Livro explora o papel do professor a partir do conceito de conscientização histórica - Por Luis Fernando Cerri


Ensino de História e Consciência Histórica



A  FGV Editora lançou o livro "Ensino de História e Consciência Histórica: Implicações didáticas de uma discussão contemporânea", de Luis Fernando Cerri, professor de prática de ensino no Departamento de História da Universidade Estadual de nota Grossa (UEPG). 


Além da introdução e das considerações finais, "Ensino de História e Consciência Histórica" encontra-se dividido em três capítulos. No primeiro, intitulado "O que é a consciência histórica", o objetivo, segundo o próprio autor é "recompor e procurar alinhavar a contribuição de diferentes autores, originários de diferentes lugares, tanto físicos quanto epistemológicos, visando uma maior sistematização sobre a "consciência histórica" e suas implicações sobre o fazer atual da história nos múltiplos espaços que ela ocupa". Pra isso, Cerri aprofunda-se no conceito de "consciência" de Karl Marx e, sem seguida, o leva para o contexto da história, através da leitura de filósofos/historiadores de peso como Raymond Aron, Hans-Georg Gadamer, Agnes Heller e, principalmente, Jörn Rüsen, sua principal referência ao longo do livro. Deste último, Cerri toma emprestada a definição de "consciência história": "a suma das operações mentais com as quais os homens interpretam sua experiência da evolução temporal de seu mundo e de si mesmos, de forma tal que possam orientar, intencionalmente, sua vida prática no tempo". Assim, a consciência histórica seria algo que existe independente da vontade dos homens, com um bem universalmente humano.

Já no capítulo 2, "Conscientização histórica?", Cerri desenvolve o "pensar historicamente" como uma competência inerente ao trabalho do professor, relacionada a construção da cidadania. Tal relação seria, no olhar do autor, uma das principais contribuições da história para a formação do aluno. E mais: esta perspectiva - que também pode ser tomada como uma reflexão - está associado com o conceito de "conscientização" do educador Paulo Freire. Freire afirmava que conscientização é o oposto de doutrinação. Está na base da construção de indivíduos autônomos, algo que pode ser mais ou menos desenvolvido. Ao conectar esses dois conceitos, Cerri politiza o trabalho do professor de história.

Por fim, o terceiro capítulo, chamado de "Consequenciais para a prática do profissional de história". Neste capítulo, o autor fala sobre o porque do ensinar história. Para responder a pergunta, são discutidas questões como política de identidades, racionalidade da história científica e experiências narrativas. No fechamento do livro, Cerri explica como o conceito de consciência histórica oferece para o ensino da história:

"Em primeiro lugar, afasta-se uma visão voluntarista e messiânica que, sob diferentes formas, proponha a 'conscientização histórica" dos "sem consciência" porque, como argumentamos, isso não existe: como todo navegam por suas vidas conduzidos pela correnteza do tempo, todos tem que definir instrumentos e projetos para navegá-lo, e esse procedimento básico de viver é a consciência histórica em ação. (…) Ensinar história considerando a consciência histórica é desenvolver atividades que permitam que o educando conheça a história - de preferência a história que, de forma mais aproximada, seja sua história - ao mesmo tempo que conhece diferentes formas pelas quais se lhe atribuiu sentido". 


"Ensino de história e consciência histórica" é um livro que interessa basicamente dois grupos: professores escolares e alunos que estão começando a graduação em história. Oferece um panorama elaborado sobre o ensino de história, embora quase sempre a ótica marxista predomine, o que acaba reduzindo algumas discussões importantes. No mais, Cerri consegue realizar uma conexão entre os campos da teoria da história e do ensino da história, algo que é bastante comum em países com tradição na filosofia da história, como a Alemanha. Essa articulação demonstra que o passado é móvel, fluido, frágil. E que é justamente essa fluidez que provoca deslizamentos também na aprendizagem e no ensino. Está ainda no cerne de nossas projeções e de nossa identidades, individuais ou coletivas. Como o próprio autor coloca, "quem acreditamos que somos depende de quem acreditamos que fomos". O passado, neste sentido, é a pedra basilar que norteia nossa aço no mundo.

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