México investiga lenda de 'ressurreição' de narcotraficante 'santo' – Por Alberto Nájar

Há poucas semanas, a Polícia Federal mexicana prendeu um homem que se identificou como o suposto operador financeiro de Nazario Moreno González, o fundador dos cartéis de drogas Família Michoacana e Os Cavaleiros Templários.

As milícias de autodefesa que agem em Michoacán, lutando ilegalmente contra os narcotraficantes, impuseram a captura de González como condição para depor suas armas.

O problema, entretanto, é que "El Chayo", "Él Más Loco" ou "El Doctor", como se conhece Moreno González, está oficialmente morto: em dezembro de 2010 o governo do ex-presidente Felipe Calderón assegurou que ele foi abatido em um confronto com a Polícia Federal.

Três anos depois, essa versão começa a cair por terra. Em Michoacán, no oeste do México, muitos garantem que "El Más Loco" está vivo e que chefia as operações dos Templários.

A versão não foi desmentida pelo atual governo. O secretário executivo do Sistema Nacional de Segurança Pública, Monte Alejandro Rubido, disse que assim que houver novidades sobre Moreno González, estas serão divulgadas.

Vivo ou morto, "El Chayo" é um dos elementos centrais da guerra contra o tráfico de drogas no México, especialmente em Michoacán, onde agora se concentra o maior número de tropas e policiais federais do país.

Surrealismo

O jornalista José Gil Olmos, da revista Processo, que há muito tempo acompanha o conflito em Michoacán, afirmou que há um elemento "surrealista" na história.

"Nazario começou a criar dentro dos Cavaleiros Templários uma espécie de corrente religiosa e esotérica, porque ser apenas o líder não era suficiente", disse à BBC Mundo. "Ele decidiu sagrar-se como um santo e para fazer isso precisava morrer. Por isso foi declarado morto há quase três anos, mas ninguém fez o reconhecimento de seu corpo".

"Então, a partir de sua morte ele renasce em si mesmo e começa a ser criada essa história totalmente surreal do primeiro santo narcotraficante, que é como uma espécie de guia espiritual de um dos grupos mais organizados e ao mesmo tempo mais violento do tráfico de drogas no México".

As versões de que Nazario Moreno está vivo não são novas, e inclusive as primeiras referências apareceram dias depois de o governo Calderón o declarar morto. Há alguns dias, as milícias de autodefesa exibiram túnicas, imagens e capelas dos Templários onde aparentemente o líder criminoso realizava cerimônias de iniciação dos mais novos membros do cartel.

Em meados de 2011, na comunidade de Holanda, na região montanhosa ao sul do estado de Michoacán, foi construída uma capela para venerar a imagem de Moreno, a quem um jornalista local definiu ironicamente como "o único santo vivo que há no mundo".

Ainda que não haja confirmação de que "El Chayo" esteja vivo, a influência que exerce na região é importante, segundo Gil Olmos.

"É possível perceber sua liderança, todas as pessoas de Michoacán dizem que ele não morreu, até dizem que está em alguns povoados. Também dizem que ele comanda (o cartel) ao lado de Servando Gómez La Tuta. Nesse conflito, Nazario não é só o líder físico dos Templários, mas também o guia espiritual que aponta o caminho".

História Longa

Por que é possível a existência de uma personagem como "El Más Loco"? Segundo o especialista Martín Barrón, do Instituto Nacional de Ciência Penais, o que agora se vive em Michoacán é o resultado de um longo processo de conflitos e problemas sociais.

"A grande força cultural da religião católica está se perdendo nos últimos anos, porque estão aparecendo outras associações religiosas e isso tem causado conflitos nas comunidades", disse à BBC Mundo.

À essa mistura, se soma o abandono do poder público por vários anos, abrindo uma espaço que foi ocupado por grupos de criminosos organizados, segundo Barrón.

Nazario Moreno criou um grupo de ajuda a jovens dependentes de drogas, que, ao longo dos anos, serviu de local de recrutamento de empregados e assassinos do grupo criminoso.

O aspecto semirreligioso que deu à sua organização é um dos elementos de união do grupo e ao mesmo tempo fornece uma capa de proteção social nas comunidades onde opera, concordam analistas e autoridades.

Também por essa razão é difícil combater a influência de "El Más Loco" em Michoacán, afirmou José Gil Olmos. "As pessoas buscam coisas para acreditar e criam esses santos populares, mas por outro lado temos esse personagem que gosta tanto de si mesmo que decidiu se tornar um deles".





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