Uma religião em Decadência e outra em Ascensão

Quando "a fé é reduzida a um sistema de convicções e acções estranhas que, para alguns, surgem como distantes das necessidades e ansiedade da vida diária" é esta "realidade que fornece ao secularismo militante um alvo fácil", declarou o antigo primeiro-ministro Tony Blair numa intervenção, quinta-feira à noite (04/04/2008) em Westminster, sobre o lugar da religião e da fé no mundo contemporâneo.

Para Blair, que dirige hoje uma fundação vocacionada para a cooperação inter-religiosa no combate a problemas globais, como a pobreza, outro risco que aflige as religiões é o "extremismo" - de que "nenhum está livre", como acentuou - ou a sua transformação num instrumento o de "exclusão". Perigos que chamam a atenção para uma realidade que atravessa as principais religiões e se manifesta nas sociedades que influenciam. Numa era de "rápida globalização", o mundo "vai ser muito mais pobre, mais perigoso, mais frágil e, principalmente, sem direcção - isto é, o necessário sentido de propósito" que resulta "de uma forte dimensão espiritual". Este diagnóstico de Blair traduz, de modo indirecto, a alteração de equilíbrios de forças e a tensão que se manifesta em duas das principais religiões mundiais: catolicismo e islamismo. Com o primeiro a apresentar um recuo na sua dimensão mundial resultante, em certa medida, de algumas das situações diagnosticadas pelo antigo governante britânico. O facto de que há mais crentes muçulmanos do que crentes católicos no mundo, revelado na apresentação da mais recente edição do Anuário Pontifício - 19,2% da população mundial para os primeiros e 17,4% para os segundos - espelha o peso daqueles factores na sociedades ocidentais. As razões são de ordem demográfica, social, política e religiosa. Assim, enquanto as taxas de natalidade no Ocidente se situam em valores mínimos, nas sociedades islâmicas mantêm valores elevados e o número de filhos por família permanece elevado. A poligamia tolerada em certas sociedades acentua esta tendência. Na vertente política, enquanto o Estado na Europa e Américas mantém uma posição distante ou neutral perante as questões de fé, nos Estados muçulmanos estes assumem uma posição confessional. Por último, embora ambas as religiões sustentem uma atitude de proselitismo activo, as perseguições e interdições na maioria dos Estados muçulmanos, associada à pressão social, dificulta o processo de conversões, enquanto no Ocidente se manifesta uma crise de vocações de longa duração e uma menor atenção aos sinais públicos da fé e à liturgia, além de novas formas de ligação religiosa. Figuras do mundo islâmico entendem que o crescimento de fiéis se deve, em especial no Ocidente, à procura de uma espiritualidade relegada para plano secundário nas sociedades contemporâneas. Alguns observadores consideram que o crescimento do islão no mundo assenta em elevadas percentagens de conversão e numa adesão mais activa a esta religião. Alguns vão mais longe e defendem que, de facto, o islão pode ser já a primeira religião mundial em termos absolutos. O argumento é que faixas significativas de crentes, quer na Ásia quer em África (continente que regista uma elevada taxa de penetração do islão) vive em áreas subdesenvolvidas e de difícil acesso, não sendo registada em qualquer tipo de recenseamento. Mas sob a aparente rivalidade de duas das principais "religiões do Livro", como recordou Blair, o importante é que estas não sejam factores de extremismo e de exclusão.

Fonte: http://dn.sapo.pt

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