Universitário funda a primeira igreja para gays em MT: 'Tudo é permitido'
Há três meses, o
estudante de teologia e letras, Cesar Loyola, de 23 anos, fundou a primeira
Igreja da Comunidade Metropolitana (ICM) em Mato Grosso.
Até agora ele atraiu
13 membros, todos homossexuais, para a instituição que prega parte do evangelho
cristão, principalmente para o público LGBT. Ele contou que a ideia de abrir a
igreja no estado surgiu porque se sentia sem amparo religioso e discriminado
nas outras igrejas por ser homossexual. Na igreja, tudo é permitido, desde que
não fira o próximo, conforme o 'pastor leigo'.
“Fui em várias
igrejas de Cuiabá e não me encontrava, não me sentia
bem, me sentia discriminado mesmo. E eles têm aquele discurso de 'nós aceitamos
o pecador, mas não pecado', mas isso é hipocrisia porque na verdade eles não
amam nenhum dos dois. Querem que se encaixem nas 'caixinhas' deles e eu não me
encaixava”, afirmou o pastor leigo, como é chamado, já que ainda não concluiu o
curso de teologia mas já é líder da igreja.
Cesar Loyola
contou ter participado dessa igreja por dois anos e a relação de amor ao próximo
pregada o atraiu. Após se mudar para Cuiabá, conversou com o responsável pela
Comunidade Metropolitana no Brasil e recebeu autorização para dar início ao
processo de implantação da igreja na capital mato-grossense.
O universitário,
que havia participado dessa mesma igreja no período em que morou em São Paulo,
vinha realizando encontros desde o ano passado na tentativa de formar grupo,
porém, tinha dificuldade de atrair adeptos, já que, na avaliação dele, há
preconceito por parte dos próprios gays.
"O preconceito se dá porque há
anos existe esse discurso de que eles são condenados, que os gays vão para o
inferno, que têm que mudar, têm que se curar, então eles criaram uma
barreira", afirmou ao G1.
Os cultos seguem
as premissas cristãs e alguns trechos da bíblia. “Nós temos a bíblia como um
livro de orientação mesmo. Não seguimos a bíblia integralmente, ao pé da letra,
porque a gente entende que corremos uma série de riscos. Hoje, os gays são
acusados de pertencer ao demônio e de pecadores por causa dessa interpretação
literal da bíblia”, analisou o líder da igreja, ao enfatizar que a ICM se
apresenta como uma orientação e não como um manual de regras, onde tudo é
permitido, desde que não fira o próximo, como o previsto na bíblia.
“A igreja não diz o que a pessoa vai fazer.
Acreditamos que quem define o que pode ou não é a relação dela com Deus”,
disse. Sobre a formação da família, o universitário disse que a escolha cabe ao
fiel.
Qualquer decisão sobre a escolha do parceiro, independentemente do sexo, é
respeitada. “Se a pessoa quiser ficar sozinha, nós respeitamos, se ela quiser
ter um parceiro seja gay ou heterossexual, nós respeitamos. Se ela é bissexual
e tem dois parceiros, uma mulher e um homem, respeitamos também”, reafirmou.
Apesar de todos
os frequentadores serem gays, a igreja é aberta a todos. “Entendemos que todos
são filhos de Deus. Então, não importa a raça, o credo, não importa orientação
sexual, a gente vai partir do princípio que todos são aceitos, todos são bem
vindos", enfatizou o estudante.
Para ele, os
homossexuais já nascem com essa orientação sexual e alega não acreditar que
pessoas sejam curadas. "Como não acredito em cura, acho que essas pessoas
que se dizem ex-homossexuais vivem em constante conflito e negação de si. É
algo que é meu. Quando dizia que não era gay e não me aceitava, vivia oprimido.
Não era oprimido pela sociedade, mas por mim mesmo”, relatou.
Loyola não é um
pastor porque ainda não concluiu o curso de teologia. Ele pretende se tornar
reverendo, atuar como um pastor da igreja, mas para isso é necessário que os
membros o elejam e, em seguida, seja ordenado. Por enquanto, ele atua como
liderança e é denominado 'pastor leigo'.
Um dos membros
da igreja, Matthews Galvão disse que se sentiu acolhido na igreja. “Quando
frequentava outras igrejas, não me sentia bem, me sentia oprimido. Há três
meses frequento a metropolitana e lá descobri um lugar onde posso ser eu mesmo.
Tenho liberdade para me expressar, dialogar com todos. Acho que a igreja é
muito importante para a sociedade, principalmente para aqueles que necessitam
desse amparo”, disse.
No Brasil, a
comunidade metropolitana está presente em 12 estados, sendo esse grupo o
primeiro do estado. A igreja foi fundada em 1968 nos Estados Unidos e
atualmente está em mais de 30 países. Em Cuiabá, a implantação está em fase
inicial. "O processo de implantação da igreja, começa com um grupo e
depois se torna missão, que aí já tem mais cara de igreja. E depois é
considerado uma igreja mesmo”, explicou César.
Por enquanto, os
cultos são realizados em um local cedido e fica na Avenida Cuiabá, no bairro
Cohab Nova, na região central da capital. Os encontros acontecem aos sábados.
Fonte: http://g1.globo.com
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