Pesquisa comprova que meditar ajuda a aprender mais – Por Paloma Oliveto
Preencher a mente com fórmulas, regras e dados tem sido a estratégia da
maioria dos estudantes que enfrentam testes como vestibular e Enem.
Esvaziar a
cabeça, contudo, pode ser uma ideia mais produtiva, de acordo com um estudo
publicado na revista Psychological Science, da Associação de Ciência
Psicológica dos Estados Unidos.
Uma pesquisa conduzida com universitários que
se submeteram ao graduate record examination (GRE), prova que habilita para
diversos programas de mestrado americanos e europeus, constatou que uma técnica
usada na meditação, o mindfulness, melhorou o desempenho dos alunos.
Presente em religiões e filosofias orientais há milênios, a prática
migrou do campo espiritual para os consultórios de psicologia. Na abordagem
cognitiva-comportamental, tem sido usada para desenvolver o autocontrole e o
autoconhecimento, melhorar a concentração e aliviar o estresse.
Até em casa,
durante as tarefas cotidianas, porém, é possível exercitá-la: de acordo com os
adeptos, para chegar ao nível pleno de consciência não é necessário estar
sentado, de olhos fechados e com as pernas cruzadas. De acordo com eles, mesmo
durante a faxina ou a ginástica pode-se afastar os pensamentos externos.
Na pesquisa, conduzida pela Universidade da Califórnia, em Santa
Bárbara, 26 universitários fizeram oito sessões de 45 minutos ao longo de duas
semanas. Os exercícios eram complementados nas atividades diárias, quando eles
tinham de colocar a técnica em prática, e em casa, onde precisavam meditar por
pelo menos 10 minutos adicionais. Na primeira metade do treinamento, os
estudantes se sentavam sobre almofadas, em círculo.
O instrutor os conduzia,
pedindo que focassem a atenção em algum aspecto sensorial, como a respiração, o
gosto de uma fruta ou o som de uma gravação. Nos 25 minutos finais, os
universitários recebiam lições sobre mindfulness e compartilhavam as
experiências pessoais vivenciadas durante o treinamento.
Nutrição
Para comparação, ao mesmo tempo, 22 estudantes da Universidade da
Califórnia receberam aulas de nutrição, em vez de meditação. O assunto foi
escolhido porque pesquisas sugerem que a alimentação também desempenhe papel
importante no processo cognitivo. Durante as aulas, os participantes tinham
lições sobre dietas saudáveis e, embora não precisassem seguir um regime
específico, foram instruídos a adotar hábitos benéficos.
No fim da pesquisa, os
48 universitários repetiram testes de fluência verbal e memória de trabalho, aquela que armazena informações importantes, que haviam sido feitos uma
semana antes do treinamento. O resultado surpreendeu os pesquisadores.
Em média, a nota dos estudantes que meditaram melhorou 16%, depois de
duas semanas de mindfulness. No teste verbal, a pontuação passou de 460 para
520. Já entre os universitários que receberam lições de nutrição, não houve
nenhuma diferença na performance. Segundo Michael Mrazek, aluno de graduação
que liderou o estudo, não há mágica por trás da técnica.
“Testes como o GRE e o SAT (exame para admissão em universidades
americanas) exigem foco e concentração. Nos Estados Unidos, temos uma indústria
de cursinhos que enchem os alunos de informação e macetes. Contudo, não adianta
gastar dinheiro se você não consegue se concentrar. O mindfulness tem esta
proposta: conseguir se dedicar plenamente ao que você está fazendo”, explica.
Mrazek acrescenta que outros estudos comprovaram os benefícios do mindfulness
para diminuição do estresse, da depressão e da dor, entre outros.
O futuro psicólogo explica que estudos dirigidos, como os dos cursinhos
pré-vestibulares, são baseados em tarefas focadas em uma habilidade cognitiva
específica. Por exemplo, resolução de centenas de equações.
“Na hora de fazer
os exames, porém, os candidatos geralmente estão com uma carga enorme de
estresse e se sentem pressionados.”
Complexidade
Especialista em mindfulness e autor de diversos artigos sobre o tema, o
psiquiatra David Vago, do Laboratório de Neuroimagem Funcional do Brigham and
Women’s Hospital, de Boston, afirma que, do ponto de vista científico, os
efeitos da meditação são bastante complexos.
“Conseguir se concentrar
completamente em uma tarefa não é uma simples dimensão da cognição. Na verdade,
isso envolve múltiplos mecanismos cerebrais”, afirma.
Em estudos que medem a atividade do cérebro por meio de exames como
ressonância magnética, o psiquiatra identificou que durante a meditação há
ativação de áreas relacionadas à motivação, à regulação da atenção e das
emoções, além do comportamento social.
“Ao treinar o mindfulness, o cérebro
reconhece essa intenção, então começa a tentar encontrar hábitos ruins que
dificultam a concentração. Nesse processo, é preciso controlar as emoções e o
comportamento. É realmente bastante complexo”, diz.
Segundo ele, embora pareça
difícil no começo, com a prática a pessoa consegue se distanciar dos
pensamentos negativos e inibir impulsos naturais.
“Assim como sessões diárias de musculação melhoram a parte física, fazer
exercícios de mindfulness pode deixar a mente em boa forma”, concorda o
neurocientista Amishi Jha, do Departamento de Psicologia e do Centro de
Neurociência Cognitiva da Universidade da Pensilvânia.
Ele liderou um
treinamento com militares americanos que se preparavam para servir no Iraque,
com o objetivo de ajudá-los a lidar com o estresse. Ao longo do programa, Jha
constatou que a meditação melhorou também o humor e a memória de trabalho dos
participantes.
Atualmente, Mrazek desenvolve um treinamento semelhante em colégios
públicos dos Estados Unidos. O objetivo é verificar se crianças e adolescentes
também podem se beneficiar da técnica.
Fonte: http://www.em.com.br
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