Movimentos negro e hip-hop ajudam a atrair fiéis ao islamismo nas comunidades carentes - Por César Rosati



Para a pesquisadora Bianca Tomassi, não se trata de uma coincidência, mas de um resgate de memória.

Kaab Al Qadir já foi César Matheus. Muçulmano e morador da Favela Cultura Física, em Embu das Artes, na Grande São Paulo, ele diz ter conhecido o Islã há cerca de 20 anos. A palavra do profeta Maomé chegou até as mãos dele pelo livro do ativista americano Malcom X, um dos maiores defensores do nacionalismo negro nos Estados Unidos. Na época, ele ainda cumpria pena por ter vivido no sistema, como ele se refere ao mundo do crime.

Não gosta de falar sobre o passado dentro da cadeia nem o motivo que o levou para lá, mas afirma que foi graças ao Islã que a vida dele mudou. Após conhecer a religião, montou um grupo de rap chamado Organização Jihad Brasil. Na religião, a palavra jihad significa empenho, esforço ou até mesmo luta para difundir a teoria do islã.

Porém, o nome também virou sinônimo para Guerra Santa, o que, de acordo com Kaab, lhe trouxe problemas. As letras eram pesadas aos ouvidos dos muçulmanos, pois mesclavam termos da religião com palavrões. Isso fez com que ele saísse do grupo. 

Atualmente, ele coordena uma associação que faz trabalhos sociais na Favela Cultura Física. A entidade promove saraus de rap e palestras sobre intolerância religiosa. Kaab também mantém uma pequena sala de orações, chamada de Mussala. O espaço é frequentado por cerca de 20 pessoas semanalmente.

Lá ele não perde a oportunidade de falar sobre o Islã e tentar desmistificar o estigma da religião, tachada de terrorista. Já chegaram a procurá-lo achando que a sala de orações dele era um esconderijo de armas. 
 
Em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, conhecemos a história de Honerê Al-Amin. Registrado como Carlos Soares Correa, ele nasceu na periferia de Diadema e tem 38 anos, 19 dedicados ao Islã. Engajado no movimento negro e também no hip-hop, Honerê chegou até a religião pelos livros de história e hoje é considerado um dos principais interlocutores da religião muçulmana na periferia da Grande São Paulo.


As histórias de Honerê e Kaab têm um ponto comum: ambos conheceram o islã pelo movimento negro ou pela cultura hip-hop. Para a pesquisadora Bianca Tomassi, que em seu trabalho de mestrado estudou a música como propagação da religião na favela, não se trata de uma coincidência, e sim de um o resgate de uma memória.




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