Hans Küng no Brasil


Teólogo fala de ética na Câmara dos Deputados


O teólogo suíço Hans Küng, que participou de audiência na Câmara dos Deputados, dia 25/10, disse ter ouvido de alguém que não deveria falar de moral em Brasília, mas ressaltou: “Penso exatamente o contrário: é aqui no Parlamento que se deve abordar esse assunto, pois a credibilidade da democracia depende da credibilidade de seus representantes”. Segundo ele, isso vale “inclusive para a maior democracia do mundo (os EUA), que neste momento não goza de grande credibilidade, já que seu maior representante mente”. “Ainda bem que existe outra América, e não apenas a de George W. Bush”, completou.
Küng, que ficou conhecido a partir de sua participação no Concílio Vaticano II, e lançou em 1990 o Projeto de Ética Mundial, é ligado ao InterAction Council, entidade fundada em 1983, que produziu, em 1997 a "Declaração Universal dos Deveres do Homem". Durante sua palestra na Câmara, o teólogo suíço citou, entre os princípios da declaração, o que considera a regra de ouro: “não faça com os outros o que não quer que façam com você”. E listou os outros mais importantes: "não matar" (aí incluídos os maus-tratos e a tortura); "não roubar" ("valendo inclusive para as grandes corporações, como Wall Street", disse Küng); "não abusar da sexualidade" (sobretudo no respeito à igualdade de direito entre os sexos); e “não mentir”.

Quando a este último, o teólogo afirmou que alguns teóricos, como o ex-secretário de Estado dos EUA, Henry Kissinger, defendem uma moral diferente para cidadãos comuns e para os políticos. “É uma lógica maquiavélica, e vimos a conseqüência nefasta desse pensamento na política dos Estados Unidos para o Chile e para o Laos (nos anos 70)”, criticou Hans Küng.

Questionado por um jesuíta sobre a ética nas pequenas ações cotidianas, o teólogo disse que esse caminho é fundamental. “Mas a presença dos princípios éticos no dia a dia só é possível por meio da educação e da família”, acrescentou. Em relação ao aborto, afirmou que a melhor maneira de evitá-lo é apoiar métodos contraceptivos. “É uma contradição imensa ser contra o aborto e ao mesmo tempo contra esses métodos”, afirmou, numa crítica direta à Igreja Católica.

O teólogo falou também sobre paz entre religiões e resumiu em três frases suas posições a respeito de uma ética mundial:

1. “Não há paz entre as nações sem paz entre as religiões”;
2. “Não há paz entre as religiões sem diálogo e cooperação entre as culturas”;
3. “Não há sobrevivência para o nosso planeta sem uma ética global”.

A audiência pública contou com a participação de dezenas de deputados, religiosos católicos, professores e militantes de direitos humanos. O encontro foi promovido pelas comissões de Direitos Humanos e Minorias; de Relações Exteriores e de Defesa Nacional; e pelo Conselho de Ética e Decoro Parlamentar.


Fonte: agência SOMA de Notícias - http://www.agenciasoma.org.br/sys/popMaterias.asp?codMateria=CIx3firz9z0b&secao=show

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