Os muçulmanos franceses se mobilizam pela primeira vez contra o Califado – Por Carlos Yárnoz
Entre 1.500 e 2.000 pessoas
participaram do protesto diante da Grande Mesquita de Paris, que teve a
presença de líderes de diferentes religiões.
Entre 1.500 e 2.000 muçulmanos se
manifestaram depois da oração da sexta-feira (26/09), diante da Grande Mesquita de
Paris, para demonstrar sua oposição ao denominado Estado Islâmico (EI)
e para mostrar sua repulsa pelo assassinato do francês Hervé Gourdel na
Argélia, na quarta-feira (24/09).
A primeira mobilização dos muçulmanos da França
(cinco milhões de pessoas, 7% da população) contra o EI, que foi significativa
mesmo não tendo sido numerosa, contou com representantes católicos, judeus,
protestantes e com a prefeita de Paris, Anne Hidalgo, mas também com o repúdio
de grupos que entendem que a islamofobia cresce ultimamente porque os
muçulmanos estão sendo apontados como “suspeitos”. Mais protestos estão sendo
anunciados para os próximos dias.
“Não conheço o Islã que corta o
pescoço de seres humanos”, comentava a este jornal Rabia Afraim, “francesa de
origem argelina”. Junto dela, Saida, também de origem argelina:
“Não há lugar
para assassinos no meu Islã, e o digo porque durante 14 anos estudei o Corão e
textos muito antigos”. Sua amiga Elisabeth, cristã, comenta que foi ao protesto
porque todos devem se sentir “muito unidos frente ao terrorismo”.
“Não use meu
nome para praticar o terrorismo em nome de nenhuma religião”, acrescenta Myra
Mahdy, que se manifesta com um pequeno cartaz no qual se lê #NãoEmMeuNome, o
selo utilizado nas redes sociais, idêntico ao de #NotInMyName usado no Reino
Unido.
As declarações dos participantes
refletiram o espírito do ato, realizado aos pés do minarete de 33 metros da
imponente Grande Mesquita, construída há um século em estilo neomudéjar em
homenagem aos muçulmanos que participaram na I Guerra Mundial.
O protesto, que
não foi seguido por dezenas de fiéis que haviam acabado de orar, foi organizado
por Dalil Boubakeur, presidente do Conselho Francês do Culto Muçulmano (CFCM),
o mais representativo dessa comunidade na França.
Ao lado dele, na entrada do
centro religioso, tomaram a palavra os dirigentes religiosos e políticos. “O
Islã é uma religião de paz”, reiterou Boubakeur, também reitor da mesquita.
“Não temos que nos justificar”, disse, “mas apoiamos os familiares de Hervé
Gourdel”, assassinado “por homens sem religião nem lei”, afirmou a prefeita
Hidalgo.
“Nós
também somos franceses sujos”, afirmam dirigentes da comunidade muçulmana da
França em um manifesto.
“Não tínhamos nos manifestado até
agora porque nós também estamos aterrorizados”, conta o jovem Riadh. “Os
muçulmanos são as primeiras vítimas dos jihadistas”.
“O jihadismo não é
muçulmano. São bandidos. O Islã é paz, não conhecemos a barbárie”, comenta Sow
Abdel-Kabergous, senegalês de nacionalidade francesa.
A poucos metros deles, Gil Taïeb,
vice-presidente do Conselho Representativo de Instituições Judaicas da França
(CRIF), intervém para dizer ao jornalista:
“Um cidadão foi assassinado por ser
um francês sujo. Dessa forma, para eles somos todos judeus sujos, muçulmanos
sujos, cristãos sujos. Temos que estar unidos”.
“Nós
também somos franceses sujos” é o cabeçalho de um manifesto em resposta ao
termo usado na semana passada por um porta-voz do EI para conclamar ao
assassinato de cidadãos da França.
Entre os quinze signatários, a
vice-presidenta do Senado Bariza Khiari, o cineasta Saad Kiari, a antropóloga
Dounia Bouzar, o financista Abderahim Hamdani e Marwane Ben Yahmed, diretor do
semanário Jeune Afrique.
“Nós, franceses da França e de confissão muçulmana,
denunciamos todas as ações cometidas em nome de uma mortífera ideologia que se
esconde atrás da religião islâmica confiscando seu vocabulário”, afirmam.
A mobilização da coletividade
muçulmana acontece quando diversos meios de comunicação a reclamavam há
semanas. Os dirigentes muçulmanos se queixam de que a imprensa não divulga suas
mensagens contra os radicais, mas também de que estão sendo excessivamente
marcados ultimamente.
A sensibilidade está à flor da pele. Ela cresceu no verão
com as violentas manifestações de muçulmanos contra Israel por conta da guerra
de Gaza e os ataques a judeus (600.000 pessoas na França).
Na quinta-feira, o jornal Le
Figaro perguntou a seus leitores se eram “suficientes” os protestos dos
muçulmanos franceses contra o EI. O diário teve de interromper a pesquisa de
opinião diante da avalanche de críticas.
Fonte: http://brasil.elpais.com
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