Islão: Jovens muçulmanos na Europa querem respostas da religião adequadas ao seu contexto - Por Nina Clara Tiesler

Os jovens muçulmanos que nasceram ou que vivem na Europa estão a exigir respostas do islão adequadas ao contexto em que vivem, sublinha a investigadora Nina Clara Tiesler, que escreveu um livro sobre o assunto.

Lançado hoje, no âmbito de uma conferência sobre os muçulmanos na Finlândia, na Irlanda e em Portugal, que decorre no Instituto de Ciências Sociais (ICS) da Universidade de Lisboa, “A morada de ser - muçulmanos na Europa e políticas de identidade” (ed. ICS) pretende demonstrar que o islão e as pessoas que o praticam não são um bloco homogéneo, mas que existe “um grande individualismo e uma grande heterogeneidade dentro da Europa e dentro de cada país europeu”.

 
Realçando que o discurso europeu tem tratado os muçulmanos sobretudo como grupo religioso, Nina Clara Tiesler sustenta: “Não existe uma cultura muçulmana ou uma cultura islâmica. O que existe é a religião, o islão, e depois, tal como no cristianismo, muitas culturas locais diferentes, com costumes, hábitos, interpretações, práticas e perspetivas da sua própria religião muito diferentes.”

 
Doutorada em Ciências Comparadas da Religião e investigadora auxiliar no ICS, considera que o papel da investigação académica é “abrir um pouco os olhos” e sublinhar que é preciso “distinguir contextos históricos e específicos”.

 
Na Europa, há uma “grande diversidade de quotidiano religioso” entre os muçulmanos: alguns apres entam-se como “muçulmanos culturais”, outros como seguidores de “uma fé muito forte”, exemplifica.

 
O islão “é um bom exemplo” para mostrar que “as religiões (…) não são entidades estáticas, mas são objeto e sujeito de uma mudança social” e estão “sempre em processo de mudança e modernização”, sustenta Nina Clara Tiesler.

 
A primeira geração de muçulmanos na Europa era essencialmente composta por imigrantes, que tinham como única experiência cultural e social a do país de origem e que, consequentemente, viveram e vivem outro quotidiano religioso. Ora, “os jovens nunca viveram noutro país e querem respostas da sua religião, do islão, às perguntas de hoje e aqui”, no contexto europeu, contrapõe a investigadora, sublinhando que “os imãs importados dos países de origem não conseguem dar todas estas respostas”.

 
O que é preciso, diz Nina Clara Tiesler, é recorrer à tradição islâmica do “ijtihad”, que é a “interpretação das fontes originais à luz das realidades de hoje”, pois as gerações jovens de muçulmanos na Europa já frequentaram o sistema educativo europeu e “têm outro acesso a sabedoria e a fontes escritas”.

 
O académico e intelectual Tariq Ramadan é o “bom exemplo” analisado no livro, pois a sua obra considera fulcral a aliança entre o conhecimento da religião e a educação secular, segundo Nina Clara Tiesler.

Fonte: http://www.correiodominho.com

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