Brasileira propondo outro Estado, compreendendo também outra
sociedade, a sociedade do Bem Viver, insistiam neste viés propositivo, explicitado
nos dez pontos da carta final do Seminário Nacional realizado nos dias 02 a 05
de setembro de 2013[¹].
As intuições destes anos de
caminhada continuam muito vivas e presentes para as forças sociais. Foram
incorporadas por novos atores sociais com os quais somos chamados a dialogar.
Temos a tarefa de reforçar o processo, unir os generosos e generosas, os
bem-aventurados e bem-aventuradas (Cf Mt 5,1-12) que vivem a cada dia o
compromisso da superação da miséria e exclusão. Os tempos atuais exigem a
atualização das metodologias sem que esta faça arrefecer o compromisso social e
luta pelos direitos. A crise que o Brasil atravessa, que vai além da economia,
cobra esta atitude. Neste sentido três ações são urgentes:
1- Aprofundar o diálogo entre as
pastorais e movimentos sociais, partindo de elementos que conjuguem forças,
conteúdos e metodologias. Algumas pautas favorecem este processo e são de
interesse mútuo. Toda a movimentação em vista dos diálogos do Papa com o
Movimento Popular revelam a fertilidade deste caminho.
2- Favorecer o diálogo ecumênico
e inter-religioso mediado por ações concretas voltadas aos excluídos da
sociedade, um diálogo de ação e metodologia que possa acolher toda a riqueza
mística e espiritual das Religiões.
3- Atualizar o mapa das nossas
forças sociais, visto que as diferentes manifestações que vêm desde 2013,
somadas a um projeto de poder divorciado dos anseios populares, geraram
dificuldades para analisarmos o novo perfil da sociedade. Esta dificuldade não
se resolverá facilmente. Contudo, faz-se necessário enfrentarmos este dilema em
nome do compromisso que nos motivava a assumir o primeiro Grito dos Excluídos.
Jesus começou a sua missão na
periferia da Palestina. Ali estavam seus pés e o seu coração (Mt 11, 25ss). No
entanto, não esqueceu o motivo da sua missão (Lc 4, 11ss), fundamento do Reino
desejado por Deus, que começa pela vida plena e digna para todas as pessoas
mediada pela garantia de seus direitos.
Neste sentido, se faz necessário
unir os generosos e generosas nessa empreitada, um dos eixos que norteiam o
Grito desse ano. Bem como denunciar e desmentir a mídia que defende os
interesses das classes dominantes e exigir que o Estado assuma suas
responsabilidades na garantia de direitos dos seus cidadãos e cidadãs.
[¹] 5ª Semana social
Brasileira: processo, conclusões e perspectivas. Brasília, Edições CNBB, 2014.
Fonte: http://www.conic.org.br
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