“Não façam da religião um mercado!” (Jo 2,16) – Por Dom Redovino Rizzardo
Se eu fosse ateu, o meu
passatempo para os dias em que tudo anda atravessado, poderia ser ligar o
televisor e assistir a programas religiosos: em matéria de comicidade, alguns
deles certamente não ocupariam o último lugar!
De uns anos para cá, apesar do
pluralismo cultural e do relativismo moral que contagiam todos os segmentos da
sociedade, poucas pessoas conseguem ficar indiferentes em matéria de religião.
Em alguns países, ela é temida, ao se transformar num fundamentalismo violento,
que elimina quem ousa pensar diferente. Em outros, ela se esfacela e multiplica
em centenas de novas denominações. É o caso do cristianismo.
Não me refiro somente às
confissões evangélicas, em que pastores, ao se desentenderem com algum colega,
fundam suas próprias igrejinhas, sob denominações que beiram ao esdrúxulo e ao
ridículo.
Penso também em algumas lideranças da Igreja Católica que desertam de
seu redil, mas levam consigo conceitos, ritos, vestes e até santos da
igreja-mãe. Foi assim que nasceram, entre outras, a Igreja Católica Apostólica
Brasileira, a Igreja Católica Carismática, a Igreja Católica Apostólica Cristã,
a Igreja Católica Apostólica Renovada e a Igreja Católica Apostólica
Independente.
A confusão é tanta que, no dia 30
de novembro de 2011, «a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – cito o
texto –, na defesa da verdade e da liberdade, considerou oportuno publicar a
presente Nota Pastoral, destinada aos membros do episcopado, do clero, aos
religiosos e a todos os fiéis leigos.
O uso de nomes, termos, símbolos
e instituições próprias da Igreja Católica Apostólica Romana, por outras
denominações religiosas distintas da mesma, podem gerar equívocos e confusões
entre os fiéis católicos.
Nestes casos, o uso da palavra “católico”, “bispo
diocesano”, “vigário episcopal”, “diocese”, “clero”, “catedral”, “paróquia”,
“padre”, “diácono”, “frei”, pode induzir a engano e erro. Pessoas de boa
vontade podem ser levadas a frequentar tais templos, crendo que se tratam de
comunidades da Igreja Católica Apostólica Romana, quando na verdade não o são.
Estas denominações, apesar de se
autodenominarem “católicas”, não estão em comunhão com o Santo Padre, Papa
Bento XVI, e não fazem parte da Igreja Católica Apostólica Romana.
Por esta
razão todos os ritos e cerimônias religiosas por eles realizadas são ilícitos
para os fiéis católicos. Assim sendo, recomenda-se vivamente aos féis que não
frequentem os edifícios onde eles se reúnem nem colaborem ou participem de
qualquer celebração promovida por esses grupos».
Mas não são apenas essas igrejas
que se apoderam do que não lhes pertence. Um número crescente de denominações
pentecostais passou a adotar usos e costumes que, até poucos anos atrás,
pareciam patrimônio da Igreja Católica. Surgiram bispos e bispas em dezenas de
confissões religiosas, totalmente alheios à tradição eclesial, assim delineada pelo
Concílio Vaticano II:
«É constituído membro do Corpo Episcopal quem recebe a
sagração sacramental e está em comunhão com o chefe e os membros do colégio.
Assim como, por disposição de Jesus, São Pedro e os outros apóstolos constituem
um único colégio apostólico, da mesma forma o Romano Pontífice, sucessor de
Pedro, e os Bispos, sucessores dos Apóstolos, estão unidos entre si».
Até mesmo ritos e sacramentais
católicos, ridicularizados e combatidos no passado como supersticiosos – como
as bênçãos e os “objetos sagrados” – retomaram a cidadania e passaram a ser
oferecidos e comercializados.
Há igrejas que, para engrossar suas fileiras e
suas rendas, recorrem a todo tipo de expediente: passam do proselitismo ao
sincretismo, prometem saúde e prosperidade, e “abençoam” casamentos e modelos
de vida em aberto contraste com os postulados do Evangelho de Jesus.
Na década de 1970, causou impacto
na opinião pública brasileira o livro de Délcio Monteiro de Lima: “Os Demônios
descem do Norte”.
Nele, com muita felicidade e rara perspicácia, o autor
detecta as manipulações políticas que fomentaram a explosão das seitas no
Brasil, sob o influxo do mercado internacional, com o propósito de implodir a
influência da Igreja Católica na sociedade. Mas, nada há a temer, pois, como
disse Gandhi, «a verdade é a única força do mundo que se impõe por si mesma».
Fonte: http://www.progresso.com.br
Dom Redovino Rizzardo - Bispo de Dourados
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