"Estado Islâmico" leva mundo árabe a debater relação entre terrorismo e religião
Enquanto países muçulmanos apoiam
os ataques aéreos dos EUA contra o "Estado Islâmico", cresce no mundo
árabe o debate sobre a conexão entre o islã e o terrorismo.
O teólogo islâmico Yusuf al-Qarawadi, do Catar, mostra-se insatisfeito com a existência de uma aliança liderada pelos Estados Unidos para combater o grupo terrorista "Estado Islâmico" (EI). Ao mesmo tempo, diz ser contra a ideologia extremista defendida pelos jihadistas.
"Eu nunca vou aceitar que o
país que vá combater o EI seja os EUA. Eles não são guiados por valores
islâmicos, mas por interesses próprios, mesmo quando sangue é derramado",
argumenta.
A declaração desse teólogo de 88
anos foi colocada no Twitter e logo causou polêmica: Qarawadi, com seu programa
de TV Al-Sharia wa'l Hayat (A sharia e a vida), transmitido pela emissora
catari Al Jazeera, é um dos pregadores de TV mais populares do mundo árabe.
"Como entender essa
declaração diante de todos os crimes cometidos pelo EI?", escreveu o
colunista político Tariq Alhomayed no jornal Al-Sharq al-Awsat.
"Qarawadi
é mesmo contra o 'Estado Islâmico'? Argumentos como esse estão defasados,
afirma. "Vivenciamos uma total rejeição ao extremismo religioso seja ele
sunita ou xiita."
Islã e terrorismo
Diante das atrocidades cometidas
pelo "Estado Islâmico", o papel do islã passou a ser intensamente
discutido pela opinião pública do mundo árabe.
A jornalista Raghida Dergham,
que escreve para o jornal pan-árabe Al Hayat, relata que, nos Estados do Golfo
Pérsico, a linha divisória passa justamente entre as lideranças estatais e
alguns apoiadores dentro da população.
"Os governos descrevem o EI
como uma 'ameaça existencial', enquanto parte da opinião pública simpatiza com
o EI e suas causas", diz. Segundo a jornalista, alguns simpatizantes veem
o grupo sunita como um contrapeso à dominância xiita, cada vez mais ameaçadora.
As divergências, no entanto, vão
ainda mais longe, escreveu o Al Hayat, e chegam até a interpretação do que o
islã permite e não permite. Para a maioria, as ações do "Estado
Islâmico" não tem nada que ver com o islã, que não pode ser
responsabilizado por elas.
Já alguns apoiadores descreveram
o EI como a personificação do "islã puro", durante uma conferência em
Riad, na Arábia Saudita, na semana passada, relata Dergham. Por esse motivo,
completa a articulista do Al Hayat, eles não qualificam as ações do grupo
radical de terrorismo.
Segundo Dergham, grande parte da
elite política árabe vê isso de forma completamente diferente. No encontro, o
ex-ministro da Informação do Kuwait Saad bin Mohammed bin Tefla criticou
duramente as tradições e práticas religiosas que formam a base ideológica do
EI.
"Não podemos dizer que essas pessoas não têm nada a ver com o
islã", disse o ex-ministro, citado pelo Al Hayat. Essa conclusão mostra a dimensão
do debate no mundo árabe.
"O EI, o Hisbolá e a Irmandade Muçulmana
representam ou não o islã político? A resposta é: sim. Em todas as suas
práticas, esses grupos fazem alusão a fatwas (leis) do islã político. Portanto,
está mais do que na hora de debater os valores que fundamentam nossa filosofia
educacional", escreve a jornalista.
Fonte: http://www.opovo.com.br
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