IAP discute identidades afroindígenas na Amazônia



O Instituto de Artes do Pará (IAP) dá prosseguimento ao projeto Saber da Fonte, que busca levar ao público pesquisas acadêmicas sobre o universo cultural da Amazônia. Nesta terça-feira (20), quem participa do projeto é Sarraf Pacheco, professor doutor em História Social. Ele vai falar sobre matrizes culturais afroindígenas na palestra “No Rastro/ Resíduo da História: Linguagens e Identidades Afroindígenas no coração da Amazônia”. O evento começa às 18h30, no auditório do IAP (Nazaré, ao lado da Basílica).
A perspectiva desta apresentação é estimular entre o público a valorização de experiências de grupos de tradições orais africanas, indígenas e mestiças que se esparramaram, interagiram e conformaram marcas das identidades materiais e sensíveis amazônicas. Segundo Sarraf Pacheco, rastros da presença indígena, africana e mestiça e suas trocas culturais, captados nos dois lados do arquipélago de Marajó – campos e florestas –, em referências presentes na historiografia amazônica, assim como em documentários, narrativas literárias e depoimentos orais, permitem discutirmos como outras linguagens comunicacionais foram canais por onde populações amazônicas de matrizes multiétnicas sabiamente inscreveram suas identidades e trajetórias.
De acordo com o pesquisador, a dinamicidade do processo cultural impede que necessariamente essa cultura – formada por narrativas fantásticas, cantigas, chulas, rezas e benzeções -, por ser uma tradição oral, corra o risco de desaparecer ou sofrer modificações demais em relação às suas origens. A tendência, diz ele, é que uma cultura mais rica surja dessa interação.
“Inicialmente é preciso entender o caráter dinâmico das culturas populares. Nenhuma cultura consegue permanecer igual ao seu nascimento ou a sua dita primeira invenção. As modificações são processos que expressam a historicidade das práticas culturais. As populações marajoaras, por estarem situadas em espaços de grandes circulações de ideias, desde o período colonial, constituíram suas identidades em amplo processo de trocas culturais. As tradições orais marajoaras adaptam-se, recriam-se, abandonam o que não mais lhes interessa e constroem sua história”, ensina.

“Não tenho dúvida de que os encontros de grupos humanos produzem novas práticas culturais, modos de vida e, portanto, novas culturas, nascidas de outras tantas mesclas culturais. Muitos elementos dos antigos universos continuam, embora com outras significações, outros são recriados ou abandonados”, completou Pacheco.
A persistência de saberes dessas culturas nativas ou em diásporas, registrada em narrativas fantásticas, arquiteturas barrocas, artefatos arqueológicos, cantigas e danças de bois, chulas, rezas e benzeções, ajudam a questionar a invisibilidade do trabalho com memórias e expressões de saberes indígenas, africanos e afroindígenas em espaços escolares marajoaras.
Natural de Breves, na Ilha do Marajó, Pacheco usou muito do conhecimento que apreendeu em sua infância e juventude como ponto de partida de sua pesquisa. “Entre 2002 e 2004, período em que cursei o mestrado na PUC-SP, ampliei os temas de estudo, assim como as relações entre Melgaço e os municípios em limites, especialmente Breves e Portel. Entre 2005 e 2009, precisei recuar para os tempos coloniais, por meio de crônicas religiosas, relatos de viajantes, documentos eclesiásticos, narrativas etnográficas e historiográficas, obras literárias, além de vasta gama de depoimentos de padres, ribeirinhos, rezadores, curandeiros, pais-de-santo, leigos engajados em trabalhos paroquiais, entre outros indícios”.
Pássaros Juninos
Após a palestra desta terça-feira, o projeto vai abordar a riqueza cultural dos Pássaros Juninos, no dia 27, com as seguintes palestras: “A Função Dramática do Figurino nos Pássaros Juninos”, com Margarete Refkalefsky, doutora em Artes Dramáticas, diretora do Teatro Cláudio Barradas da Escola de Teatro da UFPA; “Cordões de Pássaros Juninos: a Função da Música no Espetáculo”, com Rosa Maria Mota da Silva, mestre em Musicologia e professora da Escola de Música da UFPA; e “Os Grupos de Pássaros Juninos como uma Escola de Formação de Brincantes”, com Olinda Charone, doutora em Artes Cênicas e professora da Escola de Teatro da UFPA.

 
SERVIÇO
Projeto Saber da Fonte. Programação todas as terças-feiras do mês de abril, às 18h30, com entrada franca, no auditório do Instituto de Artes do Pará (Nazaré, ao lado da Basílica). Informações: 4006-2945. (IAP)

Fonte: http://www.diariodopara.com.br

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