Livro traça ligação entre plantas medicinais e rituais religiosos - Por Reinaldo José Lopes

Depoimentos feitos à Inquisição na Bahia do século 16, cartas de missionários jesuítas, levantamentos feitos por antropólogos e sociólogos da religião e estudos de campo estão entre as fontes de informação utilizadas pela pesquisadora Maria Thereza Lemos de Arruda Camargo para traçar um quadro amplo do uso de plantas medicinais em rituais religiosos ao longo da história do Brasil. 

Os resultados dessa pesquisa estão no novo livro da especialista, "As Plantas Medicinais e o Sagrado". A obra aborda o tema sob o ponto de vista da "etnofarmacobotânica", a disciplina que estuda o conhecimento popular sobre as plantas (daí o "etno-" do nome) e seu emprego para fins medicinais. 

Maria Thereza contou à reportagem que seus estudos na área começaram em 1972, no Departamento de Botânica do Instituto de Biociências da USP (Universidade de São Paulo). Nos anos 1980, ela passou a trabalhar no C
entro de Estudos da Religião Duglas Teixeira Monteiro, ligado à USP e à PUC-SP, onde criou um herbário etnobotânico e um banco de dados sobre o tema. 

O livro mostra a forte conexão que existe entre as plantas que possuem propriedades psicoativas, ou seja, capazes de alterar o funcionamento do sistema nervoso central, e a religiosidade e a medicina tradicionais. 

"Historicamente, tais plantas produziam o que se pode chamar de loucura religiosa, de caráter ritualístico", explica a pesquisadora. "As crenças nos efeitos benéficos das terapias feitas a partir dessas plantas se baseiam no consenso do grupo. Um exemplo disso são os ambientes religiosos afro-brasileiros." 

A obra mostra como as crenças de origem africana ou indígena, bem como a interação delas com o catolicismo popular ou com o espiritismo, ajudaram a moldar o uso de preparados como o vinho de jurema, o chá de ayahuasca ou o próprio tabaco, cuja fumaça, soprada por pajés e xamãs, ainda hoje é vista como algo capaz de "limpar" doenças.

Serviço:

As Plantas Medicinais e o Sagrado 
Autora: Maria Thereza Lemos de Arruda Camargo
Editora: Ícone 
O lançamento do livro é no dia 8 de março, das 16h às 19h, na Livraria da Vila (al. Lorena, 1731, Jardim Paulista, São Paulo)  






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