Universidades americanas correm para estabelecer postos avançados no exterior – Por Tamar Lewin


Universidades de Harvard e Princeton


Quando John Sexton, o presidente da Universidade de Nova York (NYU), se encontrou pela primeira vez com Omar Saif Ghobash, um investidor tentando instigá-lo a abrir um campus da universidade no Emirados Árabes Unidos, Sexton não sabia o que pensar sobre a proposta então pediu por uma doação de US$ 50 milhões. "É como um adiantamento: se você for um doador de US$ 50 milhões, eu vou levar você a sério", disse Sexton. "É uma forma de testar sua boa fé." No final, o dinheiro veio do governo de Abu Dhabi, um dos sete emirados. Sexton há muito estava comprometido em estabelecer uma presença internacional da NYU, aumentando os locais de estudo no exterior, abrindo programas em Cingapura e explorando novas parcerias na França. Mas os planos para um campus abrangente de artes liberais no Golfo Pérsico, com inauguração prevista para 2010, estão em um categoria própria e Sexton já fala sobre o fluxo de professores e estudantes que prevê entre Nova York e Abu Dhabi. O sistema americano de ensino superior, há muito invejado pelo mundo, está se tornando um importante produto de exportação à medida que mais universidades levam seus programas para o exterior.

Em uma espécie de corrida do ouro educacional, as universidades americanas estão competindo para estabelecer postos avançados em países com oportunidades limitadas de ensino superior. As universidades americanas assim como as australianas e britânicas, que também oferecem ensino em inglês, a língua franca do meio acadêmico estão iniciando ou expandindo centenas de programas e parcerias em mercados como China, Índia e Cingapura. E muitas estão considerando campi plenos no exterior, particularmente no Oriente Médio rico em petróleo. Os estudantes do Qatar, no Golfo Pérsico, já podem freqüentar uma universidade americana sem a despesa, choque cultural ou problemas de visto pós-11 de Setembro de viajar para os Estados Unidos. Na Cidade da Educação em Doha, a capital do Qatar, eles podem estudar medicina no Weill Medical College da Universidade de Cornell, relações internacionais na Georgetown, ciência da computação na Carnegie Mellon, artes plásticas na Virginia Commonwealth, engenharia na Texas A&M, e logo, jornalismo na Noroeste.

Em Dubai, outro emirado, a Universidade Estadual de Michigan e o Instituto de Tecnologia de Rochester oferecerão cursos no próximo semestre. "As universidades agora estão caminhando para se tornarem universidades globais", disse Howard Rollins, ex-diretor de programas internacionais da Georgia Tech, que possui programas de diplomas acadêmicos na França, Cingapura, Itália, África do Sul e China, além de ter planos para a Índia. "Nós teremos mais e mais universidades competindo internacionalmente por recursos, corpo docente e os melhores estudantes." Nos últimos anos, a internacionalização subiu para o topo da agenda na maioria das universidades, visando preparar os estudantes para um mundo globalizado e para ajudar os membros do corpo docente a permanecerem atualizados em suas disciplinas.

Programas no exterior podem ajudar as universidades americanas a melhorarem seu perfil, estabelecer relacionamentos internacionais, atrair talentos em pesquisa que, por sua vez, podem atrair subsídios e produzir patentes, assim como ganhar acesso a uma nova fonte de estudantes pagantes, à medida que o número de americanos em idade universitária está prestes a encolher. Até mesmo universidades públicas, cuja missão básica é educar os cidadãos do Estado, estão tentando estabelecer uma marca global em uma época de verbas estaduais limitadas. Em parte, se trata de prestígio. As universidades americanas há muito se preocupam com sua classificação no U.S. News & World Report. Atualmente, elas estão cientes dos rankings internacionais publicados no Reino Unido, pelo Suplemento de Ensino Superior do Times, e na China, pela Universidade Jiao Tong de Xangai. A demanda no exterior é imensa. Na Universidade de Washington, a administradora encarregada de programas no exterior disse que recebe aproximadamente uma proposta por semana. "É quase como spam", disse Susan Jeffords, cuja posição de vice-reitora de assuntos globais foi criado há apenas dois anos.

Tradicionalmente, as principais universidades estabelecem sua presença internacional por meio de centros de estudos no exterior, parcerias de pesquisa, intercâmbio de corpo docente e programas conjuntos oferecidos com universidades estrangeiras. Yale possui dezenas de colaborações de pesquisa com universidades chinesas. Campus no exterior, com as mesmas exigências e diplomas que os campus domésticos, são um fenômeno mais novo e mais arriscado. "Eu acho que os aspectos negativos são menores do que os positivos", disse Amy Gutmann, presidente da Universidade da Pensilvânia. "O risco é de não conseguirmos proporcionar uma ensino com a mesma qualidade daqui e diluir a força de nosso corpo docente em casa." Apesar das universidades com campi no exterior insistirem que a educação é igual à oferecida nos Estados Unidos, grande parte do corpo docente é contratado localmente, a curto prazo. E certamente os campi no exterior levantam algumas questões:

Os programas refletirão os valores e cultura americanos, ou os do país anfitrião? Os contribuintes americanos acabarão arcando com parte da conta dos estudantes estrangeiros? O que acontecerá se as relações entre os Estados Unidos e o país anfitrião se deteriorarem? E os campi estrangeiros que disseminarem know-how americano prejudicarão a competitividade americana? "Muitos destes educadores estão tentando se apresentar como benevolentes e altruístas, quando, na verdade, seus programas visam ganhar dinheiro", disse a deputada Dana Rohrabacher, republicana da Califórnia, que criticou a corrida para o exterior. Mas David J. Skorton, o presidente de Cornell, disse que o avanço global beneficia os Estados Unidos. "O ensino superior é o ativo diplomático mais importante que temos", ele disse. "Eu acredito que estes programas podem realmente reduzir o atrito entre os países e culturas."

