Mostra na Alemanha traça relações entre China de hoje e tempo dos imperadores - Por Günther Birkenstock
"Esplendor dos Imperadores
da China" não é só pompa e glória, mas também visão crítica dos caminhos
até a República Popular, hoje. Além de celebrar 40 anos de relações
diplomáticas entre a Alemanha e Pequim.
Retratos em tamanho natural de
soberanos e rolos pintados medindo vários metros documentam minuciosamente a
vida na corte imperial da China. Em opulentas cerimônias, as imagens revelam
não só nobre pompa, como também as estruturas de autoridade que cercavam os
dignitários.
É como se uma parte da China
antiga retornasse à vida, nos numerosos artefatos com que se cercavam os
imperadores, e que podem atualmente ser vistos no Museu da Ásia Oriental, na
cidade alemã de Colônia. Seja um trono confeccionado com galhadas de animais,
vestidos de brocado, preciosos relógios ou vasos delicados.
Sob o título Esplendor dos
Imperadores da China, esses objetos estão expostos na cidade à beira do Rio
Reno até 20 de janeiro de 2013. A valiosa carga foi trazida do Museu Palaciano
em Pequim até a Alemanha em 39 contêineres de alta segurança.
Ponte entre passado e presente
Ao desembalar os objetos, os
guardiões do tesouro, que viajaram junto com ele, tiveram que atentar para os
menores detalhes. Trata-se de uma pequena seleção dos mais de 1,8 milhão de
objetos do museu chinês.
"Não pretendemos, de forma
alguma, fazer propaganda para a China. Nós somos partidários do
Iluminismo", assegura a curadora da exposição e diretora do museu, Adele
Schlombs.
A intenção é, antes, compreender
as condições históricas que levaram à formação da contemporânea República
Popular da China. Pois os regentes europeus tiveram a pretensão à universalidade, própria dos imperadores chineses.
No Reino do Meio, o soberano era
o garantidor da energia cósmica, autoridade política suprema e líder religioso
que unia a tudo e a todos, budistas, taoístas e adeptos do xamanismo.
Os imperadores eram considerados
filhos do Céu, uma força onipotente a que ninguém podia se subtrair. Ao mesmo
tempo, eram os guardiões da tradição, mecenas das artes e responsáveis pela
transmissão da cultura e do saber.
"Quando se sabe disso, de
súbito se vê sob uma outra luz as pretensões de poder da China de hoje",
comenta a sinóloga Schlombs.
Ostentação com toque europeu
O que quase ninguém suspeita, é
que europeus participavam ativamente da encenação da grandeza, poder e pompa na
corte imperial chinesa, ressalta Adele Schlombs. Ao mesmo tempo, a China
influenciou o pensamento europeu.
"O intercâmbio cultural
entre a China e a Europa alcançou seu apogeu nos séculos 17 e 18." Os
padres jesuítas mantinham diálogo intenso com os imperadores e a elite
intelectual chinesa. A doutrina do filósofo Confúcio foi o modelo do Estado
esclarecido, e marcou muitos pensadores no Ocidente.
Por sua vez, os jesuítas
presentes na corte chinesa introduziram um novo imaginário, abrindo para o
imperador novas possibilidades de autorrepresentação, conta a diretora do Museu
da Ásia Oriental. Na qualidade de pintores e artistas, os prelados
influenciaram o estilo realista dessa época.
Intercâmbio artístico e
tecnológico
Mensagem de paz, quadro de 1736
de Giuseppe Castiglione ilustra bem essa dinâmica. Para os não iniciados, o que
se vê são apenas dois homens portando um galho de damasqueiro em flor.
Na verdade, como explica
Schlombs, o que se documenta aqui é a transferência pacífica do cargo de
imperador. "Decisivo, porém, é que os rostos são perfeitamente
reconhecíveis, com sombras e traços definidos. Antes dessa época, tal coisa
seria impensável."
A ciência da China igualmente
lucrou com as influências ocidentais. O jesuíta Adam Schall von Bell, nomeado
mandarim na corte do imperador, ascendeu ao cargo de diretor do instituto
imperial de astronomia e desenvolveu instrumentos astronômicos, além de
supervisionar a produção de canhões durante algum tempo.
A troca cultural dava asas à
tecnologia. Os chineses importaram a técnica de aplicação de esmalte do
Ocidente, onde era empregada na valorização de superfícies metálicas. Os
chineses, em vez disso, passaram a aplicar a esmaltagem para a elaborada e
artística decoração da porcelana.
A impressionante exposição no
Museu da Ásia Oriental celebra os 25 anos de parceria entre as cidades de
Pequim e Colônia. E foi justamente essa conexão de longa data que permitiu à
instituição cultural compor uma mostra de tal gabarito. Além disso, em nível
federal, registram-se 40 anos de relações diplomáticas entre o governo alemão e
República Popular da China.
Apesar do título Esplendor dos
Imperadores da China, o que se exibe em Colônia não é apenas a pompa e glória
dos antigos soberanos. "Aqui se estabelecem também conexões críticas com o
sistema de dominação anterior", acentua Adele Schlombs.
A curadora do evento está certa
que o apoio chinês a essa exposição, em toda a sua minúcia e variedade,
demonstra um pouco da nova soberania e distanciamento da China em relação à
própria história.
Fonte: http://www.dw.de
Comentários