Na Mostra, um bom filme sobre a África - Fábio Zanini

Na África, o conceito de família é flexível. A paz não significa necessariamente harmonia e progresso. E a guerra ainda acontece de uma forma que não se vê na Europa ou nos EUA há pelo menos 50 anos. Afeta a todos, acompanhada por pais aflitos pelas ondas do rádio.

É um dos filmes programados para a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, que começa amanhã. O filme é uma produção belga ambientada no Chade (pais da África Central). A obra mostra a vida de Adam, um ex-campeão de natação que vive de limpar a piscina de um hotel cinco estrelas em Ndjamena, a capital. O serviço é algo humilhante para alguém que já foi um ídolo do esporte: ensinar crianças loirinhas a dar braçadas. Maltratado pela chefe chinesa (outra boa imagem sobre o atual Estado das coisas na África), ele acaba perdendo o posto de zelador da piscina para o filho de 20 anos, até então seu assistente.
Tudo acontece durante um intervalo de relativa calma da interminável guerra civil do país, que vai e volta há 40 anos. O Chade no momento é governador (por assim dizer...) pelo ditador Idriss Deby, que enfrenta rebeldes baseados no Sudão e República Centro-Africana. A guerra é o pano de fundo da relação de pai e filho. A disputa pelo posto de piscineiro do hotel é árdua, já que o emprego é cobiçado num país com poucas oportunidades de trabalho. Isso distancia pai e filho e leva à fragmentação de uma família antes coesa.
Logo, no entanto, os combates se reacendem, e o jovem é forçado a se juntar às fileiras do governo. É a guerra que vai oferecer a oportunidade para a reaproximação familiar. Como retrata o filme, no turbulento continente, até relações entre pai e filho têm de obedecer ao interminável ciclo da violência. Mais não conto para não estragar. O cinema africano de língua francesa é o melhor do continente, Chade e Burkina Faso à frente. Tem filmes densos e nem sempre chatos. Oferecem um contraponto interessante a Nollywood, o cinema de ação barata produzido aos montes na Nigéria (e extremamente popular).



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