Pai do programa nuclear do apartheid morre na África do Sul
O físico Louw Alberts, pai do
programa nuclear da África do Sul do apartheid, morreu esta semana em Pretória
aos 89 anos, informou neste domingo o jornal Sunday Times.
Alberts revelou de uma forma
curiosa e involuntária as ambições nucleares da África do Sul em 1974, quando
era vice-presidente do Conselho Sul-Africano de Energia Atômica.
O físico participava de um
encontro com estudantes em um instituto de ensino médio, quando respondeu a um
aluno que qualquer país com o conhecimento sobre energia atômica que a África
do Sul tinha podia fabricar uma bomba nuclear.
Para surpresa de Alberts, alguém
presente na audiência contou o que ouviu para a imprensa. O governo desmentiu que a África
do Sul quisesse produzir uma bomba, e tanto o primeiro-ministro do país, John
Voster, como o ministro da Defesa, Pieter Willem Botha, recriminaram Alberts
pela declaração.
No entanto, em 1977 os Estados
Unidos e a URSS anunciaram que a África do Sul tinha realizado testes nucleares
no país, no deserto do Kalahari. O ministro da Informação do
regime do apartheid, Connie Mulder, reconheceu então que o governo utilizaria
armamento nuclear caso fosse atacado.
Alberts assumiu em 1984 a direção
geral do Ministério de Minas e Assuntos Energéticos. No cargo, aboliu no setor
a proibição da expedição de certificados de qualificação de trabalhadores não
brancos, o que condenava os negros a ficaram com os piores empregos.
A medida provocou hostilidade da direitista
União de Trabalhadores Mineiros, que se negou a emitir certificados de
qualificação para os trabalhadores negros. De profundas convicções cristãs,
Alberts defendeu com paixão em muitos debates e vários livros o caráter
complementar da ciência e da religião.
Seu envolvimento com grupos
ecumênicos liberais fechou as portas para ele da influente Afrikaner Broerbond,
irmandade fundada para promover os interesses do povo afrikaner (descendentes
dos colonos centro-europeus na África do Sul), da qual pertenceram todos os
primeiros-ministros e presidentes do regime racista.
Alberts também teve um papel
importante nas conversas políticas para desmantelar o apartheid. Em 1991, Mangosuthu Buthelezi,
líder do Inkhata, partido da etnia zulu e rival do Congresso Nacional Africano
(CNA), de Nelson Mandela, retirou-se da mesa de negociações.
Alberts pediu emprestado então o
avião privado de um amigo e viajou até a província de Kwazulu-Natal para
convencer Buthelezi a voltar a negociar. Personalidade complexa e contraditória,
típica da convulsa história sul-africana, Alberts deixa mulher e quatro filhos.
Fonte: http://noticias.terra.com.br
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