Cadeira tirada de terreiro na década de 20 é devolvida a remanescente – Por Juliana Almirante
Objeto sequestrado simboliza
liderança espiritual de líder religioso Jubiabá. Cerimônia de entrega aconteceu na sede do IGHB, na quarta-feira (28/10).
Pela primeira vez, um objeto
sagrado ao povo do candomblé retirado das mãos de um terreiro por força
policial, na década de 20, foi devolvido a representantes da religião. Nesta
quarta-feira (28/10), a cadeira do líder do terreiro São Jorge Filho da Gomeia,
Severiano Manuel de Abreu, o Jubiabá, foi entregue ao templo remanescente.
O
objeto, que simboliza a liderança espiritual, foi sequestrado como um troféu
pela polícia. A prática era comum no auge da perseguição policial aos
seguidores do candomblé na década de 20, quando objetos eram sequestrados.
A cerimônia de entrega aconteceu
na sede do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (IGHB), onde a cadeira
permanecia por décadas, após ter sido cedida pela polícia. O evento ocorreu na
mesma data da morte de Jubiabá, há 78 anos. A cadeira agora fará parte do
memorial localizado no terreiro remanescente do liderado por Jubiabá, o
terreiro Mokambo.
O líder do Mokambo, Anselmo
Santos Minatojy, explica que a cadeira de comando simboliza o poder do líder
espiritual do terreiro e invoca respeito à comunidade.
“Para mim, a devolução da cadeira
é uma vitória não só para o terreiro Mokambo, mas para todo o povo
afro-brasileiro do modo geral, que sofreu as agruras da força policial nas
décadas de 20 e 30. Seus objetos de culto foram levados como troféus unicamente
pelo preconceito, por maldade”, disse.
O coordenador de Cultura do IGHB,
Jaime Nascimento, espera que a ação de devolução possa incentivar entidades a
repetir o ato simbólico de reparação ao candomblé.
“Essa é a primeira vez que
instituições de forma dialogada fazem esse tipo de acordo para que o objeto
sagrado do candomblé seja devolvido. Nessa ação, o instituto buscar incentivar
que outras entidades que também tenham objetos dessa natureza, que façam o
mesmo porque não há sentido para uma instituição ficar mantendo algo que não é
objeto de museu, é um objeto sacro”, justificou.
A diretora de preservação do
Instituto do Patrimônio Artístico Cultural da Bahia, Etelvina Rebouça
Fernandes, defendeu que a devolução da cadeira é um direito para os herdeiros
do terreiro de Jubiabá.
“O terreiro Mokambo continuou com toda a sabedoria,
todos os bens imateriais do terreiro de São Jorge filho da Gomeia, onde
liderava Jubiabá. Para a gente, é uma vitória do povo de santo e, para a
sociedade, a retomada essa cadeira para o lugar de onde nunca deveria ter
saído”, considerou.
Fonte: http://g1.globo.com
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