Religião na América do Norte - Por John Flynn


Um novo livro examina a diversidade de crenças



 
Os Estados Unidos se sobressai entre as nações ocidentais por seu alto nível de religiosidade e também pela grande diversidade de igrejas e credos. Robert D. Putnam e David E. Campell examinaram a situação da religião nos Estados Unidos no livro de recente publicação: American Grace: How Religion Divides and Unites US (Simon and Schuster).

 
Considerando o passado recente, os autores identificaram três grandes mudanças na prática religiosa. A primeira foi a revolução cultural e sexual dos anos 60, que teve como resultado uma notável diminuição na assistência à igreja. A isso seguiu uma reação da religião, sobretudo das igrejas evangélicas. Finalmente, um crescente número de jovens na última década renunciou a toda religião em geral.

 
Um dos resultados destas mudanças foi uma polarização cada vez maior, com mais pessoas que são ou muito religiosas ou resolutamente laicistas, e com menos pessoas entre ambos. Não obstante, apesar da inflamada retórica de alguns comentaristas e de alguns livros, há uma grande tolerância pública, tanto em relação às demais religiões como aos que não têm nenhuma.

 
É esta combinação - de devoção e pluralismo tolerante - que os autores consideram como a American Grace (a Graça Americana) do título do livro. O livro oferece dados de diversas pesquisas que demonstram a importância da religião nas vidas de muitas pessoas. Pelo menos 83% da população faz parte de alguma religião, com 40% que afirma participar das atividades religiosas quase toda semana.

 
Isso representa mais que o dobro da porcentagem de assistência religiosa de países como Grã-Bretanha, Alemanha e França, e superior inclusive à Itália. E 59% das pessoas afirmam que rezam pelo menos uma vez por semana, enquanto 33% leem a Bíblia com a mesma frequência.

Diminuição

 
Ainda que milhões de pessoas vão à igreja cada semana, há um notável aumento no número de norte-americanos que abandonaram a religião. Este é sobretudo o caso daqueles que chegaram à idade adulta na última década. Manifestam uma participação menor na igreja, comparada à normal das famílias em que cresceram.

 
O livro oferece algumas explicações sobre as causas de tais fenômenos. Os autores sustentam que alguns jovens se afastaram pela politização das igrejas mais conservadoras. Outros não aceitam os ensinamentos da Igreja sobre moral sexual, especialmente no tema da homossexualidade, sobre o qual as pesquisas levadas a cabo pelos autores demonstram uma aceitação maior desta, quando se compara com as gerações mais velhas.

 
Não obstante, Putnam e Campell não aceitam a tese de que a América do Norte está atravessando um processo de secularização similar ao de outros países ocidentais. A diminuição da religião está ocorrendo de maneira notavelmente menos intensa que em outros lugares e a história da religião na América do Norte teve uma série de altos e baixos, com diminuições seguidas de ressurgimentos periódicos.

 
Uma característica interessante da religião na América do Norte identificada no livro é a notável variabilidade nas lealdades. Menos de dois terços dos norte-americanos herdaram a religião dos seus pais. Isso varia, no entanto, quando se leva em consideração a etnia. A lealdade a uma religião se eleva o dobro ou mais entre os negros e latinos, em comparação com 40% dos norte-americanos brancos que mudaram para uma religião diferente da dos seus pais.

 
Entre os católicos brancos, mais de 60% abandonaram a Igreja, com a metade deles afastados e participando esporadicamente das atividades eclesiais, e a outra metade que mudou de religião. A porcentagem dos católicos latinos que deixaram a Igreja é a metade desta cifra, o que, combinado com a alta taxa de imigração de países latinos, fará que aumente o caráter latino da Igreja Católica na América do Norte.

 
Os imigrantes são atualmente cerca de 13% da população dos EUA e, como no último século, a Igreja costuma ser um refúgio para eles, observam os autores. Ainda que a porcentagem de permanência entre os católicos brancos seja similar ao das principais denominações protestantes, a Igreja Católica continua tendo a mesma porcentagem de população - aproximadamente 25% - devido à afluência de imigrantes católicos.

