Professores de origem estrangeira lidam com preconceitos e estereótipos na Alemanha
Em algumas escolas alemãs, os
professores de origem estrangeira ainda costumam ser tratados como exóticos.
Mas há também muitos que relatam terem sido bem aceitos.
Saraya Gomis é professora numa
escola de periferia em Berlim. Ela prefere não contar sua idade, assim como a
procedência de seus pais, porque, em sua opinião, isso apenas fortalece
potenciais preconceitos e estereótipos. "Basta dizer que sou uma mulher
negra", diz.
Sendo a única professora negra de
sua escola, ela é vista como um tipo exótico. Enquanto o número de estudantes
oriundos de famílias estrangeiras aumenta com regularidade, especialistas
apontam que a proporção de professores pertencentes a famílias vindas de outros
países varia entre 1% e 5%.
"Meus alunos gostam da
diversidade", conta Saraya. Uma estudante negra chegou até a dizer que não
sabia que pessoas afrodescendentes também podiam ser professores. "Quero
mostrar a eles que podem atingir quaisquer objetivos, não importa de onde venham",
diz a professora. Seus alunos deixaram de vê-la como uma pessoa exótica já há
muito tempo, conta.
"Vocês negros são mais
divertidos"
Com alguns pais, no entanto, isso
não acontece. "Na minha primeira reunião de pais e mestres, muitos
compareceram porque queriam ver a professora negra", lembra Saraya. Claro
que isso pode ser interpretado positivamente, como um sinal de interesse.
"Alguns até me tocaram para provar que não são racistas", conta.
Dessa forma, diz a professora, ações supostamente positivas se transformam
rapidamente em discriminação.
Na sala dos professores, ela
experimentou formas mais ou menos disfarçadas de racismo. "Nenhum dos meus
colegas é um racista convicto", conta. As ações e declarações são bem mais
sutis. "Ouvi comentários como 'nós, brancos, somos mais intelectuais, e
vocês, negros, são mais divertidos'."
Discriminação é comum
Saraya não é um caso isolado. A
cientista Aysun Kul, da Universidade de Bremen, pesquisa sobre as experiências
de professores em treinamento, tanto de origem migratória quanto nativa.
"Uma das entrevistadas, de origem turca, disse que um colega perguntou se
era permitido a ela se casar com um alemão", diz. "Pode até parecer
uma pergunta inocente, mas é questionável se seria apropriada para um primeiro
contato."
Em um primeiro estudo em âmbito
nacional sobre o tema: "diversidade na sala dos professores", os cientistas
Viola B. Georgi, Lisanne Ackermann e Nurten Karakas pesquisaram por quatro anos
a discriminação a professores de origem estrangeira. Depois de analisar mais de
200 questionários e conduzir 60 entrevistas, eles constataram que mais de 22%
dos educadores sofreram discriminação e racismo nas escolas.
"A discriminação acontece em
níveis diferentes", aponta Georgi, que é diretor do Centro Hildesheim para
Integração na Educação. Os professores são alvos de comentários sobre seus
sotaques ou de alusões a suas religiões, por exemplo.
Funções limitadas
No entanto, o quadro geral não é
conclusivo. A maioria dos entrevistados afirmou que experimentaram aceitação,
reconhecimento e apreciação. "Os professores de origem migratória são
valorizados, entre outras coisas, por estabelecer conexões, por exemplo ao
traduzir conversas para os pais", conta Georgi. Muitos assumem com
satisfação esse papel, o que pode, porém, ser problemático.
"Ninguém quer ficar reduzido
a essa função", diz Georgi. Ela enfatiza que os professores de origem
migratória são responsáveis por todos os alunos. A pesquisa de Aysun Kul
confirma o problema. "Depende como esses professores veem a si mesmos, e
se a sua origem desempenha ou não algum papel para eles." Alguns apenas
querem ser professores, sem que a procedência esteja em primeiro plano.
Os professores entrevistados
lidam de maneira totalmente diferente com a discriminação, diz Karakas, também
do Centro Hildesheim para Integração na Educação. Segundo ela, alguns
profissionais querem enfrentar o problema de frente. Já outros preferem o
silêncio e optam por se explicar.
Os especialistas concordam que
deveria haver mais professores de origem estrangeira nas escolas. A diversidade
entre os alunos também deve se refletir no corpo docente. Apenas assim as
diferenças de idioma, religião e cultural poderão ser vistas como algo normal
pelos alunos.
Fonte: http://www.dw.de
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