Baixa inserção no mercado ameaça ciências humanas na França – Por Nathalie Brafman



Na França, as ciências humanas e sociais muitas vezes são estigmatizadas no plano da pesquisa, em comparação com as ciências exatas (física, matemática etc.), mas também com o pretexto de que elas só produziriam desempregados. 

"Não cuidamos o suficiente das ciências humanas e sociais", reconhece Geneviève Fioraso. A ministra do Ensino Superior e da Pesquisa deve anunciar um plano global de apoio e de reposicionamento das ciências humanas durante o primeiro Salão de Inovação em Ciências Humanas e Sociais, na quinta-feira (16) e sexta-feira (17), que pretende valorizar a pesquisa nesses domínios.

Uma das partes desse plano dirá respeito à inserção profissional. "O problema não é tanto encontrar um emprego. É mais a adequação entre o diploma obtido e o trabalho ocupado", ressalta a ministra. 
Estão em questão setores que formam uma única profissão dominante, como História, que leva à profissão de professor. No entanto, somente 11% dos estudantes procuram essa profissão. 
Resultado: é a área com a pior qualidade de inserção. O índice de contratos de duração determinada é de 42% e somente 50% têm nível de chefia. Entre os estudantes de línguas, letras e artes, esse índice cai para 42%.
A psicologia tampouco tem uma reputação muito boa em matéria de inserção. Embora 90% dos estudantes desse setor encontrem emprego, menos de 10% deles são psicólogos profissionais. 
Isso significa que para a maioria deles a inserção não foi levada em consideração em sua formação, e ainda menos preparada. Um consolo: poucos deles são superqualificados para a função (82% têm nível gerencial), mas a porcentagem de contratos de duração indeterminada não é boa (51%). Todos esses setores deverão obrigatoriamente reestruturar seus cursos.

Doze disciplinas raras

A outra parte envolve as disciplinas raras. A raridade se dá em função do pequeno número de especialistas, como em antropologia, onde há 200 professores pesquisadores para cada 3.700 estudantes, ou ainda em urbanismo (255 para 4.700); mas também leva em consideração o pequeno número de alunos. É o caso da literatura e das línguas antigas: 1.520 estudantes para cada 348 professores pesquisadores.
Em certas disciplinas, como as línguas raras, às vezes há somente um especialista habilitado para conduzir pesquisas, como em ucraniano, por exemplo. E quando a procura pelo coreano sobe, a demanda pelo vietnamita cai. 
"Qualquer que seja a disciplina, é preciso ter uma massa crítica para garantir um corpo docente, ter tempo para a pesquisa e estudantes que embarquem em uma pós-graduação para alimentar a disciplina e garantir a renovação do quadro", afirma Manuel Tunon de Lara, presidente da Universidade Bordeaux Segalen.
O ministério calcula que um curso com menos de 400 professores pesquisadores se encontra ameaçado. Doze disciplinas raras já foram levantadas: desde teologia até história do direito, passando por ciências políticas, filosofia e línguas. Departamentos inteiros estão desaparecendo. Em várias instituições, as línguas eslavas, germânicas, romanas e orientais estão em situação delicada, sem falar no grego e no latim.

Contexto orçamentário tenso

Para evitar o fim de sua graduação em letras clássicas, três anos atrás a Universidade Jean-Monnet de Saint-Etienne teve de se aproximar da Lyon-2 e da Lyon-3, que também passavam por uma queda no número de estudantes. 
"Em anos bons havia uma dezena deles no primeiro ano de letras clássicas. Mas às vezes seu número caía para cinco ou seis. Isso se tornou insustentável", lembra Khaled Bouabdallah. "Evidentemente, se tivéssemos seguido os conselhos de uma consultoria de redução de custos, teríamos fechado."
As três universidades decidiram lançar uma licenciatura conjunta, dividindo as despesas. Já no primeiro ano a turma atingiu cerca de trinta alunos. Os alunos inscritos em letras clássicas assistem às aulas de grego e de latim na universidade de Lyon-2 ou Lyon-3
Os demais frequentam a Saint-Etienne e são agrupados com os estudantes de letras modernas. Evidentemente, no início alunos e professores reclamaram um pouco. E ainda há questões em suspenso, como a cobertura do custo de deslocamento dos estudantes.
Dentro de um contexto orçamentário tenso, as universidades não poderão se dar ao luxo de manter todos os cursos. Está sendo feito um mapeamento das disciplinas raras, universidade por universidade. 
Ele deverá em seguida resultar em dois tipos de medidas: um observatório para regular os recrutamentos, e meios específicos para ajudar as universidades a funcionarem em rede quando a reserva de professores for pequena demais. 
Além disso, haverá um fundo de consolidação nacional para acompanhar a reforma de projetos pedagógicos e a manutenção de equipes locais, quando não houver um número muito grande de alunos.



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