Governador assina decreto de perdão oficial pelo Quebra de 1912


Durante toda a tarde da quarta-feira (1º), casas de candomblé e grupos culturais de origem africana tomaram as ruas do Centro de Maceió. Eles seguiram em cortejo da Praça Dom Pedro II até a Praça dos Martírios, onde o governador Teotonio Vilela Filho assinou o pedido oficial de perdão, em nome da sociedade alagoana, pelo episódio conhecido como Quebra de Xangô, ocorrido em 1912. 
Na ocasião, a milícia armada conhecida como Liga dos Combatentes invadiu, destruiu e submeteu religiosos de matriz africana à violência e humilhação pública. Batizado de Xangô Rezado Alto, o evento da quarta-feira foi promovido pela Universidade Estadual de Alagoas (Uneal), no dia em que é lembrado o centenário do Quebra.
Após a passagem e revista às tropas ao lado do reitor da Uneal, Jairo Campos, e da Mãe Mirian, vice-presidente da Federação Zeladora das Religiões Afro-Brasileiras em Alagoas, o governador Teotonio Vilela, secretários de Estado e representantes das casas de candomblé formaram a frente de honra do evento.
Em seu discurso, Teotonio saudou os alagoanos de todas as matrizes culturais, e afirmou que o momento era para reconhecer os horrores praticados contra estas religiões afros há exatos 100 anos.
“Naquele momento, o Estado falhou em garantir os mais básicos direitos aos seus cidadãos, como a liberdade de culto. Neste episódio, a primeira a sofrer foi Tia Marcelina, idosa, vítima de um golpe de sabre na cabeça. Com o Quebra, nossa própria identidade perdeu parte de seu brilho, das práticas culturais, dos celeiros de cidadania e vida comunitária que os terreiros representam. 
O Quebra nos empobreceu culturalmente. Muito me orgulha, na condição de governador do Estado, junto com a Uneal, passar a limpo a história. Este ato de violência trouxe inquestionável prejuízo para toda o povo alagoano, em nome do qual peço perdão neste momento. Precisamos revisitar a história para não repetir erros históricos, rumo a uma sociedade realmente democrática, igualitária e inclusiva. Perdoar, mas nunca esquecer”, disse o governador.
Em seu discurso, Jairo Campos afirmou que após décadas de perseguição e de xangô rezado baixo, Alagoas finalmente pode celebrar a diversidade e a liberdade do xangô rezado alto. “E que os tambores não calem mais”, afirmou.
Para Mãe Mirian, matriarca das religiões de matriz africana em Alagoas, o governador Teotonio Vilela Filho é um homem digno de aplauso. “Quero agradecer e parabenizar ao governador e a todo seu secretariado pela coragem e dignidade em promover este ato”, falou.
A secretária de Estado da Mulher, da Cidadania e dos Direitos Humanos, Kátia Born, destacou em seu discurso o fato de o cuidado com as comunidades quilombolas e as religiões de origem africana estar incluso em projetos do Alagoas Tem Pressa.
“Hoje, o governador do Estado pede desculpas publicamente, através de um decreto governamental que protegerá cada terreiro em Alagoas, para que não sejam invadidos nunca mais”, disse a secretária.
Respeito

Durante o cortejo no Centro de Maceió, o religioso Adeilson Alexandre, da Casa de Candomblé Ylê Axé Posu Beta, expressou seu sentimento em relação à memória da data, e ao pedido oficial de perdão assinado pelo governador Teotonio Vilela Filho, cem anos depois. “Este é um momento único de respeito com as casas de axé, simpatizantes das casas, e ao movimento negro como um todo em Alagoas. Nossos atabaques não devem calar, mas tocar alto, na celebração e na alegria”, falou.

As apresentações culturais que marcam a data continuam nesta quinta-feira (2), na Praça dos Martírios, com uma programação que conta com apresentações de grupos de afoxé, maracatu, hip-hop, reggae e outras manifestações populares de origem afro-brasileira.
por Agência Alagoas - http://aquiacontece.com.br

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