Quatro mares na terra da fé - Por Luciana Alvarez


Pensar em Israel sem resgatar na memória a imagem dourada do Domo da Rocha ou o verde do Monte das Oliveiras, atrações clássicas de Jerusalém, pode confundir o mosaico pessoal de referências. É possível até afirmar que o mar azul e o flagrante aventureiro seriam associados aos mais diversos destinos pelo planeta - mas não a um país que, com território menor que o do Estado de Sergipe, é o berço das três grandes religiões monoteístas do mundo.

Pois é justamente o tamanho reduzido do território o responsável por transformar Israel em um balneário de primeira. O país tem praias em quatro mares - Mediterrâneo, a oeste, da Galileia, ao norte, Morto, a leste, na divisa com a Jordânia, e Vermelho, no extremo sul. Todas a poucas horas de distância umas das outras. Motivo mais que suficiente para que as manifestações de fé no Muro das Lamentações sejam combinadas com merecidos momentos de ócio junto às águas.


MEDITERRÂNEO

Percorrer o variado litoral tem também função didática e ajuda a compreender as nuances desse complexo país. O mais extenso trecho costeiro, banhado pelo Mediterrâneo, tem contornos diferentes a cada parada. Em Acre, o Mediterrâneo se apresenta como porto de pescadores tipicamente árabe, com uma mesquita no centro e a agitação de um mercado nas ruas estreitas, ainda parcialmente cercadas por muros das Cruzadas. No porto, uma imagem exemplar da mistura de culturas: na torre ornada com a lua crescente e a estrela, símbolo do Islã, tremula a bandeira nacional com a estrela de David.


Graças às pegadas dos povos que passaram pelo local - egípcios, gregos, romanos, turcos e britânicos -, Acre tornou-se uma cidade colorida, cheia de vida e música. Turistas caminham, moradores jogam cartas na calçada e sempre existe a possibilidade de, na próxima viela, encontrar uma ruidosa festa de casamento. Um pouco mais ao sul, em Haifa, o Mediterrâneo emoldura uma paisagem de absoluta tranquilidade. A calma da longa praia de água muito azul inspirou a construção de um belíssimo santuário de meditação, o centro mundial da religião Baha"i - mais uma crença a coabitar o espaço já dividido por cristãos, judeus e muçulmanos.

O templo tem 18 patamares enfeitados por jardins e fontes, abertos a visitas. Atrai peregrinos e curiosos e conquistou o título de Patrimônio da Humanidade da Unesco. Em Cesareia, ruínas romanas do século 1º emolduram o Mediterrâneo. Ao lado de uma das mais belas praias de Israel pode-se apreciar a grandiosidade das obras do Rei Herodes, o "rei construtor", como um preservado anfiteatro para lutas de gladiadores e um hipódromo para corridas de carruagens.

Peça essencial do mosaico cultural israelense, Tel-Aviv apresenta-se como uma badalada e cosmopolita metrópole. Centro econômico e administrativo, a cidade tem o espírito tão jovem quanto sua certidão de nascimento - foi fundada há apenas 100 anos, uma criança, se for comparada à maioria das vizinhas. Além da praia, o porto é a principal atração na orla. Há restaurantes, bares, lojas e galerias, em uma agitada vida turística e cultural com fôlego para durar 24 horas por dia.


BERÇO DA CABALA


Entre ruas estreitas e muros de pedra, as portas e janelas das casas antigas de Safed se destacam pela pintura azul-clara. Mais que coincidência ou escolha estética, a cor foi adotada por seu poder de afastar demônios, segundo a cabala. A pequena cidade nas montanhas da Galileia tem 2 mil anos, mas floresceu no século 16, quando religiosos e místicos judeus se mudaram para lá expulsos da Espanha ou fugindo da Inquisição. Hoje, Safed é o centro mundial da cabala - o misticismo judeu, popularizado pela cantora Madonna. O local tem pelo menos 10 sinagogas que atraem visitantes. Do lado de fora dos templos, artesãos oferecem amuletos como a hamsa, uma mão estilizada que simboliza os cinco níveis da alma.

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