 
Uma pesquisa levada a cabo em 2006 revelou que 35% de todos os católicos dos Estados Unidos afirmaram ter algum grau de pertença ao coletivo latino. Ainda que sejam apenas 15% dos católicos com mais de 50 anos, representam 34% dos que estão entre 35 e 49, e 58% de todos os católicos com menos de 35 anos. A isso é preciso acrescentar o fator de sua assistência regular, que, nos latinos, é maior que nos brancos. Assim, 67% dos católicos jovens que vão à igreja de maneira regular são latinos.

 
Não se trata somente de uma mudança quantitativa, mas também qualitativa. Segundo a pesquisa dos autores, os católicos latinos são mais ortodoxos em suas crenças e dão mais apoio ao Papa.

 
Impacto na sociedade

 
Junto à consideração das mudanças na religião, o livro examina também o impacto social e político dos crentes. Em relação à religião e à política, Putnam e Campbell indicaram que os conservadores e o Partido Republicano tiveram êxito ao forjar a coalizão denominada "Direito Religioso", unindo temas como o aborto, a família e o casamento entre pessoas do mesmo sexo.

 
Esta aliança sofrerá pressões, dado que, enquanto a religiosidade se conecta a lealdades políticas mais conservadoras, inclusive a pessoa jovem mais religiosa provavelmente apoiará o casamento homossexual, como seus concidadãos laicistas. No entanto, a aceitação do aborto entre os jovens caminha na direção oposta. Ainda que o "Direito Religioso" provavelmente não se romperá em um futuro próximo, a dinâmica entre religião e política permanece sujeita a mudanças.

 
"A mudança será em como a religião afeta a política, não se vai fazê-lo", conclui o livro. Segundo Putnam e Campell, no setor social mais amplo, os norte-americanos religiosos são, além de vizinhos mais generosos, também cidadãos mais conscientes que seus concidadãos laicistas. As pessoas religiosas se envolvem mais no voluntariado, não somente nas organizações da Igreja, mas também nas leigas. De fato, os que vão à igreja de maneira regular têm mais que o dobro de probabilidade de ajudar de maneira voluntária os necessitados, em comparação com os que raramente vão à igreja.

 
Quando se trata de filantropia, não só uma porcentagem mais alta das pessoas religiosamente ativas faz doações a organizações assistenciais, senão que as quantidades dadas são maiores que as dos norte-americanos laicistas. Isso ocorre tanto para causas religiosas como para as não-religiosas.

 
Os norte-americanos religiosos são mais ativos como cidadãos; segundo o livro, representam o dobro daqueles que não o são. Esta atividade vai da pertença a organizações e o serviço a organismos à atividade política. Além disso, não são somente os conservadores religiosos que se mostram ativos. Quando se trata de temas de reformas locais, a religiosidade é mais importante para aqueles que se consideram liberais.

 
Causas

 
A correlação não prova uma relação causal, admitem os autores. Ainda assim, estes padrões permanecem ainda levando em consideração o gênero, a educação, o nível econômico, a etnia, a região, a idade e outras variáveis.

 
Controlar os pontos de vista teológicos ou as tradições religiosas não proporciona uma guia sobre por que os norte-americanos religiosos são melhores vizinhos, indicam os autores. Uma explicação proposta pelo livro é que ter bons amigos na igreja e conversar sobre religião com a família e os amigos está estreitamente associado a todo um leque de formas de generosidade de envolvimento cívico.

 
O pertencimento a um grupo e sua atividade - e não tanto as crenças religiosas em si - são o fator chave para reafirmar uma boa cidadania. Combinado com o fato de que as pessoas religiosas pontuam alto quando se trata de apoiar valores altruístas, o crente socialmente ativo é motivado por redes sociais religiosas a estar mais envolvido na comunidade.

 
No final do livro, Putnam e Campell observam que a religião pode ser descrita corretamente como a cola que mantém a sociedade norte-americana unida - um papel que ela continuará desempenhado em um futuro próximo.

Fonte: http://www.zenit.org



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