Universidades e indicadores - Por Mônica Pileggi

Como medir a qualidade da produção científica de um pesquisador ou de uma universidade no Brasil foi uma das questões mais debatidas no ciclo:


 “A Universidade e os Índices Nacionais e Internacionais”


realizado pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) em São Paulo, nos dias 24 e 25 de maio.


O encontro contou com a participação de Herman Voorwald, secretário da Educação do Estado de São Paulo e conselheiro da FAPESP, além de professores e representantes da Unesp, da Universidade de São Paulo (USP), da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), da Fundação Getúlio Vargas (FGV), da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), entre outras instituições, para discutir os diversos índices – nacionais e internacionais – adotados para avaliar as universidades, sua produção acadêmica e docentes.


A conferência de abertura foi proferida pelo geógrafo francês Hervé Thèry, pesquisador do Centro de Pesquisa e de Documentação sobre a América Latina (Credal) do Centro Nacional da Pesquisa Científica (CNRS) e professor convidado da USP, que falou sobre o Índice de Xangai.


O índice, cujo nome oficial é Academic Ranking of World Universities (ARWU), foi concebido em 2003 por um grupo da Universidade Shangai Jiao Tong, na China, e é utilizado para classificar as universidades em todo o mundo pela produção acadêmica de cada uma.


O trabalho de Thèry, com base no índice, consiste em mapear as 500 maiores universidades do mundo, entre as quais seis brasileiras. Para complementar a configuração territorial das instituições de ensino superior, o geógrafo utiliza também dados de outros três índices internacionais: o Webometrics (Espanha), o Ecole Nationale Supérieure de Mines de Paris (França) e o Times Higher Education - THE (Reino Unido).


Segundo os mapas apresentados por Thèry, as universidades com as melhores classificações no índice se concentram nos Estados Unidos, na Europa e no Japão, sendo a Universidade de Harvard a primeira da lista. Embora cada indicador tivesse seu critério de avaliação, o professor focou principalmente no ARWU para nortear sua pesquisa.


Durante sua apresentação, Thèry destacou que a posição de liderança obtida por essas universidades tem como itens de maior peso na avaliação a quantidade de artigos publicados e de citações em revistas “de maior peso” como Nature e Science e o número de professores e ex-alunos agraciados com o Prêmio Nobel ou com a Medalha Fields (concedida pela União Internacional de Matemática).


Embora pesquisadores brasileiros tenham estudos publicados em revistas de alto fator de impacto, o país não figura entre as cem maiores no mapeamento feito pelo pesquisador francês. “Uma barreira para que o Brasil alcance uma posição de destaque está na ausência de laureados com Nobel ou a Medalha Fields”, disse.


Guardiões da ciência


O desempenho da produção científica avaliada a partir da quantidade de artigos publicados e citados em periódicos com alto fator de impacto – medida que reflete a relevância das revistas indexadas no Institute for Scientific Information (ISI, na sigla em inglês) – foi bastante discutido durante o encontro na Unesp.


Rogério Meneghini, coordenador científico do SciELO Brasil, programa conduzido pela FAPESP e pela Bireme, destacou o papel das publicações nacionais e o aumento para 124 periódicos brasileiros na Web of Science. Isso, segundo ele, seria reflexo da ampliação do escopo de revistas indexadas no SciELO.


No entanto, o número de estudos brasileiros citados caminha no sentido oposto. De acordo com Meneghini, o principal motivo seria o idioma (o português) em que os artigos são publicados, assim como o baixo fator de impacto dos periódicos brasileiros indexados na Web of Science. Ele destacou também a pouca presença de gatekeepers (“guardiões”), termo para designar os editores das publicações de alto fator de impacto.


“O Brasil está perdendo a oportunidade de participar de forma mais contundente do ‘clube’ dos gatekeepers. Precisamos pensar em estratégias para que cientistas brasileiros de destaque ingressem nesse ‘clube’, composto por pessoas que cuidam do contorno da ciência”, pontuou.


Projeção internacional


Os debates tiveram como ponto inicial o Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI) da Unesp, documento que estabelece os objetivos e ações da universidade para os próximos dez anos.


Com orçamento previsto para 2011 de quase R$ 62 milhões, o plano agrega 18 programas divididos em cinco dimensões: Graduação, Pós-Graduação, Pesquisa, Extensão e Gestão. Cada um com ações e metas para o ano.


O PDI permite ao gestor saber como cada unidade é atendida e, por sua vez, as unidades também podem saber como seus recursos são repassados. Trata-se de um novo modelo de gerenciamento, mais transparente, que estamos introduzindo na universidade”, disse Jorge Roberto Pimentel, professor do Departamento de Física da Unesp de Rio Claro e membro da Comissão Gestora do PDI.


O novo modelo de gestão adotado pela instituição em 2010 visa melhorar o desempenho da Unesp, assim como o seu reconhecimento na comunidade acadêmica internacional.

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