Não deixemos nos reduzir a véus, sotaques ou crenças - Por *Marguerite Abouet, Mehdi Thomas Allal, Sophia Aram, Yagoutha Belgacem, Frédéric Chau, Baya Kasmi, Karim Miské, Rosa Moussaoui, Yannick Noah*


Nós, que somos filhos herdeiros da imigração, perguntamos: quantas vezes será preciso gritar? Quantas vezes será preciso repetir? Somos franceses! Não podemos mais suportar que certos representantes desta República nos ataquem, nos constranjam, nos humilhem, nos acusem...

Como aceitar o fato de que os ministros desta República laica se recusam a entender que a religião é uma escolha, não um nascimento ou uma cor de pele, que a religião é um assunto particular, e não público.  Está na hora de certos representantes do povo francês pararem de dar lições a seus compatriotas, de semear confusão entre “civilização” e “política”, “cultura” e “cidadania”, indo além do sentido das palavras de nossa língua francesa, como a complexidade da história, e a diferença entre as ideias e os povos, e o mesmo tanto de aproximações que parecem haver lá para mascarar a indizível noção de “raça”...

A civilização francesa não pertence a nossos representantes atuais mais do que a nós todos! Nós, filhos da imigração, franceses entre os franceses, nos recusamos a continuar sendo acusados, usados, caricaturados para incutir medo e ódio. Ontem, foram os espanhóis, os portugueses, os italianos, os judeus. Hoje, a cada dia infunde-se mais medo do muçulmano, e já se começam a ver acusações aos chineses, aos romenos...

Apesar de nossas diferenças, apesar de sermos uma multidão e apesar de nossa diversidade, vamos lhes mostrar que somos unidos. Mostremos-lhes que somos como os outros. Somos cidadãos franceses.

Não temos intenção de invadir ou de dominar, estamos aqui do jeito que estamos. Estamos em casa. Não somos vítimas, apesar da discriminação na hora de procurar emprego, apesar das prisões só com base na aparência, apesar da violência das declarações repetidas continuamente pelos ministros da Imigração há cinco anos.

Não somos vítimas, não somos revanchistas. E embora uma minoria de franceses nos aponte como estrangeiros, sabemos que grande parte dos franceses há muito tempo nos considera como um deles. Devemos lutar para assumir nosso lugar. Nossos lugares na República, nossos lugares no centro da Assembleia Nacional, dos partidos políticos. Porque essas três palavras “Liberdade, Igualdade, Fraternidade” devem ter o mesmo sentido para todos os franceses!

Não deixemos nos reduzir a véus, sotaques ou crenças! Eles nos rejeitam, não vamos nos afastar! Esse assédio moral em relação aos “muçulmanos”, à “gentalha”, aos “malandros” que somos, ataca o sistema nervoso. É preciso vivê-lo para entender! Ele penetra em todos os poros da pele, causa vontade de “você não gosta de mim? bem, também não gosto de você!”, vontade de assobiar o hino nacional, vontade de paranoia e de amargor, vontade de voltar às origens...Não vamos lhes dar esse prazer.
 

Nossos pais trilharam o caminho, vieram de todas as partes do mundo e se estabeleceram aqui. Somos daqui e aqui vamos ficar. Não nos esqueceremos de onde viemos, não precisamos renegar nossa história para entrar na história da França. Nós somos franceses. A bandeira francesa é nossa. O hino nacional é nosso! A laicidade é nossa! Vamos nos unir em toda a França, independentemente de nossas origens, todos juntos e igualmente franceses! Vamos agitar o azul, o branco e o vermelho acima de nossas cores e vamos lhes mostrar nossos títulos de eleitores. Estamos em casa!
* Marguerite Abouet é escritora; Mehdi Thomas Allal é conselheiro pedagógico; Sophia Aram é humorista; Yagoutha Belgacem é diretora da Plataforma Siwa, membro do Manifesto das Liberdades; Frédéric Chau é ator; Baya Kasmi é roteirista; Karim Miské é cineasta; Rosa Moussaoui é jornalista; Yannick Noah é cantor.

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