Anglicanos brindam 50 anos no DF - Por Leilane Menezes

Uma das igrejas mais antigas do Distrito Federal — com 50 anos de idade, assim como Brasília — é a Catedral Anglicana. O templo comemora o meio século de vida neste fim de semana, e uma das atrações, além do culto especial de domingo, com representantes vindos dos Estados Unidos (veja programação), é a a exposição fotográfica sobre a construção do prédio da igreja no DF. Apesar de estar na cidade há tanto tempo, a igreja ainda não é tão frequentada e tem em torno de 300 fiéis. O templo prega o respeito à diversidade e sua filosofia é receber as pessoas como elas são, sem a promessa de promover grandes mudanças.


Igreja , localizada na 309 Sul, teve sua fundação oficializada praticamente na data de inauguração de Brasília



A Igreja Anglicana nasceu na Inglaterra, no século 3, depois da ruptura do rei Henrique VIII com o clero cristão católico. O monarca queria se divorciar e os chefes religiosos não concederam a ele esse direito. Ele se revoltou e montou uma outra igreja. Hoje, o anglicanismo está em 165 países. Em 1810, as primeiras capelas britânicas vieram para o Brasil e em 1890 chegaram os primeiros missionários vindos dos Estados Unidos. A história dessa religião em Brasília começou em 1957. Os funcionários lotados no Rio de Janeiro passaram a pensar na vinda para a nova capital. Os bispos anglicanos não queriam ficar para trás e visitaram o DF. Vieram de jipe e conheceram o projeto da cidade.

 
Gostaram do que viram e, em 1959, sacerdotes dessa ordem vieram de vez para o solo candango. O primeiro culto foi realizado em um hotel de madeira, na Candangolândia. No ano seguinte, os membros da igreja conseguiram a doação do terreno onde o templo fica ainda hoje, na 309/310 Sul. Em 5 de junho de 1960, celebrou-se o primeiro culto no local definitivo, projeto pelo arquiteto Glauco Barreto, da equipe de Oscar Niemeyer, e batizado como Catedral Anglicana. “A presença anglicana em Brasília coincide com o ano de fundação da cidade. O momento do cinquentenário é muito especial para nós”, disse dom Maurício de Andrade, bispo da Catedral Anglicana de Brasília há sete anos e primaz(1) do Brasil.

 
Hoje, no DF e no Entorno, existem quatro comunidades anglicanas. A matriz é a catedral, na Asa Sul, mas há também unidades no Paranoá, no Riacho Fundo e no Pedregal (Novo Gama). Seis reverendos e reverendas comandam as orações nesses lugares. Um ponto marcante dessa igreja é a presença de mulheres. Elas são parte dos ministérios e ocupam lugar de destaque há 25 anos. “Nossa preocupação maior é pregar em um espaço para todas as pessoas e ser um templo de inclusão. Acolhemos todos no amor de Deus, sem discriminação nenhuma. Queremos receber todas as pessoas do jeito que elas estão e trabalhar as necessidades de cada uma”, explicou o bispo.

O comerciante Alexandre Vilardo, 47 anos, um dos 300 seguidores da religião em Brasília, sai do Guará, onde mora, todo domingo para assistir ao culto na Catedral Anglicana. Antes disso, ele era protestante e sua mulher, Erika, 34, católica. Alexandre está no segundo casamento. Era divorciado e sonhava em se casar com a então namorada. “Mas eu já era casado na igreja e não poderia fazer uma nova cerimônia na Igreja Católica Romana. Uma das realizações que a Igreja Anglicana me trouxe foi poder me casar”, relatou. Alexandre frequenta o templo há sete anos e soube por meio de amigos da existência dessa opção de crença. “Foi onde encontrei o equilíbrio. Me acolheram muito bem, mesmo eu sendo divorciado, coisa que não ocorria em outros templos. Aqui não há tantas regras. Usamos muito a razão e posso usar a minha liberdade para expor meus pensamentos.”

Semelhanças e diferenças

Assim como a Igreja Católica Apostólica Romana, a Anglicana também é uma igreja bíblica. Tem como centro da inspiração a palavra de Deus e mantém credos apostólicos e eucarísticos, mantendo os ritos de casamento, de eucaristia e de batismo. Um diferencial, além da valorização feminina, é o valor dado à razão em detrimento da fé cega. “Queremos dar respostas sobre as questões fundamentais para a sociedade. Equilibramos razão e experiência”, afirmou o bispo Maurício de Andrade.

 
Ele comemora o crescimento da comunidade anglicana. No início, era apenas uma paróquia; agora, existe uma diocese. “Temos mais de 80 milhões de fiéis espalhados pelo mundo. Há nove dioceses no Brasil. Há aproximadamente 250 templos. Mantemos também escolas, projetos sociais e uma faculdade”, enumerou. “Vamos celebrar com alegria este momento do cinquentenário e lembrar o papel da nossa igreja, que acreditou e apostou no sonho da construção de Brasília, um sonho que agora é realidade”, concluiu.

 
1 - Hierarquia

O primaz é o religioso que está em primeiro lugar em importância e hierarquia dentro de uma igreja, seja ela católica romana ou anglicana. Ele ocupa uma posição superior à de bispos e de arcebispos, por exemplo.


Ala libertária


A Igreja Anglicana causou polêmica ao quebrar a exigência imposta a seus bispos de serem celibatários. Depois da liberação, um deles, Gene Robinson, 63 anos, anunciou em 2007 que se casaria com o companheiro, no estado de New Hampshire. A declaração não agradou à ala conservadora da igreja. Em 2009, os anglicanos reacenderam a polêmica ao eleger como bispa uma homossexual, Mary Glasspool. A Igreja tem opiniões divididas. Os mais conservadores rejeitam a homossexualidade e usam a Bíblia para justificar a opinião. Os mais liberais preferem interpretar o livro sagrado levando em consideração a realidade contemporânea.


Fonte: http://www.correiobraziliense.com.br

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

"Negociar e acomodar identidade religiosa na esfera pública"

Pesquisa científica comprova os benefícios do Johrei

A fé que vem da África – Por Angélica Moura