A espiritualidade em alta no cinema

Nunca os filmes de cunho religiosos estiveram tão em alta no cinema brasileiro como agora. Para explicar esse fenômeno, o diretor do recém lançado ‘O Filme dos Espíritos’, André Marouço, remete a aos anseios culturais do povo brasileiro para suprir a carência desse público.


“Estamos em um período onde é mais importante o ‘ter’ do que o ‘ser’, e as pessoas vêem nessas produções uma esperança de mudar esse cenário”. ‘O Filme dos Espíritos’, é livremente inspirado em: O Livro dos Espíritos, escrito por Allan Kardec, em 1857, a produção de longa-metragem surgida a partir do Projeto: Mundo Maior de Cinema. Rodado grande parte em São Paulo, o longa conta com filmagens em Cajazeiras/PB, e em Atibaia, Araçoiaba da Serra e Ubatuba (SP).


A produção brasileira entrou em cartaz nesse final de semana nos cinemas de Catanduva, coincidindo também com a realização da Semana Espírita. Em linhas gerais, o filme conta a história de Bruno Alves, que, por volta dos 40 anos, perde a mulher e se vê completamente abalado. A perda do emprego se soma à sua profunda tristeza e o suicídio lhe parece uma única saída. Nesse momento, ele entra em contato com: O Livro dos Espíritos, obra basilar da doutrina codificada por Allan Kardec.


A partir daí, o protagonista da história começa uma jornada em busca de sua felicidade compreendendo os mistérios da alma. Nessa jornada, os grandes enigmas existenciais humanos são decifrados, como: Que é Deus? De onde viemos e para onde vamos? O mundo espiritual é uma realidade? Podemos nos comunicar com nossos entes queridos? E tantos outros pontos aclarados pela obra basilar da doutrina espírita, “O Livro dos Espíritos”.


O Regional: ideia de produzir o filme?

André Marouço: O filme começou a ser idealizado através de um projeto do final do ano de 2008, onde nós convidamos estudantes de faculdades de cinema e audiovisual a tomarem contato com a obra ‘O Livro dos Espíritos’, que é o livro inaugural da doutrina espírita escrita por Allan Kardec e lançado em 18 de abril de 1957. Esses jovens escreveram roteiros de curtas-metragens que explicavam oito capítulos do livro. A segunda parte do projeto era escrever um roteiro, uma nova história que tinha a incumbência de reunir trechos dos curtas, mas criando um novo filme. A partir daí, esse filme explicaria os grandes enigmas existenciais humanos que são explicados através do livro.

O Regional: Quem for ao cinema ver ‘O Filme dos Espíritos’, vai se deparar com o que?

André: Quem for ao cinema assistir ao ‘O Filme dos Espíritos’ terá as respostas aos grandes enigmas existenciais humanos, como de onde viemos, para onde vamos, o que é Deus, o que é mediunidade...como se dá a ligação do plano espiritual com a matéria...isso tudo está sendo explicado através do filme. Trata-se de uma obra de ficção, que conta a história de Bruno Alves, um homem de meia idade e que está em sofrimento e vê no suicídio uma forma de escapar dos problemas. No instante em que busca o suicídio, ele encontra o ‘Livro dos Espíritos’ e passa a encontrar as respostas para a sua vida.

O Regional: Como foi formado o elenco do filme?

André: O personagem principal do filme, Bruno Alves, é interpretado por Reinaldo Rodrigues, jovem ator do grupo ‘Tapa de Teatros’ considerado o mais premiado do teatro nacional. No elenco também temos o Nélson Xavier, que não é o interprete de Chico Xavier, mas sim o de um psiquiatra. Temos a Ana Rosa, que é uma atriz conhecida do grande público e atualmente está na novela das 20 horas da Rede Globo, além de Etty Fraser, Ênio Gonçalves, que são dois atores tarimbadíssimos. Também a Sandra Corvelone, única atriz brasileira que ganhou prêmio internacional de Cannes e além de uma participação especial da Luciana Gimenez, que passou por um processo de quatro horas de caracterização para aparentar ter 70 anos de idade no filme.

O Regional: Como foi desenvolvido o enredo?