Reduzindo as expectativas

Apesar do campus da NYU no Golfo Pérsico estar no horizonte, a Universidade George Mason já está em funcionamento -apesar de ainda não à plena força em Ras al Khaimah, outro dos emirados. A George Mason, uma universidade pública em Fairfax, Virgínia, chegou ao Golfo em 2005 com um minúsculo programa de língua visando ajudar os estudantes a obterem um domínio de inglês de nível universitário e atenderem aos padrões de admissão da universidade para programas acadêmicos que teriam início no ano seguinte. A universidade esperava contar com 200 alunos em 2006 e crescer a partir daí. Mas não chegou nem perto de matricular tal número de estudantes, tanto naquele momento quanto agora. Ela contou com apenas 57 alunos três de biologia, 27 de administração e negócios e 27 de engenharia no início deste ano acadêmico, aos quais se somaram mais alguns poucos estudantes e programas neste semestre.

O projeto, a uma hora ao norte dos arranha-céus de Dubai e a mais de 11 mil quilômetros da Virgínia, está procurando seu caminho. "Eu vou confessar que tudo é bem mais complicado do que eu esperava", disse Peter Stearns, reitor da George Mason. O campus de Ras al Khaimah contou com uma sucessão de reitores. Tarefas simples como a encomenda de livros levam meses, em parte devido aos censores do governo. As licenças locais, ainda incompletas, são bem mais rigorosas do que o esperado. E não é fácil encontrar estudantes interessados com a média de notas e domínio de inglês que a George Mason exige para admissão.

"Eu estou otimista, mas se olhar para isto como um negócio, os prejuízos só podem ser suportados por um tempo limitado", disse o dr. Abul R. Hasan, um mestre acadêmico da Escola de Minas e Tecnologia de Dakota do Sul. "Nossa meta é contar com 2 mil estudantes daqui cinco anos. O que dificulta é que se você concede o diploma da George Mason, você não pode baixar o nível." A dra. Aisha Ravindran, uma professora da Índia sem nenhuma ligação anterior com a George Mason, leciona o mesmo curso de comunicação exigido dos estudantes de administração e negócios no campus da Virgínia -mas no deserto árabe, ele soa diferente. Ravindran usa os mesmos slides, mostrando emoticons e listas de tabus não-verbais para disseminar o ideal americano de negócios de diversidade e inclusividade. Ela enfatiza a necessidade de usar a língua que inclui todos os ouvintes.

E de repente, há uma estranha divergência entre o currículo americano e a cultura local. Em um país onde atos homossexuais são ilegais, o slide de Ravindran sugere o uso de "parceiro", já que "marido" ou "esposa" pode excluir alguns ouvintes. E em um país onde as mesquitas são ubíquas, os slides aconselham os estudantes a evitarem a palavra "igreja" e substituí-la por "local de oração". Os estudantes de Ras al Khaimah incluem bengaleses, palestinos, egípcios, indianos, iraquianos, libaneses, sírios e outros, a maioria de famílias que podem arcar com o curso de US$ 5.400 por semestre. Mas a George Mason atraiu poucos cidadãos dos emirados. Os estudantes dizem que adoram as turmas pequenas, a diversidade e camaradagem. O dormitório deles é parecido com o de uma casa de fraternidade americana, sem o cheiro de álcool. Alguns elogiam a pedagogia da George Mason, que dizem diferir substancialmente do ensino rotineiro de seus colégios."Na minha escola local em Abu Dhabi, os professores se limitam a dizer o que está no livro", disse Mona Bar Houm, uma estudante palestina que cresceu em Abu Dhabi. "Aqui, lhe pedem para que exponha suas idéias pessoais." Mas o que mais interessa, eles dizem, é obter um diploma americano. "Significa algo voltar para casa em Bangladesh com um diploma americano", disse Abdul Mukit, um estudante de administração e negócios. "Não precisa ser Harvard; basta ser um diploma americano." Se o diploma realmente reflete a George Mason é uma dúvida ainda sem resposta. Nenhum dos membros do corpo docente veio da George Mason, apesar de que isto provavelmente mudará no próximo ano. O dinheiro também não é da George Mason: Ras al Khaimah arca com todos os custos. Todavia, Sharon Siverts, a vice-presidente encarregada do campus, disse: "Nós fazemos tudo o que a George Mason faz. O processo de admissão é feito pela George Mason, segundo os padrões da George Mason. Os programas acadêmicos são programas da George Mason".

Fonte: http://www.nytimes.com

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