Santo ou Satanás? – Por Suzana Singer
Daniela Mercury, Caetano Veloso,
Fernanda Montenegro, Wagner Moura, Yasmim Brunet... gente bonita e famosa já
expressou, com palavras e beijos, o inconformismo com a permanência do deputado
Marco Feliciano na presidência da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da
Câmara dos Deputados. Cada um desses protestos ganhou amplo espaço na mídia.
Mais difícil é ouvir argumentos a
favor do pastor. A Folha publicou, na semana passada, uma entrevista com
Feliciano e um artigo em que Silas Malafaia defende seu colega pastor, o
próprio deputado já tinha escrito em "Tendências/Debates" em março.
É pouco perto das dezenas de
textos negativos (reportagens, colunas e editorial) publicados desde que o caso
estourou. A impressão que se tem, lendo jornais, revistas e navegando na
internet, é que há unanimidade contra o deputado do PSC.
Falta dar espaço às vozes
dissonantes daqueles que criticam a cobertura da mídia e se recusam a entrar na
corrente "anti-Feliciano". Passo a palavra a alguns deles:
"Vivemos uma época de
patrulhamento. A imprensa elevou o deputado à categoria de pop star. Estou me
lixando para ele, mas não concordo com a forma como é tratado. O jornal não
cita a profissão de nenhum parlamentar, mas Feliciano é sempre 'pastor', o que
impõe uma carga pejorativa à palavra. Há um estereótipo do evangélico repetido
à exaustão na mídia." (Patrícia Marinelli, 41, advogada, São Paulo, SP)
"Feliciano não é racista.
Ele deu a sua visão teológica dos homossexuais e dos negros. Nas igrejas evangélicas,
ajudamos a todos, não importa a origem ou a crença. A imprensa só abre espaço para as
críticas e pinça palavras isoladas para criar uma imagem desfigurada do
deputado. Feliciano foi eleito deputado
pelo povo e foi escolhido para a presidência pelos seus pares. Os ativistas,
nada democráticos, resistem à alternância de poder na comissão, que até então
era dirigida por partidos de esquerda. Delito de opinião é o que os
manifestantes estão fazendo, ao não respeitarem quem pensa diferente." (André
Luiz Pinho Gadêlha, 52, petroleiro e pastor evangélico, Parnamirim, RN)
"Por mais que eu discorde da
postura teológica de Feliciano, acho que sua permanência na Comissão é tão
legítima quanto a de Renan Calheiros na presidência do Senado, a de Henrique Alves
na Câmara e a de José Genoino e João Paulo Cunha na Comissão de Constituição e
Justiça. Todos foram eleitos." (Cristian Mesquita, 33, servidor público,
Rio, RJ)
"Se Feliciano fosse padre, a
imprensa não faria esse estardalhaço. As posições do papa são até mais
conservadoras, porque ele prega contra a camisinha e a pílula. Não deram ao
deputado chance de trabalhar, fazer alguma coisa, mostrar quem é. Ter opinião
neste país ainda é crime." (Samuel Lourenço, 68, servidor público
aposentado, Franca, SP)
"Há uma volta da patrulha
ideológica. Tolerância e pluralidade significam debater todas as ideias. Existe
uma campanha invisível, porém sensível, para atrelar a figura genérica de
qualquer pastor e qualquer evangélico às visões do deputado. É uma Inquisição,
que visa tornar o termo 'evangélico' sinônimo de intolerante." (Carlos
Alberto de Paula, 52, tradutor, Miami, Flórida)
"Tenho acompanhado as
reuniões. A imprensa não critica a atitude dos manifestantes, que fazem de tudo
para cancelar as sessões. Em nenhum momento a Folha foi atrás de saber quem são
essas pessoas que estão numa quarta-feira à tarde protestando." (Ademir
Morata, 42, assessor de imprensa, São Caetano, SP)
Mesmo sem concordar com todas as
críticas acima, é importante reconhecer que a cobertura do caso Feliciano
ganhou ares de linchamento. E não há dúvida de que existe na grande imprensa
brasileira uma visão estereotipada e preconceituosa dos evangélicos.
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br
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