Ban Ki-moon pede que terrorismo não seja visto como uma "guerra de religiões"
O secretário-geral da ONU, Ban
Ki-moon, lançou nesta quinta-feira uma dura crítica ao extremismo e a
"brutalidade" do terrorismo, mas pediu que ele não seja visto como
"uma guerra de religiões, pela religião ou sobre religiões".
Em declarações aos jornalistas
após apresentar um relatório na Assembleia Geral, Ban fez um pedido à
tolerância e ao entendimento e denunciou o "extremismo e a atroz
brutalidade" dos atos terroristas.
"Estão alcançando uma
escalada preocupante e fomentando as divisões dentro das comunidades e das
sociedades", disse Ban, que mencionou o recente atentado em Paris contra a
revista satírica Charlie Hebdo, que deixou 12 mortos.
Ban Ki-moon disse ter ficado comovido com
as imagens do "desprezível ataque" à revista francesa e horrorizado
com o "assassinato sem compaixão" de um policial na calçada em frente
a sede do veículo.
"Já conhecemos esse homem.
Se chamava Ahmed Mirabet. Ele mesmo era muçulmano", disse Ban. Os
atacantes, como mostraram os vídeos gravados por testemunhas, saíram do lugar
invocando o nome de Alá e dizendo que haviam "vingado o profeta".
"Isto é uma lembrança do que
enfrentamos. Nunca pode ser visto como uma guerra de religiões, pela religião
ou sobre religiões. O terrorismo é um ataque a nossa humanidade, designado para
aterrorizar e incitar", enfatizou.
Também assinalou que os
terroristas buscam exatamente gerar maior ódio e uma espiral de violência e a
comunidade internacional "não pode cair nessa armadilha".
"Temos que encontrar uma
forma para viver juntos, em paz, em harmonia, com respeito total aos direitos
humanos universais e às liberdades fundamentais", recalcou.
Ao ser perguntado sobre
legislações aprovadas em alguns países para evitar difamações à religião, Ban Ki-moon disse que "a difamação de qualquer religião ou crença é algo que não é
aceitável".
Mas, ao mesmo tempo, apontou que
"outro tema é tomar medidas contra a liberdade de expressão", e pediu
o fomento de iniciativas como a Aliança das Civilizações e o diálogo entre os
diferentes credos para estimular a tolerância.
O terrorismo também foi um dos
temas mencionados por Ban Ki-moon na exposição que fez na Assembleia Geral ao fazer
resumo das ações desenvolvidas durante o último ano e os desafios que há para o
presente.
"O terrorismo continua sendo
uma ameaça global", com ataques que se registram tanto no Iêmen como em
Paris, com uma dimensão especial pelos milhares de combatentes estrangeiros
recrutados por grupos radicais na Síria e no Iraque.
"Nossa resposta ao
extremismo e à brutalidade não pode se limitar à ação militar, por mais
importante que seja", disse, e pediu à comunidade internacional se volte a
favor de um esforço "muito mais amplo para atender as razões que alimentam
este veneno".
Também chamou a atenção sobre a
necessidade de os direitos humanos serem respeitados nas ações militares contra
os terroristas para evitar "ações contraproducentes".
"Vimos várias vezes, que
(esta falta de respeito) resulta em um encorajamento para o recrutamento de
terroristas", insistiu.
Ban Ki-moon se referiu aos diferentes
conflitos internacionais que o mundo enfrentou ano passado, como o da Síria,
"que continua ocasionando um sofrimento imenso", e a violência no
Sudão do sul, na República centro-Africana, no Mali e na República Democrática
do Congo.
"O caos se estende na Líbia
e também cresce a violência no Iêmen", afirmou, e citou também o conflito
da Ucrânia, que já deixou quatro mil mortos e "pôs em risco a estabilidade
na Europa ao reatar os fantasmas da Guerra Fria".
Estes conflitos, e crises como a
do ebola na África, puseram o sistema das Nações Unidas "no limite"
ano passado, mas Ban Ki-moon acredita que 2015 deverá ser "um ano de oportunidades".
"Trabalhemos juntos para
fazer com que este ano de 2015 seja um período para a ação global",
finalizou Ban Ki-moon.
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