Livro analisa tiras cômicas como um dos gêneros do jornalismo por Paulo Ramos



Há diferentes perspectivas teóricas para pesquisar os gêneros dos quadrinhos, nem todas coincidentes. Uma delas, mais rara, é a que vincula as diferentes formas de produção quadrinística à área jornalística. É com esse olhar que o professor universitário Marcos Nicolau enxerga as tiras no livro "Tirinhas – A Síntese Criativa de um Gênero Jornalístico".
A obra começou a ser vendida nesta semana (Marca de Fantasia, R$ 11). O teor jornalístico das tiras, para ele, não se resume ao fato de serem publicadas em jornal. Seria mais que isso. No entender do autor, os cem anos de produção delas permitem afirmar constituam um dos gêneros do jornalismo. A fundamentação é feita na primeira parte do livro, a mais importante das 68 páginas da obra. Nicolau aproxima as tiras, ou tirinhas, como ele prefere, de outras produções rotuladas de jornalísticas, mas que não seguem à risca os manuais de redação.
É o caso das crônicas, que possuem uma liberdade de conteúdo e de estética próprias, algumas vezes com função de entretenimento. Para Nicolau, o mesmo ocorreria com a tira cômica. No entender dele, "ela traz em seu texto muito da literariedade encontrada na crônica e da denúncia ou crítica apresentada pelo artigo." Esse diálogo com o cotidiano seria um dos elementos que aproximariam as tiras do jornalismo. Tal qual o cronista, o desenhista faria por meio dos quadrinhos um olhar próprio da sociedade moderna. Nicolau consegue fundamentar essa premissa com propriedade, inclusive teórica. É uma contribuição científica inovadora, posto que caminha na contramão do pouco que se estudou sobre o assunto no país. Por isso mesmo, a aplicação das idéias teóricas no corpus de análise teria uma responsabilidade ainda maior de comprovar a premissa ao leitor. Mas não é o que ocorre.
O autor se restringiu a uma descrição rápida das características de algumas tiras, como "Hagar, o Horrível", "Calvin e Haroldo", "Rango" e "Mafalda". Sem essa aplicação mais aprofundada, fica difícil convencer o leitor de que uma tira como "Níquel Náusea", outro exemplo citado na obra, seja jornalística. Marcos Nicolau abre uma discussão pertinente não só sobre as tiras como também sobre o diálogo entre os quadrinhos e o jornalismo, ainda pouco explorado academicamente. Mas é um início de discussão. Que venham outros estudos.

Fonte:
http://blogdosquadrinhos.blog.uol.com.br/arch2007-12-01_2007-12-31.html#2007_12-19_23_16_31-10623622-28

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