Brasil é exemplo bem-sucedido de convivência religiosa


Há uma frase popular que diz: “futebol e religião não se discutem”, entretanto essa máxima não é aplicada às Ciências Humanas que tomam a religião como uma produção humana e logo, um modo de compreender o homem em sociedade. Dentre as várias correntes acadêmicas de compreender as distintas manifestações de fé, está a Escola Italiana, tema da palestra proferida por Nicola Maria Gasbarro, da Universidade Udine, da Itália, na noite de sexta-feira, 04 de setembro/09, em Corumbá.


Com capacidade para 500 pessoas, o local do evento ficou lotado de universitários e pessoas da comunidade em geral interessada pelo tema. Gasbarro, que já falou sobre o assunto para o público nas cidades de São Paulo e Campo Grande. Gasbarro situou o surgimento da Escola Italiana durante a ditadura fascista naquele país em 1924, como forma de resistência ao regime político que vigorava, frisando que a “religião é libertadora”. Ele destacou durante toda a palestra as diferenças entre os estudos de Teologia e os estudos da História das Religiões. Segundo ele, estes se diferenciam dos primeiros, dentre outros elementos, pelo fato de utilizarem como fonte de pesquisa não somente os escritos sagrados como a Bíblia, por exemplo, mas momentos históricos como as guerras judaicas.


Aprofundando mais nestas distinções, Nicola explicou que “o que interessa à História das Religiões não são manifestações individuais, o que penso como ser único, mas as ações coletivas”. Assim, ele detalhou a importância dos rituais religiosos que classificou como “uma máquina de produção coletiva, pois determinam normas e padrões de convivência”.


Outra característica da Escola Italiana está na prática da comparação. “Precisamos de mais de uma religião para proceder a comparação histórico-religiosa. Só posso entender melhor a minha religião, entendendo a dos outros”, afirmou ao comentar que desta forma se descobrem caminhos para o que chamou de compatibilidade, ou seja, convivência entre as diferentes religiões. “É por isso que venho ao Brasil, pois aqui dizemos: ‘somos diferentes, mas vivemos juntos’. Não vou aos Estados Unidos, onde dizem: ‘somos iguais e vivemos isolados’”, justificou ao citar o nosso país como um exemplo de convivência religiosa bem-sucedida.


Nicola Gasbarro ainda lembrou das questões econômicas impostas junto ao poderio econômico. “Quando os norte-americanos rezam e dizem “Deus, salve a América!”, eles incutem um caráter muito mais político, de dominação do que religioso. Os americanos não compreendem, mas suportam, toleram o outro”, disse.


Na escola


Sobre a polêmica questão do ensino religioso nas escolas, o estudioso defende a posição da disciplina História das Religiões no currículo. “Se querem ensinar o Catolicismo, não tenho nada contra desde que a Igreja pague os professores por isso, entretanto, penso que é interessante para a criança poder aprender mais do que uma religião, ter essa possibilidade até porque, na Itália, estamos ensinando mais conceitos sobre sexualidade, bioética do que a religião”, relatou.


O evento ainda teve como como debatedores os professores Nancy Leonzo (UFMS), Elton Nunes (PUC/SP), Vanessa Bolstin (UFMS/CPAN) e Cezar Augusto Bevenides (UFMS), que presenteou o professor italiano com uma rara edição do romance “Os Sertões”, de Euclides da Cunha, datada de 1940.


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