São os católicos os novos excluídos da sociedade?

"Os católicos franceses esquecem com frequência, ou não conseguem mais ver, porque já parecem naturais e legítimas ou porque não conseguem se colocar no lugar da minoria, suas vantagens de "primogênitos”: 
a presença considerável na República, o imenso lugar da tradição católica na cultura, nas referências espaço-temporais, na linguagem diária... e mesmo na laicidade republicana”. 

A análise é de Jean-Louis Schlegel, em artigo publicado no sítio da revista francesa La Vie, 24-01-2014. A tradução é de André Langer.

Jean-Louis Schlegel é socióloga das Religiões, editor. Recentemente dirigiu, com Denis Pelletier, a obra coletiva: A la gauche du Christ, chrétiens de gauche en France de 1945 à nos jours (Seuil, 2012).

Eis o artigo:

Alguns católicos sentem-se desprezados. Eles comparam sua situação com a sorte dada aos judeus e muçulmanos. Esses últimos parecem beneficiar-se de múltiplas atenções das quais eles se sentem excluídos. Bispos, como o de Gap e Embrun, Jean-Michel di Falco, transmitiram essa mensagem. Esses católicos acreditam que o governo e, em primeiro lugar, o Presidente não somente não gostam deles, mas que os discriminam, ignoram, desprezam, fazem leis anticristãs...

O Femen [grupo ucraniano feminista de protesto] e seus seios nus tornaram-se, para alguns, uma verdadeira obsessão após a simulação de um aborto na Igreja da Madalena, em Paris, uma profanação que, segundo eles, não recebeu uma condenação inequívoca por parte dos dirigentes socialistas ou, ao menos, não tão rápida quanto devia. Em todas as partes eles veem a prática do "dois pesos, duas medidas”: nenhuma piedade para Dieudonné e seus espetáculos antissemitas, mas liberdade para a peça de teatro Golgota Picnic. Sem falar das caricaturas de Cristo e da zombaria anticristã no dia a dia. Eles se recordam que os dirigentes políticos defenderam unanimemente Charlie Hebdo, após as caricaturas do profeta Maomé. Os mesmos não esquecem de denunciar a proibição dos presépios de Natal, dos bolos folheados nas escolas, dos toques de sinos... nas administrações, prefeituras e tribunais.

Longe de mim a ideia de negar o sofrimento desses católicos, seu sentimento de injustiça, sua impressão de serem desprezados. Longe de mim a ideia de dizer que eles estão errados. Mas eles não percebem que confirmam ou lembram implicitamente do seu desejo para o que estamos caminhando a passos largos: uma "comunidade católica”, como dizem os meios de comunicação, tratada cada vez mais como as outras "comunidades”, judaica, muçulmana, protestante ou também budista, estabelecidas em território francês.

Os políticos sofrem de um certo atraso para pensar em manifestar a esse grupo sua simpatia nos momentos de festas ou de suas condolências por ocasião dos golpes duros, mas isso virá. Entretanto, assim como as comunidades minoritárias, a católica deverá diminuir a pretensão de ainda influenciar a vida pública. De certo modo, a famosa audiência sobre a igualdade de seis representantes dos cultos na Assembleia Nacional, em novembro de 2012, para dizer sua opinião sobre o Projeto de Lei Taubira, era simbólica, de maneira caricatural, da evolução em curso (e desastrosa, na ocasião, para as religiões, não obstante a mediocridade das respostas dos políticos).

Não que não houvesse nenhuma especificidade "comunitária” que explicasse, na ocasião, as diferentes políticas: assim, o antissemitismo após o Holocausto já não tem o mesmo significado de antes e justifica uma atenção própria para com os judeus por parte dos poderes públicos; as dificuldades de integração dos muçulmanos, socialmente discriminados e estigmatizados, requerem sinais de reconhecimento por parte do Estado, etc. E os cristãos, dir-se-á, qual é a sua especificidade? Vem-me à mente a resposta do pai ao filho mais velho na Parábola do Filho Pródigo. Ao filho mais velho, que se gabava de trabalhar há tantos anos na casa do pai e sem jamais ter desobedecido a uma ordem do pai e sem nunca ter recebido sequer um cabrito "para festejar com meus amigos”, o pai responde: "Meu filho, tu sempre estás comigo, e tudo o que é meu é teu...” (Lc 15,29-31).

Os católicos franceses esquecem com frequência, ou não conseguem mais ver, porque já parecem naturais e legítimas ou porque não conseguem se colocar no lugar da minoria, suas vantagens de "primogênitos”: a presença considerável na República, o imenso lugar da tradição católica na cultura, nas referências espaço-temporais, na linguagem diária... e mesmo na laicidade republicana. Certamente, há velhos ressentimentos históricos, mas a República considerou até o presente momento que os católicos estavam tão incluídos que nunca precisou dar provas de amor e de estima.

Mas é possível, com efeito, que a sociedade moderna avance sem os católicos que, órfãos ou viúvos de um mundo que não existe mais, dela se sentem excluídos, "exculturados”, como disse a socióloga Danièle Hervieu-Léger. Eles denunciam agora, assim como outrora, a maldade dos inimigos internos e externos. Um sério exame de consciência não é da sua conta. É melhor colocar-se entre as vítimas e os resistentes de uma sociedade desolada e desoladora. A adversidade favorece a coesão, a identidade, os caminhos apertados. A não ser que seja uma armadilha: por causa do Evangelho, não são esses os inimigos, marcados, identificáveis, bem visíveis, que são o problema, mas o imenso continente de indiferentes da "periferia”, aqueles que um certo Francisco de Roma evoca tantas vezes.





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