Entre a ética e o espírito
Ele, que entendia como poucos o
“desencantamento do mundo” weberiano, uma de suas especialidades, sem querer
acabou incrementando com sua morte, em 8 de junho, aos 67 anos, esse
desencanto.
O sociólogo Flávio Pierucci atuou no campo da sociologia da
religião a partir do referencial de Max Weber e, recentemente, discutia o
fenômeno da religiosidade brasileira a partir dos dados dos vários censos
demográficos.
Interessava-se em particular pelo crescimento do pentecostalismo
em suas várias vertentes, pela predominância da Igreja Católica, a despeito da
queda percentual dos fiéis, e lamentava a diminuição dos adeptos das religiões
africanas como umbanda e candomblé como fruto dessa expansão neopentecostal.
Especializou-se em teologia pela
Pontifícia Universidade Gregoriana (1970), graduou-se em filosofia (1973) e
obteve os títulos de mestre em ciências sociais, em 1977, com a dissertação
“Igreja Católica e reprodução humana no Brasil”, defendida na Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP); doutor em sociologia, em 1985, com
“Democracia, igreja e voto: o envolvimento do clero católico nas eleições de
1982”; e livre-docente, em 2001, com “Desencantamento do mundo: os passos do
conceito em Max Weber”, este último pela Universidade de São Paulo, onde foi
professor titular e chefe do departamento de sociologia até o seu falecimento.
Entre 1971 e 1987 foi pesquisador do Centro Brasileiro de Análise e
Planejamento (Cebrap).
Entre 1978 e 1985, foi professor
do departamento de sociologia da PUC-SP. Entre 1992 e 1996, foi secretário
executivo da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências
Sociais (Anpocs) e, de 2001 a 2012, foi secretário-geral da Sociedade
Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).
Entre as dezenas de trabalhos
publicados, destacam-se os livros A realidade social das religiões no
Brasil e Igreja: contradições e acomodação. Um de seus trabalhos
analisava a relação entre o crescimento das igrejas neopentecostais e seu
envolvimento com a política. Foi um dos estudos pioneiros nesse tema.
Para Pierucci, o Brasil assiste a
uma oferta enorme de religiões, assim, afirmar que religião hoje é um negócio
não seria um erro. E para aboca-nharem mais fiéis, ou clientes, segundo
Pierucci, as igrejas usam estratégias de marketing como as empresas.
As pessoas não procuram mais a salvação depois da morte, seus desejos são
imediatos. É isso que as novas religiões procuram oferecer. As que não
oferecem, perdem clientes.
“As pessoas estão procurando um
novo tipo de religião, que são as igrejas pentecostais, que na verdade prometem
para você não a lealdade a seu passado religioso, mas a ruptura com seu passado
religioso. É uma religião que cola muito na cultura capitalista”, afirmava.
“A
religião faz hoje muito marketing de si mesma. Ela diz: olha, é
preciso religião para ser feliz, para ter saúde, mental e física. Alguns
precisam e outros não. Uns vivem muito bem sem religião”, avisava.
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