Livro digital tem 5 milhões de leitores em potencial - Por Bruno Loturco

O Brasil tem um mercado potencial para os livros digitais formado por 5 milhões de pessoas - entre 3 e 4% da quantidade total de leitores de livros convencionais. Desses consumidores, um terço lê diariamente livros em formato eletrônico. Outro terço o faz semanalmente e o restante lê pelo menos uma vez por mês. Os números foram revelados pela pesquisa: "Os leitores brasileiros e o livro digital", feita pelo Observatório do Livro e da Leitura sob encomenda da CBL (Câmara Brasileira do Livro) e da Imprensa Oficial de São Paulo e apresentada durante o 1º Congresso Internacional do Livro Digital, realizado em São Paulo entre os dias 29 e 31 de março últimos.

Segundo Galeno Amorim, jornalista e escritor e atual diretor do Observatório, a maior parte desses leitores utiliza o computador para ler ou imprime livros distribuídos gratuitamente pela Internet. Amorim revela existência de resistência dos leitores em pagar por um título digital mais do que 25% do valor pago atualmente por um livro impresso. E só o fazem se a publicação esteja associada ao oferecimento de recursos adicionais, como pesquisas aprofundadas sobre o tema central da obra, links ou recursos em vídeo, por exemplo. "As pessoas associam o livro digital à Internet. Por isso, tendem a acreditar que sejam gratuitos", avalia ele.

A pesquisa afirma que, baseado no oferecimento gratuito de materiais, o mercado brasileiro de livros eletrônicos não conta com dados confiáveis sobre o volume de downloads ou de dinheiro movimentado anualmente. "As informações no mercado brasileiro são relativamente novas. Por isso, o mercado está em fase de pré-concepção e as empresas pensam em novos modelos de negócio", acredita Amorim. Ele aposta que a dissociação do formato da Internet aumentará o potencial de crescimento do mercado, especialmente quando se popularizarem os e-readers - aparelhos destinados à leitura desse tipo de livro. "Quando colocados frente a um aparelho como o Kindle, as pessoas tendem a gostar e afirmam que gostariam de ter o equipamento. Eles chegam ao leitor como sinal de que a resistência que ainda existe pode ser derrubada rapidamente", aposta ele.

Ainda gratuitamente, devido ao caráter acadêmico, mas de forma consistente e centralizada, no último dia 11 de março a Unesp (Universidade Estadual Paulista) lançou seu programa de Publicações Digitais, que em sua primeira fase colocou à disposição do público 44 títulos inéditos concebidos no âmbito da PROPG (Pró-Reitoria de Pós-Graduação) da instituição. A iniciativa tem apenas pouco mais de um mês de existência e, por isso, Jézio Gutierre, editor-executivo da Editora Unesp, afirma que é cedo para ter dados consolidados referente à distribuição desses livros. No entanto, ele assegura que o volume de acesso tem sido surpreendentemente alto. "Nossa percepção é de que está sendo muito bem acessado e a partir de lugares que nunca poderíamos imaginar que houvesse interesse, como o interior do Acre e diversas cidades de Roraima", declara ele, numa referência ao descobrimento de mercados antes encobertos pelas limitações das linhas de distribuição.

Por isso, Gutierre acredita que mais relevante do que saber exatamente a dimensão desse mercado é o fato de que se trata de um segmento já muito importante e, principalmente, crescente. "Isso em si já justificaria o interesse por esse segmento. Não só por parte das editoras, mas dos autores também", observa. E esse movimento já é sentido na Editora PUC-RS (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul), conforme testemunha o professor Gilberto Keller, coordenador do setor de publicações eletrônicas da editora. "Devido à necessidade de publicar, o professor já pensa diferente e aceita a editoração eletrônica". E, nesse caso, a questão do custo é irrelevante para o autor, pois, por tratar-se de uma editora acadêmica, não há custos para publicação de trabalhos resultantes de programas de pós-graduação.


