Espetáculo mórmon nos EUA atrai milhares de fiéis e curiosos – Por Sharon Otterman
Evento anual em Palmyra, no
Estado de Nova York, conta com 750 atores e é espécie de 'oásis espiritual'
Usando uma peruca castanha e
brincos de caveira, Bryn Clark é a porta-bandeira do evento anual da Igreja de
Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, uma representação com 750 atores e
efeitos especiais que retrata o Livro Mórmon e foi realizada durante uma semana
na cidade de Palmyra, Nova York, o berço da religião.
Mas toda noite antes da
representação começar, ela tem um outro importante papel: o de levar a fé para
a multidão.
À medida que o sol se põe no
anfiteatro ao ar livre, ela e outros membros do elenco pegam suas cópias
pessoais do Livro Mórmon e caminham entre os 7 mil espectadores, cumprimentando
os fiéis que vieram até o local de todos os cantos do país e buscando qualquer
um que não seja mórmon, para lhes falar sobre sua religião e responder
quaisquer perguntas que possam ter.
Este é o 75º ano em que a Igreja
de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias está realizando este evento na
Colina Cumorah, lugar onde, de acordo com a história da Igreja, Joseph Smith
encontrou as placas de ouro nas quais o Livro Mórmon foi baseado na década de
1820.
Mas neste ano, o primeiro no qual
um mórmon é candidato à presidência por um grande partido político, a
representação é para muitos mórmons um oásis espiritual do mundo exterior, um lugar
distante do mundo da política. É também um local onde têm a oportunidade de
responder ao crescente número de questões que enfrentam sobre sua religião -
algumas delas curiosas, mas outras mais maldosas.
À medida que anoitecia, Clark e
Chloe Buffum, sua colega de quarto, caminhavam pela encosta coberta por grama e
passavam pelo meio da plateia perguntando: "Você já foi recebido?"
Eventualmente, chegaram ao fim da multidão e então encontraram Cindy e David Roza
da cidade vizinha de Greece, Nova York, que estavam sentados em cadeiras com um
saco de pipoca entre si. "Viemos para assistir o show", disse Roza,
identificando-se como uma metodista. "Ouvimos falar sobre isso há
anos."
Ainda assim, o casal ficou encantado
como Buffum, uma dançarina no evento, que disse educadamente: "Será que
podíamos então lhes contar um pouco sobre o show para que não fiquem tão
confusos? Há muitos nomes estranhos e outras coisas que não conhecem", e,
em seguida, fez um resumo animado do Livro Mórmon, seguido por uma frase da
Escritura e pelo que os Mórmons chamam de seu testemunho pessoal.
"Frequento a faculdade e
realmente não sei o que quero fazer quando terminar meu curso", disse ela,
olhando para o céu.
"Mas, sabendo que este Evangelho é verdadeiro e que
tenho um Pai Celestial e um Salvador cuidando de mim e que Ele tem um plano
para mim, tenho muita paz."
Elas também encontraram Amanda
Urlacher, 18, e Amber Clayton, 17, não-Mórmons de Mississipi visitando uma tia
Mórmon e sua família.
"Posso deixar com vocês uma Escritura?" Clark
disse para as meninas, arregalando seus olhos azuis. Deus, disse ela, ama a
todos nós, não importa quem somos, maus ou justos. "E isso é um conforto
tão grande na minha vida, saber que ele me ama, não importa quais erros eu
cometi ou o que eu faço."
Embora eles estejam todos
ansiosos para falar sobre a Escritura, o elenco e os visitantes mórmons do
evento preferem não falar sobre política, em parte porque os líderes da igreja,
preocupados com o status sem fins lucrativos da religião, instruem aos membros
da igreja a separar o sagrado da política, disseram os missionários presentes
no evento. Embora o apoio a Romney, um republicano, seja forte, poucos adesivos
do candidato puderam ser notados no evento.
Em vez disso, esta cidade
normalmente pacata de 8 mil habitantes é o lugar onde os membros da igreja em
peregrinação se emocionam com a gráfica onde seu profeta, Joseph Smith,
trabalhou enquanto publicava o Livro Mórmon, em 1830. Depois da mostra de um
filme que retrata Joseph Smith enfrentando desafios por suas crenças, que
muitos chamaram de fantasia, é quase impossível não se emocionar.
No lado de fora do evento, um
pequeno grupo de evangélicos circulou pela cidade em um caminhão com uma placa
amarela que dizia "WhatMormonsDontTell.com" (“O que os Mórmons não
contam, em tradução literal), gritando advertências de condenação na noite em
que o evento aconteceu.
"Vocês precisam se
arrepender, mórmons, vocês irão para o inferno!", gritou um manifestante
em um megafone após o término de uma performance. As luzes do carro do xerife
local brilharam na escuridão.
As famílias mórmons ignoraram o
barulho. Um frisbee iluminado voou pelo do céu. Um sinal azul perto da barraca
de churrasco lembrava as famílias para receberem as críticas com bondade, e
ninguém gritou de volta.
"Ao entrar e sair do evento
na Colina Cumorah," dizia uma placa, "por favor, seja cortês com
aqueles que podem tentar atrapalhar o espírito especial que você irá sentir
neste local histórico."
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