Igreja leva «dose de espiritualidade» às prisões em Portugal
O subdiretor geral dos Serviços
Prisionais, Jorge Azevedo, qualificou hoje de “altamente positivo” o
“contributo e presença muito efetiva” da Igreja Católica nas prisões.
As declarações do responsável à
Agência ECCLESIA foram prestadas na abertura do encontro sobre Envelhecimento
Ativo e Diálogo Intergeracional em Contexto Prisional, que decorre em Lisboa.
O coordenador nacional da
Pastoral Penitenciária explicou que a Igreja trabalha para que o recluso
“valorize a vida e o tempo, ao mesmo tempo que se recompõe interiormente,
pacificando-se com ele próprio, a família, as pessoas que prejudicou e a
sociedade, de modo a voltar para o exterior capaz de lutar por um futuro
risonho”.
O Estado “tem vindo a valorizar
cada vez mais a presença das pessoas que levam alguma dose de espiritualidade”
às cadeias, fator “importante não só para apaziguar os reclusos e o ambiente na
prisão, mas também para os recuperar em relação ao exterior”, notou o padre
João Gonçalves.
“A legislação prevê que a Igreja
preste um serviço a quem o pede, o que coloca alguma dificuldade em fazermos a
primeira evangelização. Se a cumpríssemos com todo o rigor, quase que não nos
poderíamos dirigir às pessoas”, observou, ressalvando que essas “limitações”
advêm do acordo entre Portugal e a Santa Sé (Concordata).
O sacerdote salientou que a
Igreja Católica em Portugal tem um “trabalho enorme” a fazer na prevenção da
criminalidade e no apoio a quem regressa à liberdade, já que a Pastoral
Penitenciária é mais do que a proximidade aos reclusos através dos capelães e
visitadores leigos.
“Há dioceses de Espanha que têm
um núcleo de Pastoral Penitenciária em praticamente todas as paróquias, o que é
fabuloso para quem sai da prisão e sabe que pode contar com quem o apoie e
ajude na reintegração”, referiu.
Depois da cadeia o capelão é uma
“referência”: “Eles [ex-reclusos] sabem que nós somos sempre o ombro; podemos
não dar tudo mas damos acolhimento e orientamos para quem os pode ajudar”,
adiantou.
O deputado Fernando Negrão, do
PSD, afirmou que a Igreja está “sempre ao lado dos mais esquecidos dos
esquecidos” e frisou que Portugal está “em dívida com a Cáritas”.
“A Igreja Católica é fundamental
na ação social em Portugal. Sem ela teríamos uma crise por cima da que já
existe”, sublinhou.
Fernando Negrão também destacou o
contributo da espiritualidade para a recuperação e reinserção dos reclusos na
sociedade: “É um aspeto muito importante de que se fala cada vez menos”.
Eugénio Fonseca, presidente da
Cáritas Portuguesa, entidade que organiza o encontro, realçou que a reflexão
sobre a população sénior nas prisões é uma iniciativa “única” em Portugal, no contexto
do Ano Europeu do Envelhecimento Ativo e da Solidariedade entre Gerações, que
se assinala em 2012.
A “exclusão” dos idosos, que
“deixaram de ter valor e passaram a ter preço”, agrava-se no caso de pessoas
que ficaram “longo tempo afastadas da sociedade”, vincou o responsável, antes
de anunciar que a instituição está empenhada em dar “atenção especial” ao
envelhecimento na prisão, aprofundando a colaboração que vem mantendo com a
Pastoral Penitenciária ao nível do voluntariado.
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