André: O Bruno Alves, personagem principal do filme, perdeu a sua esposa e o emprego, acabando por desenvolver o suicídio. A partir daí, ele achou que não valeria mais a pena viver. No momento em que ele ia se matar, ele encontra o ‘Livro dos Espíritos’ e então começa a perceber que ele não é o único no mundo que sofre. Melhor, ele também descobre que pode mudar o seu foco alcançando a felicidade. É isso que todas as religiões desejam para todas as criaturas, norteada pela aproximação do homem com Deus para a condução da felicidade.

O Regional: Esse filme tem uma abordagem diferente dos demais espíritas?

André: Esse é o quinto filme espírita produzido no Brasil. ‘O Filme dos Espíritos’ é bem diferente dos demais, por que ele é mais baseado nas relações humanas. As pessoas vão ver fenômenos espirituais e uma reunião mediúnica durante o filme, mas o foco principal é mostrar as relações humanas, sejam elas fundamentadas no amor ou no ódio, e explicar que tipo de desdobramento essas relações tem durante a nossa vida e após a vida.

O Regional: Como você avalia a seqüência de filmes de cunho religioso que o cinema nacional tem apostado?

André: Eu acho como muito positivo qualquer ocupação do bem, seja por qual religião seja. Estamos no quinto filme espírita produzido no Brasil. A função das religiões, seja qual for, é sempre levar paz e conforto, e é muito bom ocupar o cinema podendo levar essa mensagem de esperança e luz para as pessoas.

O Regional: Os filmes de características religiosas simbolizam o anseio do brasileiro em ter uma melhor esperança de vida?

André: Não se trata apenas do público brasileiro, mas também mundial. Podemos citar como exemplos as produções ‘Sexto Sentido’, ‘Ghost’, ‘Amor Além da Vida’, dentre outros. Na verdade, estamos em um período onde o ser humano infelizmente preza mais o consumismo, que está muito grande. Leva-se mais em consideração o ‘ter’ do que o ‘ser’. Tenho para mim que o ser humano está se cansando disso e ele está procurando explicações que o levem a ser e a compreender a vida, através de sua real existência. Por isso entendo que obras cinematográficas, literárias, teatrais, musicais e poéticas, que levem o consolo da ‘vida após a vida’ para o grande público, vai encontrar um nicho de mercado cada vez mais receptivo a esse tipo de mensagem.

O Regional: O orçamento disponível para a produção do filme foi o suficiente para o desenvolvimento do trabalho?


André: Nós optamos por fazer o nosso primeiro filme com os ‘pés no chão’. Fizemos um plano de negócios onde buscávamos um investimento suficiente para fazer o filme. Isso não nos faltou. O dinheiro veio na medida em que necessitávamos dele, e ele acabou vindo de justa medida. Ficamos por um longo período sem produção cinematográfica no Brasil, que foi retomada a partir da década de 2000. A partir de então, o cinema brasileiro cresceu em termos de produção e em exibição de filmes. Acredito que por todos esses fatores, o país está ganhando corpo de indústria cinematográfica, mas ainda há um longo caminho a percorrer para que tenhamos mais e melhores produções audiovisuais em todos os gêneros. Acredito que daqui a alguns anos, teremos uma pujante produção cinematográfica espírita.

Cineasta espírita
André Marouço é nascido em São Paulo, em 1970. É jornalista, cineasta e radialista com mais de 20 anos de experiência, tendo passado pelas TVs Cultura, Globo e SBT. Entre outros trabalhos, destacam-se sua participação como produtor executivo e idealizador ao lado de Eduardo Dubal e Silvana Scarpino da I Mostra Mundo Maior de Cinema e do Projeto Mundo Maior de Cinema; diretor e roteirista dos documentários Sacramento Natureza e História (2005 / Versátil), Terceira Revelação – A Morte não Existe (2005 / Mundo Maior Filmes) e 60 Anos Transformando Vidas (2009 / Mundo Maior Filmes); diretor de fotografia dos documentários Um Lugar Chamado Lar (1999 / TV Cultura), A Riqueza do Lixo (2000 / TV Cultura) e A Cidade e a Criança (2000 / TV Cultura). Além de diretor geral da obra, André é o roteirista de ‘O Filme dos Espíritos’.

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