Especialista explica o interesse do homem pelo transcendente – Por André Alves


Desde que foi criado, o homem busca descobrir o ideal de realização que torne significativa sua passagem pelo mundo. 

Alguns pesquisadores supõem que a procura pelo transcendente é um caminho para tal descobrimento. No caso do catolicismo, esse transcendente se revela na figura de Deus, Criador de todas as coisas, encarnado no seio da humanidade em Jesus Cristo.

Hoje, segunda-feira, 21, é a data em que se comemora o Dia Mundial das Religiões, o professor e mestre em Ciências da Religião, Denis Duarte, explica o interesse do homem pelo transcendente e os passos necessários para uma convivência harmoniosa entre as crenças.

O especialista explica que com o desenvolvimento da ciência e da razão muitas coisas passaram a ser explicadas, mas outras não, isso por terem uma ligação com o transcendente, aspecto que causa uma "atração" natural no homem. “Desde o mundo mais antigo, dos homens primitivos, existia esse desejo de entender o mundo".

Essa atração pelo sobrenatural é uma dimensão do ser humano. "O homem possui a dimensão da razão, física e tantas outras, assim como a dimensão religiosa ou espiritual. A razão, por exemplo, é o que leva o homem a pensar, a ser criativo; a dimensão biológica leva-o a alimentar-se, a dormir, mas a espiritual ou religiosa é o que o leva a essa atração pelo sobrenatural pelo transcendente", explica Denis Duarte.

Mas o que é o transcendente?

"O transcendente é aquilo que está além do mundo material, físico. Algo que não se explica ou ao qual se dá nome. Está acima do homem", explica Denis. Como exemplo desse transcendente, o especialista cita os textos bíblicos do livro do Apocalipse, escrito por São João. "João explica para nós que foi a outro mundo, diferente do nosso, ou seja, ele transcendeu. A experiência é o sobrenatural, está além daquilo que vivemos em nosso mundo natural."

Apesar de estar ao alcance de todos, a experiência com o transcendente é algo subjetivo e particular. As experiências religiosas vividas, por exemplo, pelos cristãos, diferem-se entre si, de acordo com cada pessoa. "Ela é algo que tem relação com o desconhecido; é o Deus que se manifesta, mas que também é um mistério, porque é infinito".

Para Denis, o primeiro e importante sinal que evidencia uma experiência com o transcendente, ou seja, com Deus, no caso do Cristianismo, é a conversão religiosa. 

"Este é o grande sinal na vida de um cristão católico. Estou indo num caminho, encontrei-me com Cristo e decidi seguir por outro caminho, ou seja, dar voz ou dar vez à dimensão religiosa que existe dentro de mim, a partir do meu encontro pessoal com Cristo. Então, vou mudar a minha vida para melhor, claro, porque a proposta do Cristo é vida e vida em abundância. E esse é o grande sinal: viver de acordo com o que Cristo ensina."

Na opinião do professor, é importante que as pessoas vivam essa experiência religiosa por ser esta parte das suas dimensões humanas, fundamentais para o seu bem-estar. 

“Se você não trata bem o seu corpo, ou seja, sua dimensão biológica ou física, você vai sofrer problemas físicos. Se você não desenvolve seu intelecto, não procura viver coisas novas, você vai estagnando mentalmente. Se você não se preocupa com a sua emoção, também vai se tornando um ser humano emocionalmente imaturo. Assim acontece com a dimensão espiritual ou religiosa. É importante que a pessoa se abra a essa dimensão assim como às outras.”

O transcendente, as religiões e o convívio harmonioso

A experiência com o transcendente é um aspecto marcante nas religiões. Os católicos são chamados a fazer, diariamente, a experiência do encontro com Cristo que, segundo a Doutrina Católica, leva os fiéis à adequação da vida humana à vida de Jesus, o que deve favorecer a construção de uma sociedade mais fraterna e solidária.

Denis Duarte ressalta que é necessário que haja um convívio sadio e fraterno entre os praticantes da religião. Para ele, o caminho de uma relação harmoniosa entre católicos e os seguidores de outras religiões é a formação cristã, a construção de sua identidade e o respeito mútuo.

"Como católico, preciso conhecer a fé que professo, conhecer a Doutrina Católica, receber essa catequese. Dessa forma, outras doutrinas não farão confusão na minha cabeça. No entanto, é necessário também respeitar a opinião do outro, mesmo que a sua vivência religiosa seja muito diferente da minha. Posso até discordar, mas jamais desrespeitar!", afirma.

Segundo o professor, compreender outras crenças também contribui para um respeito mútuo entre as religiões. “Para que eu possa respeitar a experiência religiosa do outro, também preciso conhecê-la. Conhecer a fundo a minha experiência religiosa, mas também conhecer ao menos um pouco da religião do outro para que eu entenda, respeite e compreenda a maneira com que ele decidiu viver."

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