Quando Sonhar é Viver - I


"Utopia está ligada à conscientização. Conscientização implica em utopia, porque quanto mais conscientizados nós somos, sugeria Paulo Freire, mais capazes seremos de ser anunciadores e denunciadores, porque toda denúncia é um anúncio e cada crítica consciente está embebida em utopias. A consciência é ao mesmo tempo um processo de quebra e desmistificação da realidade".

Adriana Puigrós, Prólogo entre Paulo Freire e Frei Beto. Buenos Aires, Leguasa, 1988.


Falar de utopias em um mundo cuja racionalidade aponta para blocos hegemônicos de poder e da lógica do capital mantido pela força das armas e da violência parece anacrônico. Nesta linha, ou neste anacronismo, achar que a educação pode mudar alguma coisa é apelar demais ao romantismo e começar a caminhar com os "pés fora do chão e a cabeça nas nuvens". Pois existem pessoas cujas vidas foram anacrônicas e seus pés não tocavam este chão da lógica do mercado. Falo de Monteiro Lobato.

José Bento Monteiro Lobato nasceu em Taubaté, em 18 de abril de 1882. Filho do fazendeiro José Bento Marcondes Lobato e de dona Olímpia Augusta Monteiro Lobato. Por gostar de escrever, fundou em 1917 a primeira editora nacional: a Monteiro Lobato e Cia, que mais tarde viria a ser denominada de Companhia Editora Nacional. Por considerar que a riqueza de um País pertence ao seu povo, lançou-se em defesa do Petróleo nacional, fazendo conferências, enviando cartas, conscientizando o país inteiro da importância da preservação e do controle das fontes de energia, rios e florestas. Por esta causa, foi preso. Monteiro tinha idéias malucas. Uma delas era apoiar o "georgismo" (imposto único sobre o valor da terra proposta pelo jornalista e economista norte-americano Henry George). No ano de 1948, publicou pela editora Brasiliense um folheto intitulado "O Imposto Único", no qual Lobato sintetizava a "maravilhosa solução".

Lobato morou em Buenos Aires, foi simpatizante comunista, escreveu para crianças ininterruptamente e com sucesso estrondoso, traduziu muito e teve suas obras traduzidas. Suas obras completas são constituídas por 17 volumes dirigidos às crianças e 17 para adultos englobando contos, ensaios, artigos e correspondência.

Lembro-me de que, quando era criança, uma vez por ano, viajava para o Mato Grosso e, na casa de meu avô, passava as férias a correr, brincar e ler Monteiro Lobato. Lobato também era alguém que acreditava na espiritualidade do ser humano e de que existe muito mais além do que vemos.

Meu avô tinha um jeito engraçado de arrumar os livros, por que eu sempre encontrava na estante da fazenda as obras de Monteiro Lobato junto dos livros de Teologia. Li todas as suas obras: "Sítio do Pica-pau amarelo", "Reinações de Narizinho", Urupês", "Cidades Mortas", "Negrinha" e até "O escândalo do petróleo".

Falar de Monteiro Lobato é falar de utopia, de sonho e de denúncia. Denúncia quanto à exploração dos homens gananciosos que se transformam em lobisomens e monstros, que devoram criancinhas com suas maldades e armas! Monteiro foi um anacrônico, utópico, que sonhava que as pessoas poderiam ser educadas e aprender a amar os outros, a respeitar a natureza e a vencer suas limitações.

Lembro de uma noite que, enquanto lia a Bíblia, meu avô dizia: sonhe meu neto, sonhos moldam o mundo, quando uma criança sonha Deus fica escutando. Vovô, que som tem o sonho? Que som? Som de utopia.

Em homenagem ao dia 18 de abril, dia de Monteiro Lobato.

Para aqueles que desejam conhecer o universo de Lobato, relacionei algumas de suas obras:
Contos Urupês (1918); Cidades Mortas (1919); Negrinha (1920).
Romance "O Presidente Negro" ou "O Choque das Raças" (1926).

Literatura de ação, didática e polêmica

Idéias de Jeca Tatu (1919); A Onda Verde (1921); Mundo da Lua ((1923); O Macaco que se Fez Homem (1923); Mr. Slang e o Brasil (1929); Ferro (1931); América (1932); Na Antevéspera (1933); O Escândalo do Petróleo (1936); A Barca de Gleyre (1944). (Nas Obras Completas, 1ª série, Ed. Brasiliense, 1946, além dos títulos acima, foram publicados: Problema Vital, Miscelânea, Prefácios e Entrevistas).

Literatura Infantil

Nas Reinações de Narizinho; Viagem ao Céu e o Saci; Caçadas de Pedrinho e Hans Staden; História do Mundo para Crianças; Memórias da Emília e Peter Pan; Emília no País da Gramática e Aritmética da Emília; Geografia de Dona Benta; Serões de Dona Benta e Histórias das Invenções; D. Quixote para as Crianças; O Poço do Visconde; Histórias de Tia Nastácia; O Pica-pau Amarelo e a Reforma da Natureza; O Minotauro; Fábulas e Os Doze trabalhos de Hércules. (Literatura Infantil, Obras Completas. 2ª série, 2 vols, Ed. Brasiliense, 1950).

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