Igrejas pouco conhecidas guardam obras de arte em SP


Diversas igrejas que são pouco conhecidas em São Paulo estão repletas de obras de arte assinadas por mestres consagrados. Três delas, localizadas na Zona Sul e na região central da cidade, abrigam pinturas, esculturas e jardins de autores célebres. Na Capela Cristo Operário, que fica na Rua Vergueiro, Zona Sul de São Paulo, a pintura do altar foi feita por Alfredo Volpi. Em torno da igreja, funcionou entre 1950 e 1965 uma fábrica de móveis onde todos os funcionários recebiam o mesmo salário. A experiência, inovadora na época, foi trazida para o Brasil pelo frei João Batista dos Santos, e chamou a atenção de Volpi.

Do lado esquerdo do altar, o pintor retratou José ensinando técnicas de carpintaria para o menino Jesus, enquanto Maria contemplava a cena pela janela. Ao centro, o menino se torna Cristo Operário, com os braços abertos diante de uma fábrica. À direita, Santo Antônio prega aos peixes. “O frei João Batista queria que a capela fosse Cristo Operário, mas Volpi percebeu que as pessoas tinham devoção a Santo Antonio. Aí ele com sensibilidade resolveu colocar Santo Antônio também pregando para os peixes, que é uma passagem clássica“, explicou o frei Marcelo Alves, responsável pela capela.

Sobre o fundo rosa, está a assinatura, bem apagada, do artista mais conhecido pelas famosas pinturas da série de bandeirinhas e mastros. “Há uma assinatura do Volpi do lado direito, mas nem precisaria, porque é notória a maneira como ele coloca as suas bandeiras. Da para se ver as bandeiras no geral”, disse o frei. As formas geométricas de Volpi também estão nos vitrais com as imagens dos quatro autores do evangelho. Na capela, há outras intervenções de artistas. O jardim foi feito com a supervisão do paisagista Roberto Burle Marx. Hoje, no lugar da antiga fábrica, funciona uma faculdade de teologia.

Centro

Na Igreja Nossa Senhora da Paz, no Glicério, região central de São Paulo, há pinturas do italiano Fulvio Pennacchi, que chegou ao Brasil em 1929 e foi logo aceitando o primeiro emprego que encontrou. “Ele teve que trabalhar como açougueiro, e desenhava nas horas vagas e foi descoberto por outro italiano. Em 1942, quando se foi fazer essa igreja, ele foi convidado a participar”, contou o professor de arte brasileira Percival Tirapeli.

Ele aprendeu na Itália a técnica que usou nas pinturas, o afresco. As pinceladas eram executadas rapidamente sobe a parede que havia acabado de ser rebocada. Pennacchi era especialista nesse tipo de pintura. Em muitas de suas obras, há cenas da Toscana, região onde ele nasceu.  Também no Centro da capital paulista, a Ordem Terceira do Carmo guarda alguns tesouros da arte. A pintura na madeira é feita com tinta a óleo e uma mistura de pigmentos. A maior parte das imagens é do padre Jesuíno do Monte Carmelo, que pintou a igreja entre 1795 e 1797. 

No ano passado, restauradores do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) encontraram embaixo de uma pintura grosseira a imagem de Nossa Senhora do Carmo, pintada pelo padre, como desconfiava o poeta Mario de Andrade há 60 anos.  “Mario de Andrade diz que ele [o padre] é um pintor barroco sem estilo. E talvez essa qualificação seja o que mais importa para esse artista. Ele é praticamente um autodidata”, disse o professor. O trabalho de restauro continua para manter de pé o patrimônio artístico.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

"Negociar e acomodar identidade religiosa na esfera pública"

Pesquisa científica comprova os benefícios do Johrei

A fé que vem da África – Por Angélica Moura