Como escrever e-book

O processo de produção de um e-book não difere do desenvolvimento de um livro convencional apenas devido à inexistência de impressão. Os custos de formatação chegam, inclusive, a ser mais altos do que o de um livro convencional, como observa Keller, que afirma que a capa custa o mesmo, assim como a revisão. Mas que, quando chega a etapa de explorar recursos tecnológicos e as possibilidades de interação com o leitor, o custo é maior do que o do papel. No entanto, ele pondera: "dali para frente não tem como comparar. Um vai para gráfica, gastar papel, e o outro para um servidor, ocupar espaço virtual. O custo é baixo a partir desse momento, o que deixa o valor final menor".

Nesses elementos extras estão os atrativos citados pelos entrevistados na pesquisa da CBL, úteis especialmente no caso de publicações acadêmicas, em que as notas de rodapé e os índices se transformam em links, com possibilidade de busca por termos. Além disso, há vantagens para quem consome publicações acadêmicas. "O leitor acadêmico não tem reação ao computador, pois já está habituado. Já o leitor que não usa o computador pode achar estranho", diz Noga Sklar, escritora e sócia da KindleBookBR, editora especializada em publicações digitais.

A primeira dica para os autores interessados nesse formato de livro é, portanto, investir nos recursos impossíveis de serem explorados no papel, como conteúdos dinâmicos. Nesse sentido, Gutierre acredita que o e-book aumenta as possibilidades de expressão de ideias e argumentos em qualquer tipo de plataforma.

Além disso, os critérios de qualidade não podem ser deixados de lado e devem receber tanta atenção quanto uma edição em papel. Noga alerta para o papel do editor num mercado em que é muito mais fácil escrever e publicar. Primeiramente, com a gramática. "Embora o editor também tenha o papel de revisar, a maioria dos livros que recebemos tem nível tão baixo que o autor não poderia nem ser chamado de escritor", lamenta ela. Em paralelo, num mercado de oferta em alta, o editor tem a função de filtrar o que chega às mãos dos leitores, conforme observa Amorim. "Nesse mar gigantesco de livros eletrônicos, o leitor precisa de orientação para buscar produtos em que tenha confiança para não perder tempo", diz.

Escrito e revisado, o e-book vai para a etapa em que passa a apresentar as maiores vantagens técnicas em relação ao livro impresso, a de distribuição e divulgação. E, por mais que pareçam etapas demoradas, Noga conta que, em sua editora, leva no máximo três dias entre o começo da edição e a publicação eletrônica. Mesmo que não esteja associado a nenhuma editora, o autor tem a possibilidade de incluir sua obra no catálogo de livrarias on-line, como a Amazon. E também nessa fase a participação do escritor é fundamental para o sucesso do trabalho. Cabe a ele ser ativo e colocar os links na Internet, nos sites de relacionamento em que atua, no Twitter e em seu blog pessoal. "Não é mais como antes, quando um autor independente não conseguia aparecer. Agora, ele só precisa divulgar o que fez nos locais em que as pessoas procuram. Aí a coisa acontece", afirma Noga. Também para essa etapa, os custos e os riscos são menores do que para os livros convencionais em papel.

No entanto, não apenas de divulgação ativa se faz o sucesso de um e-book. Para enfrentar a concorrência, é necessário utilizar artifícios técnicos para que seja encontrado por qualquer pessoa interessada. "O livro pode ser maravilhoso, mas se não foi bem feito e não é adequado aos mecanismos de busca, não tem palavras-chave, ele fica lá. A Amazon deve ter uns 450 mil livros digitais. Mesmo que seja um autor gênio, o livro não aparece", garante Noga. Mas mesmo que o trabalho seja bem feito, Noga explica que o retorno de vendas costuma levar algum tempo até que a publicação fique bem indexada nos mecanismos de busca on-line.

Fonte: http://www.universia.com.br

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