Jornada interior na forma de trilogia – Por Analice Del Vecchio




Segunda parte da trilogia de Theo Angelopoulos, A Poeira do Tempo foi exibida no festival paulista, seguida de debate com o diretor homenageado.



Assistir a um filme do cineasta grego Theo Angelopoulos é uma experiência, uma viagem imagética ao centro do homem. A aventura está sendo proporcionada ao público da Mostra Internacional de São Paulo sob a forma de uma retrospectiva com oito filmes. O mais recente, A Poeira do Tempo (2008), segunda parte de uma trilogia que discute as raízes da Grécia no século 20, foi apresentado pela primeira vez no Brasil na noite de terça-feira, no Cine Bombril, seguido de um debate com o diretor. No filme, que abre a trilogia, O Vale dos Lamentos (2004), Angelopoulos conta a história de um grupo de expatriados que, em 1919, fogem do avanço do Exército Vermelho em Odessa, na Ucrânia, e se estabelece na Grécia. Em A Poeira do Tempo, ele faz o itinerário inverso. “Após a Segunda Guerra Mundial, o país enfrentou uma violenta ditadura militar que, em 1967, derrubou a monarquia de Constantino II. Mais de 100 mil deixaram o país e se dispersaram pelo Leste Europeu. Quis seguir pelo rumo desses gregos que partiram, mas continuaram a história da Grécia em outros lugares”, disse o diretor. Conheça outros filmes do diretor Theo Angelopoulos exibidos na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo

- Alexandre, o Grande (1980)

- O Apicultor (1986)

- Paisagem na Neblina (1988)

- O Passo Suspenso da Cegonha (1991)

- Um Olhar a Cada Dia (1995)

- A Eternidade e um Dia (1998)

Willem Dafoe é “A”, um diretor de cinema americano de ascendência grega que faz um filme sobre a história de sua família passada em países como a Itália, a Alemanha, a Rússia, o Cazaquistão, o Canadá e os Estados Unidos. Ao mesmo tempo em que conta uma história centrada em Eleni, heroína de nome mitológico que também dá nome à protagonista de O Vale dos Lamentos, Angelopoulos revisa os eventos dos últimos 50 anos do século 20, finalizando a história com uma celebração do ano 2000 peculiar, mas plena de significados. É a Grande História alterando os destinos de cada família, de cada indivíduo. “Assim como na Grécia, na América Latina vocês tiveram esta interferência da Grande História na pequena história”, disse Angelopoulos. A obra de Angelopoulos pode ser divida em três momentos. Seus primeiros filmes, produzidos em plena turbulência na Europa Ocidental, são essencialmente históricos e políticos. Depois, o diretor centra-se nos personagens, e história e política pasam a ser pano de fundo para as ações humanas. O terceiro momento, mais existencial, tem como tema as fronteiras, o exílio e a busca de uma origem perdida. “As fronteiras nos meus filmes não são apenas aquelas que separam um país do outro. São fronteiras entre a vida e a morte, barreiras de comunicação entre as pessoas. A fronteira não existe, está só na nossa cabeça. A comunicação permite que sempre se conheça mais, se vá além”, diz o cineasta. Angelopoulos conta histórias de modo extremamente poético, utilizando recursos como o onírico, o devaneio, a mitologia. Por isso, seu cinema é uma “experiência”. Os longos planos-sequência, os silêncios, características que o aproximam da obra do cineasta russo Andrei Tarkovski, revelam não apenas paisagens diversas, mas atravessam tempos e adentram pela interioridade humana. “Meus filmes e os de Tarkovski lembram uma missa, não no sentido religioso, mas de algo místico, cerimonial. Mas sou essencialmente político e ele essencialmente metafísico”, diz.

O diretor não sabe se onde nascem suas histórias, contadas com uma imagética que permanece fixada na mente do espectador. “Tenho a impressão que meus filmes já existem antes que eu os realize ou pense neles. É como se alguém me contasse histórias e elas crescessem dentro de mim até o ponto em que tenho que realizá-las”, diz. A jornalista viajou a convite da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.

Fonte: http://portal.rpc.com.br/gazetadopovo

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