Vozes da Igreja contestam medidas que conduzem ao empobrecimento e que traduzem injustiça em Portugal
Os presidentes da Cáritas
Portuguesa e da Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade (CNIS)
juntaram-se ao coro de críticas às novas medidas anunciadas pelo
primeiro-ministro e pelo ministro das Finanças.
Em declarações à agência
Ecclesia, Eugénio Fonseca, da Cáritas, diz que a austeridade “está assente” em
medidas “injustas” que pode deixar consequências “irreparáveis para o futuro”.
Elas irão “agravar a já tão precária” situação socioeconómica da sociedade
portuguesa e “não irão atingir o objectivo da criação de mais emprego”,
acrescenta.
Eugénio Fonseca deixa mesmo o
conselho ao Governo que reveja as decisões anunciadas, pois “está provado que
os sacrifícios não estão a ser repartidos de forma equitativa”.
E acrescenta,
ainda segundo a mesma fonte, que é “urgente que apareçam sinais que acalentem a
esperança das pessoas”, que não se limitem a “palavras bonitas”, mas sejam
“medidas efectivas de investimento”. “Não é apenas com políticas de corte que
se galvanizam as pessoas para a recuperação do país”, afirma.
O padre Lino Maia, que dirige a
CNIS, está convencido entretanto que algumas medidas serão “reponderadas” antes
da apresentação do Orçamento de Estado para 2013. Portugal está “na via do
empobrecimento geral”, o que cria “graves problemas às instituições, às pessoas
e a todo o país”, afirma, também em declarações à Ecclesia.
Eugénio Fonseca, da Cáritas,
regozija-se ainda com o alargamento do prazo para o cumprimento do memorando da
troika, mas diz que isso deve servir “para suavizar as medidas de austeridade”.
E repete, como tem referido nos últimos meses, que a Cáritas já não tem
capacidade de acorrer a todas as situações de ajuda para a qual é solicitada.
Lino Maia sublinha o mesmo
problema: a capacidade de resposta das instituições sociais é diminuta ou
“quase nula”, as medidas anunciadas terão o efeito “dramático” de gerar “mais
pobreza” e muitas famílias deixarão seguramente de pagar os serviços prestados
pelas IPSS (Instituições Particulares de Solidariedade Social).
O presidente da CNIS teme mesmo
que haja “convulsão social” e que a situação é “perigosa”. “Lamentavelmente,
falar de esperança neste momento é tentar favorecer o adormecimento do povo”,
acrescenta, segundo a mesma fonte.
Também em Viseu os armazéns da
Cáritas já ficaram muitas vezes vazios, referiu o bispo de Viseu em declarações
à Rádio Renascença.
D. Ilídio Leandro criticou também as medidas anunciadas:
“Estamos a ser enganados”, referia, confessando a sua “desilusão, porque se faz
igual, indo sempre pelo que é mais fácil, que é através de impostos, e tirar
dinheiro às pessoas que menos têm”.
O bispo acusa ainda muitos
políticos de revelarem um grande amadorismo: “Pensava que os políticos
estivessem melhor preparados quando assumem funções. Há situações, como aquela
apresentação e como determinadas medidas que este Governo tem tomado, que soam
a muito amadorismo.”
Fonte: http://www.publico.pt
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