Sexto centenário do nascimento de Joana d'Arc entra nos discursos eleitorais na França Por Luiz Felipe Alencastro


  • Michel Euler/AFP
    Nicolas Sarkozy visita a casa onde Joana d'Arc teria nascido, em Domrémy-La-Pucelle, no leste da França
    Nicolas Sarkozy visita a casa onde Joana d'Arc teria nascido, em Domrémy-La-Pucelle, no leste da França
As celebrações do sexto centenário do nascimento de Joana d’Arc ganharam um significado particular na França, por conta da disputa eleitoral. 
A 107 dias do primeiro turno das eleições francesas, a visita do presidente Nicolas Sarkozy à casa onde nasceu Joana no dia 6 de janeiro, teve repercussões diretas no debate sobre as presidenciais.
Num discurso caprichado, o presidente Sarkozy atualizou o perfil de Joana D’Arc, ilustrando a vida da santa guerreira como um exemplo de patriotismo desprovido de hostilidade contra os estrangeiros. “Para a Igreja, Joana é uma santa. Para a República [francesa], Joana é a encarnação das mais belas virtudes francesas,... do patriotismo que é o amor visceral de seu país sem o ódio dos outros”.
A maioria dos observadores interpretou o discurso como um ataque à propaganda de Marina Le Pen, candidata do Front National nas eleições presidenciais de abril. Arregimentando os setores contrários ao euro, à União Europeia e de extrema-direita, o Front National, fundado e dirigido até recentemente por Jean-Marie Le Pen, pai da atual candidata, assombra as eleições francesas há décadas.
Um dia depois do discurso de Sarkozy em Domrémy, cidade natal de Joana d’Arc, ocorreu a manifestação pública promovida por Jean-Marie Le Pen. Em companhia de sua filha e de seus correligionários, o fundador do Front National discursou na frente da estátua da heroína, numa praça parisiense, reafirmando suas convicções. 
Para ele, Joana d’Arc não pode ser homenageada pelos partidos que “entregaram a França ao Europeísmo e à globalização e que querem dissolver o país numa Europa Federal... e que organizaram uma imigração maciça, desrespeitando os princípios pelos quais Joana agiu e morreu”. Le Pen não citou diretamente Sarkozy, mas seu discurso apareceu como uma resposta ao presidente francês.

Mitterrand


Joana d’Arc é uma heroína nacional francesa e santa venerada em comunidades católicas do mundo inteiro. Camponesa líder da luta contra as tropas ocupantes inglesas e seus aliados franceses na guerra dos Cem Anos (1337-1453), comandante vitoriosa na batalha de Orléans aos 17 anos, sentenciada como herética por tribunal eclesiástico e queimada na praça pública de Ruão em 1431, aos 19 anos. Sua personalidade marcou a imaginação de muitas gerações em muitos países.
A tradição da esquerda laica e popular francesa é honrar Joana d’Arc como uma líder camponesa, pobre e patriota que lutou contra poderosos aristocratas, que foi atraiçoada por eles e assassinada pelo alto clero católico. Mas o candidato do Partido Socialista, François Hollande, deixou de lado esta tradição.
Assegurado até agora pela preferência dos eleitores – as últimas pesquisas indicam que ele venceria Sarkozy por uma larga margem de votos no segundo turno das presidenciais no mês de maio – François Hollande procura evitar polêmicas que dividam o eleitorado francês. Desta forma, ele preferiu não se manifestar sobre a visita  de Sarkozy à Domrémy ou sobre o discurso de Le Pen.
Seu gesto simbólico foi reservado a François Mitterrand, ex-presidente socialista da França (1981-1988 e 1988-1995), falecido em 8 de janeiro de 1996. Em visita ao túmulo do ex-presidente, no 16° aniversário de sua morte, François Hollande saudou Mitterrand como o “dirigente clarividente”, “o chefe de Estado respeitado”, “o Europeu decidido” e o “homem de cultura”. 

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