Universidade de Brasília recebe I Congresso de Pesquisadores Indígenas




“No ano de 1981, o mais temido General do Governo Militar, de altíssima inteligência, Golbery do Couto Silva, apresentou argumentos de tres páginas determinando a Funai, a expulsão de 15 estudantes indígenas de Brasília sob argumento de que eram ‘cobras que picariam o governo’ futuramente”. Quem nos conta este triste capítulo da história brasileira é Marcos Terena, líder indígena remanescente daquela época e diretor do Memorial dos Povos Indígenas de Brasília.
Hoje, quase 30 anos depois, os povos indígenas fazem as pazes com a academia. Começou nesta terça-feira, na Universidade de Brasília, o I Congresso Brasileiro de Acadêmicos, Pesquisadores Profissionais Indígenas.


O Congresso reúne mais de 900 pessoas a partir do dia 17 deste mês, entre elas lideranças de organizações não-governamentais, especialistas, estudantes, pesquisadores e profissionais indígenas que discutem o futuro da educação superior para os Povos Indígenas. Gustavo Lins Ribeiro, diretor do Instituto de Ciências Sociais da UnB, considera este momento “histórico”. “É o primeiro encontro, acredito que muitos outros virão. É importante ressaltar que a UnB e todos os setores envolvidos abraçaram essa causa pela sua enorme importância”, enfatiza. Nestes quatro dias de encontro, mesas redondas, palestras e grupos temáticos vão discutir sobre o significado de estar no ensino superior e os obstáculos que os jovens indígenas ainda encontram, como o fomento a pesquisadores indígenas; a dificuldade de acesso e de permanência; as diferenças culturais e, claro, o preconceito e a intolerância. Para Gersem Luciano Baniwa, coordenador e palestrante do Congresso, além de diretor executivo do Centro Indígena de Estudos e Pesquisa (Cinep), todos ganham com a presença indígena na academia.


- A universidade oferece novos caminhos, como a tecnologia e a ciência, e os jovens indígenas vêm para este ambiente com uma grande bagagem de conhecimentos que a universidade não possui. É uma troca - diz o coordenador. “É um grande diálogo entre o saber tradicional e as demandas do mundo acadêmico”, concorda Marcos Terena, segundo o qual aqueles jovens que Golbery mandou expulsar resistiram e criaram o primeiro movimento indígena do País, a União das Nações Indígenas. Com o movimento, veio também a célebre frase que se tornaria um dos maiores lemas da causa indígena: “Posso ser o que você é, sem deixar de ser quem sou”.
Terena é o coordenador do tema Espiritualidade. O líder indígena defende a discussão da Espiritualidade no âmbito do Congresso:

- A espiritualidade é a base da resistência indígena e é superior a todos os dogmas da catequese e da religião, pois atua como ponte transversal entre passado e futuro e traz uma nova forma de ver o mundo com a afirmação da identidade cultural e o direito sobre a terra! O Índio sem terra não sobrevive. O Índio sem cultura não é nada - afirma. Tal como a espiritualidade, alguns tópicos centrais para os povos indígenas dão vida a grupos temáticos, como gestão territorial e etnodesenvolvimento; vida nas cidades; saúde e direitos; histórias e memórias, dentre outros. Como não poderia deixar de ser, a programação também inclui apresentações de música e dança, projeção de filmes e outras manifestações culturais indígenas.


fonte: http://iurirubim.blog.terra.com.br

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