"Não chore, não ria, mas compreenda", Espinosa
"Maldito ele seja de dia e
maldito seja de noite. Maldito seja quando se deita e maldito seja ele quando
se levantar. Maldito seja quando sair, e maldito seja quando regressa".
Com essas palavras iradas e
algumas outras a mais, a Sinagoga de Amsterdã anunciou para quem quisesse ler a
condenação do "herege", Baruch de Espinosa, em 27 de Julho de 1656.
Ser expulso da religião não foi
sequer o maior problema de Espinosa por aqueles dias. Envergonhados com a
situação, seus parentes o deserdaram e o impediram de tomar parte nos negócios
da família. O filósofo havia questionado a forma como víamos Deus e subitamente
se viu sem o amparo da comunidade judaica e de seu lar.
Para se sustentar, teve de
arranjar emprego como lustrador de lentes, um trabalho que garantiu a renda,
mas acabou debilitando sua saúde: Espinosa morreria aos 44 anos, provavelmente
de uma silicose causada pelo pó de vidro que respirou em duas décadas de
serviço. Não que tenham faltado oportunidades para tentar outra carreira.
A Holanda vivia uma efervescência
econômica, e Espinosa sempre esteve cercado por contatos influentes. Recebeu
até mesmo um convite para lecionar na prestigiada Universidade de Heidelberg,
mas se viu forçado a recusá-lo por conta da orientação para que não ensinasse
teorias contrárias à religião.
De onde vinha tanta convicção?
Muitos tacharam Espinosa de ateu, e seus textos chegaram a entrar no famigerado
Index, a lista de livros proibidos para católicos. O filósofo não negava a
existência de Deus, mas O enxergava como uma figura muito mais impessoal. Para
Espinosa, Deus e a Natureza eram dois nomes para a mesma "substância"
que fazia o Universo, e a vontade divina se manifestava nas leis naturais. Um
conceito inovador que, de certa forma, obrigava a buscar explicações racionais
para tudo, negando milagres, por exemplo.
Em seu Tratado
Teológico-Político, publicado em 1665 (sem assinatura, por medo de
represálias), o filósofo dizia que o supersticioso era alguém incapaz de
compreender essas leis do Universo e que precisava criar explicações simples
para aquilo que não conseguia entender.
Seu exemplo fundamental: a ideia
de um Deus raivoso, que precisava ser cultuado e agradado, não passaria de uma
superstição. Espinosa defendia que essa imagem de Deus era conveniente para a
Igreja, que podia prometer o perdão e, desta forma, ganhar poder.
Ou seja, a superstição ajudaria a
criar regimes autoritários baseados na religião. Esse pensamento virou uma
bandeira cada vez mais forte nos séculos seguintes: a separação entre a Igreja
e o Estado.
Fonte: http://super.abril.com.br
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