A paz e unidade das religiões – Por Marcelo Barros
"O mundo não terá paz enquanto as religiões não dialogarem e isso
não ocorrerá se as Igrejas cristãs não se unirem”.
Essa afirmação do teólogo
suíço Hans Kung deve ser lembrada por ocasião da Semana de Orações pela Unidade
dos Cristãos que ocorre cada ano e dessa vez será celebrada nessa semana de 12
a 19 de maio.
O costume de consagrar uma semana anual para orar e trabalhar
pela unidade das Igrejas já dura de cem anos. Entretanto é difícil avaliar o
resultado dessa prática ecumênica. Como a unidade é dom de Deus e cremos que a
oração é sempre de alguma forma escutada, orar juntos é sempre bom e fecundo.
O
risco é que algumas Igrejas nomeiem uma comissão ecumênica, encarreguem seus membros
de participarem das relações ecumênicas em nome da Igreja e depois disso se
desinteressem pelo assunto.
Nesse caso, as reuniões, fóruns e orações em comum
envolveriam sempre os mesmos e poucos personagens. Estes, ao cumprirem as
atividades ecumênicas acabam legitimando suas Igrejas a não mudar nada. As
comunidades concretas e paróquias continuam como sempre foram. Ignoram e até
desprezam as outras Igrejas e religiões.
Para evitar esse risco, em 1968, a coordenação da CNBB (Conferência
Nacional dos Bispos católicos do Brasil) publicou um documento preparatório ao
diretório ecumênico. Ali os bispos ensinavam que a pastoral ecumênica e a
abertura para outras Igrejas só acontecem se se basearem em uma
"ecumenicidade” de toda a pastoral e atividades eclesiais. Ou a Igreja
inteira se compromete nesse caminho ou a pastoral ecumênica terá sempre poucos
resultados positivos.
Nesse ano de 2013, o tema proposto para a semana da unidade é a palavra
bíblica do profeta Miquéias: "O que Deus exige de nós?”. O próprio texto
responde: " Deus pede que pratiquemos a justiça e a bondade e vivamos com
simplicidade” (Mq 6, 6- 8).
Infelizmente, no mundo atual, um dos fenômenos religioso que mais
crescem é o fundamentalismo dogmático e moral. Em nome de Deus, essa corrente
religiosa prega a intolerância e a discriminação de grupos e pessoas. Hoje, no
Brasil, cada vez mais aumenta o número de deputados e políticos ligados a esses
grupos impropriamente chamados de "evangélicos”.
Dominam a Comissão de
Direitos Humanos da Câmara dos Deputados e impõem a toda a sociedade seus
preconceitos moralistas, afirmados em nome da Bíblia e de um Deus bem diferente
do Pai de amor maternal, revelado por Jesus e acreditado por muitas tradições
espirituais.
Nas Igrejas mais antigas, (como a Católica, Anglicana e Luterana), essa
semana de orações pela unidade dos cristãos prepara a festa de Pentecostes que
encerra o tempo pascal e celebra que o Espírito de Deus é dado a todo o
universo, aceita todas as culturas e se manifesta em todo gesto e ato de amor.
É esse espírito de abertura universal que a semana de oração pela unidade e os
fóruns de diálogo inter-religioso praticam.
Essas atividades de diálogo entre
Igrejas e religiões podem sim ajudar a nossa sociedade a não afundar em
projetos autoritários e fanáticos que oprimem e discriminam grupos e pessoas,
em nome da fé. Paulo escreveu: "Foi para que sejamos livres que Cristo nos
libertou. Permaneçam na liberdade” (Gl 5, 1). "Onde houver liberdade, aí
está o Espírito de Deus” (2 Cor 3, 17).
Fonte: http://www.adital.com.br
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