Estudo revela que maioria dos jovens extremistas da França é de família ateísta - Por Alex Rodrigues
O Ministério do Interior da
França estima que entre 700 e mil jovens franceses já aderiram a
organizações como o Estado Islâmico (Isis) e a Al Qaeda.
A maioria dos jovens franceses
que aderiram a grupos radicais islâmicos não foi criada em famílias seguidoras
do Alcorão, mas em famílias ateístas. A informação consta de estudo feito pelo
Centro de Prevenção Contra os Desvios Sectários ao Islã (Cpdsi).
Conforme os dados, 160 famílias
foram entrevistadas. Elas fazem parte de um universo entre 700 e mil jovens que
o Ministério do Interior da França estima terem aderido a organizações como o
Estado Islâmico (Isis) e a Al Qaeda. Alguns chegaram a viajar para países como
Síria e Iraque e tomar parte em ações armadas.
Entre as famílias ouvidas, 128
(80% do total) classificam-se como ateias. Dessas, ao menos doze afirmaram
manter na memória a lembrança de traumas provocados pela intolerância racial ou
religiosa, como o Holocausto judeu ou a perseguição ao povo argelino, de onde
descendem muitos dos jovens nascidos na França ou naturalizados franceses que
aderem à luta jihadista.
A maior parte das 160 famílias
está na terceira geração de cidadãos nascidos na França. Apenas 16 delas (10%)
relataram que os avós dos jovens recrutados nasceram em outros países,
especialmente em ex-colônias francesas, como Argélia e Marrocos.
Para os responsáveis
pelo estudo, isso minimiza os sentimentos “de falta de raízes ou de não
pertencimento” que, até recentemente, influenciava jovens que se deixavam
atrair por discursos radicais.
O estudo indica que 84% das
famílias são de classe média (67%) ou alta (17%). Os jovens têm, em sua maioria
(43%), entre 18 e 21 anos. Nas faixas de 15 a 18 anos e de 21 a 28 anos, estão,
respectivamente, 20% e 37% dos jovens arregimentados. Segundo os pesquisadores,
são raros os casos de pessoas com mais de 30 anos que aderem às causas dos
grupos radicais.
Com base nos relatos das
famílias, os pesquisadores concluíram que, ao contrário do passado, quando os
radicais conseguiam atrair, com mais facilidade, filhos de imigrantes e de
famílias desestruturadas, atualmente jovens de famílias bem estabelecidas é que
são recrutados.
Incluem-se nesse perfil
principalmente aqueles que os pesquisadores classificam de “hipersensíveis”,
que são mais suscetíveis a questionamentos sobre o sentido da vida e do lugar e
papel no mundo.
Os pesquisadores afirmam que a
internet transformou-se em ambiente propício e muito usado pelos extremistas
islâmicos para doutrinar jovens. E que, em geral, os pais notam o processo de
ruptura, pois os filhos já não querem mais ver os amigos, nem ir às aulas ou manter
as habituais atividades de lazer.
Suspeitos do ataque ao jornal
satírico Charlie Hebdo, em Paris, onde, na última quarta-feira (07/01),
morreram 12 pessoas, os irmãos Saïd e Chérif Kouachi se encaixam em alguns
aspectos do estudo relativos à descrição dos jovens recrutados.
Segundo a imprensa internacional,
embora tenham nascido na França os dois cresceram em um centro educativo de
Treignac. Mais velhos, viviam de empregos mal remunerados. Foram recrutados em
Paris, nos anos 2000 e treinados pela Al Qaeda.
Os dois eram conhecidos e
monitorados pelas forças de segurança da França. Chérif, inclusive, foi
condenado, em 2008, a três anos de prisão. Na ocasião, foi retratado pela
promotoria como jovem movido pela “ira contra os infiéis” e que já havia
manifestado a intenção de agir em território francês. Seus vizinhos, contudo, o
descrevem como prestativo e educado.
Em abril do ano passado, o
governo francês anunciou um plano para tentar convencer jovens franceses a não
se unirem a grupos radicais islâmicos que lutavam contra o regime do presidente
sírio, Bashar al-Assad, rastreando e monitoramento a atuação de militantes
extremistas nas redes sociais.
Na manhã de ontem (09/01), o presidente da França,
François Hollande, disse que o país “está em guerra contra o terrorismo, não
contra uma religião ou uma civilização”.
*Com informações da Agência Lusa
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